Quando seu "com quem será?" não foi comigo

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No final de semana, Adele começou a entrar em desespero. Ela havia separado uma roupa no dia anterior, decidido cabelo e maquiagem, e acordado cedo para garantir que teria tempo para se arrumar. Ainda assim, não conseguia levantar da cama. Desde que Carla a havia convidado pro aniversário, as duas mal se falaram, exceto sobre assuntos da faculdade. "Talvez," pensou Adele, "ela não queira mais a minha presença."

Então, o plano de Adele era encarar o teto até que Carla mandasse uma mensagem perguntando se ela viria, mas quando ficou claro que isso não iria acontecer, ela chegou num beco sem saída. Claro que, sendo racional, Adele sabia que a garota devia estar apenas sobrecarregada, preparando as coisas pra festa e recebendo várias ligações e mensagens de texto. Não era nada pessoal.

Adele respirou fundo e digitou "Feliz aniversário, Lalá" antes de sair do aplicativo, fechar o celular e arremessá-lo pra longe. Menos de um minuto depois, chegou uma nova notificação.

"Lalá, hein? Não escuto isso há anos," respondeu Carla com um sticker bobo. Ela logo acrescentou, "Você vai aparecer hoje?". Ótimo, era tudo que Adele precisava. Na mesma hora, a garota se levantou da cama e levou a roupa até o banheiro enquanto digitava "Talvez, mas, de qualquer forma, aproveite o dia". Um pouco de suspense não faria mal.

Após tomar um banho, arrumar o cabelo, passar a maquiagem e se vestir, Adele finalmente estava pronta pra fazer cera até ser a hora apropriada de sair de casa, ou seja, no ápice da festa. Ela resolveu entrar no Instagram e, ao se deparar com vários stories de Carla com os amigos e a namorada, ficou insegura de novo sobre aparecer.

Seu celular tocou na mesma hora. Para a sua surpresa, era Carla.

— Alô? — Ela atendeu, curiosa.

— Ei, Adele! — Carla parecia animada. Tinha bastante barulho ao fundo, então a festa já tinha começado — Você lembra de Lucas?

— Lucas? — Adele pensou em vários Lucas, mas nenhum que ela associava com Carla.

— Toquinho!

Agora tudo fazia sentido. Adele sorriu ao lembrar do garoto mirradinho com quem jogava bola. Ele não conseguiu se livrar do apelido mesmo quando já não era mais o menino mais baixo da rua.

— Ah! Eu esqueci que ele se chamava Lucas. Ninguém nunca chamava ele assim.

— Ele tá aqui. Ele e Miguel, na verdade. E Helena. Tu lembra de Helena, né?

— Lembro sim. Não sabia que tu ainda era próxima do povo do bairro.

Adele sentia falta deles. Ela perdeu contato com a maioria depois que se mudou, três anos antes.

— Bom, eu ainda moro aqui — Carla brincou, mas aquilo doeu um pouquinho em Adele, como um lembrete — Eles querem te ver. O que eu digo?

Adele pensou um pouco. Não seria tão ruim sabendo que haveriam conhecidos. Ela queria retomar o contato mesmo, e já estava arrumada.

— Diz que eu tô indo aí agora.

— É? — Talvez fosse forçar demais, mas Adele jurou notar um sorriso na voz de Carla — Então melhor correr porque tão acabando com a bebida.

— Vem logo, Dedé! — Gritou Toquinho perto do celular, fazendo com que as duas dessem uma risada.

Dedé foi uma tentativa péssima de apelidar Adele da mesma maneira que tinham apelidado Carla. Não colou, mas eles a chamavam assim sempre que queriam implicar com ela.

— Até logo — Ela respondeu antes de desligar.

A festa era justamente no antigo bairro de Adele. Andar por lá era nostálgico. Ela sentia como se nunca tivesse ido embora de verdade. Dada a chance, Adele provavelmente voltaria. Era tão prático saber exatamente onde conseguir os melhores lanches, como chegar na casa dos amigos, onde dar uns pegas às escondidas. Agora a sua casa era de outra família, quase totalmente reformada e irreconhecível.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now