SEVENTEEN: dirty little secret

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   — O quê? – forcei uma expressão de incredulidade. — Eu quebrei o nariz dele porque ele criticou o meu set shot¹. – revirei os olhos, claramente mentindo. Não queria dizer à Samantha o que ele realmente tinha dito sobre Ashley, ou sobre ela.

   — Dean... – seu tom era de pura repreensão. Seu olhar era analítico e eu não gostava nem um pouco de quando ela me olhava daquele jeito.

   — OK. – joguei as mãos para o alto num gesto de rendição. — Claro que ele não criticou meu set shot, até porque sou incrível nisso. – dei uma risada, tentando mais uma vez desviar do assunto – sem sucesso. — Mas, Samantha, você precisa acreditar quando digo que existem coisas que você não precisa saber. – tentei aproximar minha mão da sua, mas ela a afastou. Sua feição continuou imutável, e eu temi os próximos segundos.

   — Como sobre quem me beijou naquela festa? – falou rápido, e o fato de me pegar totalmente desprevenido ajudou em meu choque momentâneo. — Ou sobre o segredo que você tem mantido com a Ashley? – frisei os lábios, desconfortável com aquele assunto vindo à tona assim como estava muito claro que acabaria vindo. Ela deu uma risada amarga. — Sabe, você pode ter esquecido disso por algum motivo desconhecido por mim, mas eu não sou uma criança, Dean. – suas palavras saíram firmes, sem a menor hesitação. Foi impossível não acreditar nelas e me sentir culpado por, sim, tratá-la com tamanho cuidado. — Seria ótimo se você parasse de me tratar como tal. Pode não parecer, mas eu não sou uma boneca de porcelana. – desceu da bancada e ajeitou o vestido, quase como se quisesse provar o ponto. Também fez questão de olhar fundo nos meus olhos quando concluiu: — Eu não vou quebrar.

   Fiquei estático por alguns segundos, mesmo quando ela se virou e saiu do cômodo, me deixando a sós com meus pensamentos e as maçãs carameladas.

   Apesar de seu discurso, Samantha não parecia brava quando voltei a procurá-la, mas meu momento solitário enquanto finalizava a torta me rendeu bons pontos de interrogação sem respostas. Eu sabia, claro, que ela não havia mentido em nenhum momento, e todas as suas palavras vinham de uma raiva justificável. Também sabia que Sam odiava ser deixada de fora sobre coisas que lhe interessavam, e não haviam mais dúvidas sobre aquele ponto: o beijo do “desconhecido” lhe interessava. Mas, mesmo com várias setas em todos os lugares para onde eu olhava apontando em letras garrafais “CONTE A VERDADE”, algo me impedia de fazê-lo, como uma trava de segurança. Ou de puro receio – talvez até de covardia, visto que eu me sentia como um ultimamente.

   Era, no mínimo, curioso como eu sempre tive determinação, tratando-se de – entre outras coisas – garotas. Sempre foi muito simples para mim, mesmo com Mackenzie, que conseguiu me intimidar de maneiras nunca experimentadas antes, fui decisivo. Talvez minha querida ex-namorada tenha destruído minha autoconfiança, o que não fazia tanto sentido pois ela só parecia abalada quando o assunto era Samantha Wilson, minha melhor amiga, e isso podia muito bem se dar ao fato de eu não ser unicamente apaixonado por ela, mas por ela jamais sentir vontade de iniciar uma relação de cunho romântico com ninguém.

   Afinal, por que ela mudaria por mim? Sequer deveria. Eu a amo, amo cada pequena peça de seu quebra-cabeça interminável. O quão hipócrita e esquisito seria se eu a pedisse para mudar? Eu a amo. Aquilo deveria ser o suficiente, mas talvez – e apenas talvez – não fosse.

   Estava se tornando cada vez mais difícil  administrar todos aqueles sentimentos e sensações, juntamente com aquele segredo insuportável. Àquela altura já estava claro que eu não estava me saindo bem na resolução, pois sabia das desconfianças de Samantha. Manter nossa amizade intocada de meus pensamentos deturpados estava sendo uma missão impossível, e eu não tinha a menor certeza sobre até onde mais conseguiria ir. Não muito longe, aquilo era certo.

   Naquele dia, eu voltei para casa enquanto a noite caía, dando passos de tartaruga enquanto sentia o ar frio congelar a ponta do meu nariz. Aquela seria uma boa imagem; comigo andando com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans e o cabelo totalmente desgrenhado, combinando perfeitamente com as ideias dentro de minha cabeça. A verdade é que eu não deveria estar tão preocupado quanto estava, afinal, era uma decisão bem simples; Samantha não queria se envolver com ninguém, principalmente do jeito que eu desesperadamente ansiava, então, o que mais fazer além de seguir em frente? Tão simples em teoria. Mas se tornava muito mais complicado se levasse em consideração uma coisa: eu sequer tinha tomado essa decisão, encarado o fato de que eu precisava superar, então, como eu começaria a fazê-lo? Como o faria, depois de como nos tocamos naquela madrugada de sábado, como nos olhamos naquela manhã de terça, na porta daquele banheiro de luz oscilante.

   Como infernos seguiria em frente?

   Parecia um dos poucos questionamentos que não era possível encontrar a resposta no Google, ou num manual antiquado, ou em qualquer outro lugar. Parecia algo que, se eu não fizesse por mim, ninguém mais faria. Mas também parecia outra missão estupidamente impossível. Uma missão que meu coração se recusava a cumprir. E eu não podia convencê-lo, não quando, além dele, toda partícula constituinte de meu ser queria o mesmo; queria Samantha.

   E aquele querer era de um tipo que não se passa por cima. Um tipo que não se supera.

Espero que tenha gostado,

Nos vemos no 18° capítulo!

   ¹.: No basquete, essa jogada constitui em um arremesso sem pulo ou salto.

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