TWO: talking in codes

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Samantha Wilson

   Eu encarava aquela composição gosmenta que chamavam de comida – de presídio, só se for –, um tanto quanto enojada. Definitivamente, eu não ia colocar aquilo na minha boca. Murchei ao lembrar que tinha deixado meu lanche em casa, como quase sempre fazia.

   — Eu esqueci... – Dean interrompeu minha fala, me entregando uma bolsinha descartável. Dentro dela, tinha um sanduíche bem embalado e uma garrafa de suco. Abri e tomei um gole; era de maçã, meu favorito. Ele tinha um sorriso convencido nos lábios. — Você é o melhor. – afirmei, mordendo o sanduíche que meu melhor amigo tinha preparado pela noite. Eu ajudei, teoricamente, se ficar sentada na bancada fofocando sobre garotas significava ajudar.

   — Eu sei, borboletinha. – gargalhou quando eu lhe dei um tapa por causa do apelido. — Eu conheço minha melhor amiga o suficiente para saber que ela é esquecida e extremamente fresca. – me cutucou, e eu respondi mostrando a língua. — A comida daqui nem é tão ruim, Sam. O mingau é um dos melhores. – concluiu, levando uma colher cheia daquilo até a boca.

   — Isso não merece nem ser chamado de comida, Dean. – afastei a bandeja, querendo distância daquela coisa que poderia transformar-se em um monstro a qualquer momento. Eu conseguia até visualizar ele tomando forma e criando garras e presas.

   — Dá pra parar de imaginar a comida se transformando num monstro? – Dean pediu com um sorriso torto no rosto. Em outros tempos, eu ficaria assustada com sua leitura impecável dos meus pensamentos, mas não àquela altura.

   — Como você pode me conhecer tão bem? – perguntei, falsamente abismada, e ele fingiu pensar, mas antes que pudesse responder, Ashley invadiu a mesa, agarrada ao seu mais novo cãozinho de estimação.

   — Gente, esse aqui é o Jake, eu falei dele pra vocês, lembram? – Jake... Até nome de cachorro tem. Sorri maldosa com o pensamento e, quando Dean olhou para mim, seu sorriso era idêntico, e eu percebi que estávamos pensando o mesmo.

   — Na verdade, eu não lembr... – belisquei sua coxa a tempo de evitar qualquer besteira que ele pudesse proferir e deixar Ashley espumando de irritação.

   — Claro que lembramos! – abro um sorriso falso enquanto Dean resmungava de dor. — É o novo amigo da Ash, né? – sorri amarelo, nunca sabendo como nomear os “namorados” de Ashley, mas ele retribuiu o sorriso, o que me deixou aliviada. Pelo menos, se estava incomodado, não aparentava.

   Sentaram-se na mesa, acomodando-se. Essa era a pior parte: ser obrigada a conversar com os garotos que Ashley ficava. Eu odiava lidar com pessoas novas, mas esse ódio era elevado quando a pessoa com quem eu teria que lidar era um saco de músculos egocêntrico – o padrão de minha melhor amiga raramente variava, de acordo com ela, porque os estúpidos eram mais fáceis de colocar na coleira. A voz de Jake era irritante, e eu tentava ao máximo não fazer careta enquanto ele falava algo sobre futebol. Senti uma respiração quente se aproximar de meu pescoço.

   — Seria legal você parar de fazer careta como se ele fosse o cara mais idiota com quem você já conversou. – sussurrou Dean, segurando a risada.

   — Ele, definitivamente, está entre o top 10... – murmurei para o meu melhor amigo, que soltou um riso abafado. Mas ele logo ficou sério, e eu pude ver uma menina se aproximando da mesa.

   — Oi, Dean... – mordeu o lábio inferior, na intenção não muito bem sucedida de parecer sensual. Ela pousou a mão cheia de unhas grandes e vermelhas na mesa, esperando ser convidada a sentar-se. Não pude evitar de revirar os olhos. Um pretendente tudo bem, mas dois? No mesmo dia? Meus amigos precisavam expandir seus públicos alvos.

Just Friends (HIATUS)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora