SEVENTEEN: dirty little secret

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   Com aquilo em mente, reprimi o meu desejo de me aventurar por de baixo da saia curtíssima e procurei por um recipiente com porções de açúcar atrás de sua estatura e voltei ao lugar de antes, adicionando uma colher na substância caramelizada, mesmo sentindo os olhos clínicos de minha melhor amiga em meu rosto, provavelmente incrédulos. Não demorou muito para que ela pigarreasse e endireitasse a postura, parecendo quase desconfortável.

   — Preciso ligar para a Ashley. Ela nos mataria se soubesse que estamos fazendo torta de maçã e ninguém a chamou. – ela disse, tentando aparentar uma tranquilidade que visivelmente não condizia com seu estado. — Me empresta seu celular? O meu está no andar de cima. – voltei a me aproximar, dessa vez para que suas mãos alcançassem o objeto no meu bolso da frente. Sam se inclinou em minha direção, mas evitei encarar seu rosto, porque meu autocontrole parecia limitado e ele certamente se esgotaria quando eu encarasse seus lábios vermelhos ou suas bochechas coradas, até que ela finalmente enfiou os dedos em meu bolso e puxou o celular.

   Enquanto digitava a mensagem calmamente, foquei meus olhos em sua imagem e parei o que estava fazendo antes. Me peguei pensando no que Samantha faria se eu largasse a colher em minha mão e a puxasse para mim na mesma intensidade que puxei naquela festa, sem uma venda para mascarar meu segredinho sujo. A maior probabilidade era dela parecer uma garotinha assustada no exato momento em que eu a tocasse da maneira que eu queria, de uma maneira nada delicada, mas com a mesma devoção de sempre. Ou era o que sempre imaginei – certo de que era o que aconteceria – e, no entanto, desde aquele pequeno instante na porta do banheiro, aquele pequeno instante em que a vi ceder, em que a vi reagir ao meu toque com desejo, não consigo parar de questionar a mim mesmo. O que ela faria?

   Samantha subiu os olhos da tela com um sorrisinho, mas paralisou assim que me pegou encarando-a. Diferente do que esperava, ela não zombou ou desviou o olhar, apenas mantendo-o, na mesma petulância de antes. Talvez eu estivesse mesmo me afogando e deixando levar pelas minhas próprias ideias distorcidas, mas desde o primeiro dia que se seguiu após o final de semana da festa, desde a primeira vez que coloquei os olhos naquela garota com o cabelo escuro totalmente amarrado no topo de sua cabeça, que mexia em seu armário distraída, eu soube que algo tinha mudado. E agora, com seus grandes olhos azuis fixos nos meus, eu tinha quase certeza de que estava certo.

   — Ashley mandou guardarmos pra ela, pois ela está ocupada. – fez aspas com os dedos e me entregou o celular. — Não acha estranho?

   — O quê? – alcancei o objeto e guardei em meu bolso, voltando a atenção à mistura de maçã.

   — Ela está sempre ocupada, mas não lembro da última vez em que nos apresentou algum garoto. – inclinou a cabeça e eu abri um sorriso. Se Ashley andava ocupada com alguma coisa, certamente era com um garoto específico, ou melhor; com seus sentimentos recém-descobertos, já que ela sempre jurou que não os tinha. — Acha que tem relação ao Steve? – perguntou finalmente, parecendo realmente curiosa.

   — Eu tenho certeza, borboletinha. Ela não tinha bolado um plano maléfico de conquistar ele ou algo parecido? – foi a minha vez de questionar, algo que a própria Samantha havia dito sobre. Para mim, aquilo era uma desculpa para que ela pudesse se aproximar dele sem levantar suspeitas de real interesse. Uma desculpa para si mesma, óbvio, porque Ashley não costuma se importar com o que os outros pensam. Isso me fez lembrar de Hayden e toda a merda que ele disse pela manhã e senti um gosto amargo tomar conta de meu paladar.

   — Foi sobre isso que o tal do Hayden falou que te deixou tão irritado ao ponto de quebrar o nariz dele? – Sam me olhou preocupada, mas seu semblante ainda estava calmo. Franzi o cenho, me perguntando como ela podia me conhecer tão bem e, ainda assim, deixar tanta coisa passar despercebida.

Just Friends (HIATUS)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora