Quando você se escondeu no armário

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Era o meio do inverno, e também dos jogos escolares estaduais, quando Adele e Carla se beijaram atrás das arquibancadas no nono ano. Depois daquilo, as coisas haviam ficado meio esquisitas entre as duas. Elas não se olhavam nos olhos, o papo era curto e em grupo mal interagiam. Talvez fosse uma reação normal após cair aos beijos com a sua melhor amiga pela primeira vez. Bom, "primeira vez" sugeria que viriam outras vezes. Ou ao menos, revelava o desejo por mais.

Adele não conseguia dormir. Havia um nó em sua barriga que simplesmente não queria ir embora. Seja por causa do nervosismo com os jogos, ou porque as coisas estavam estranhas entre ela e Carla, o sono simplesmente não vinha. Por isso, ela estava bem desperta quando seu celular vibrou com uma mensagem de texto.

"Abre a janela," pediu Carla, e Adele obedeceu. Essa era a vantagem de morarem na mesma rua, ao menos na época. Era ainda mais vantajoso que o muro fosse baixo e que a casa dela não tivesse primeiro andar. Em menos de um minuto, Carla estava em sua cama e elas estavam encarando o teto.

— Nervosa com o jogo de amanhã? — Carla quebrou o silêncio, cutucando o rosto de Adele até que ela a segurasse pelo pulso.

— Só ansiosa pra ganhar — A loira assumiu seu falso ar de confiança e presunção de sempre, sabendo que Carla enxergava através dele.

— Você mente muito mal — Ela soltou o pulso das mãos de Adele e puxou o cabelo da amiga de leve — Aliás, eu vim me desculpar.

— Finalmente vai se desculpar por comer meu lanche e copiar meu dever de casa em todas as oportunidades? — Adele brincou, sabendo que não era sobre isso.

Carla revirou os olhos.

— Vê... Desculpa por ter agido estranho essa semana. Não foi por tua causa.

Adele inspirou fundo e expirou aliviada. O nó em sua barriga diminuiu um pouco, mas deu lugar a calafrios. Os dedos de Carla afastavam mechas do rosto dela, e Adele podia sentir cada toque com uma hipersensibilidade que a fazia contrair. Ela fechou os olhos.

— Minha mãe me deixou de castigo por causa da bebida que eu peguei e eu fiquei com vergonha, só isso. Não se preocupa com o beijo. Foi só um beijo — Carla continuou.

Adele mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça.

— Eu imaginei. Que bom, então. Eu sei que foi só um treino.

Carla deu uma risadinha e parou de acariciar o rosto da amiga.

— Que cara é essa, hein? Gostou tanto assim? — Ela deu um empurrão no ombro de Adele — Você é muito sapatão.

— Vai se lascar — Adele a empurrou de volta, com uma força que quase a fez cair da cama — Você é quem precisa admitir que gosta de mulher. Foi você quem me beijou, lembra?

Carla se levantou da cama e se fechou dentro do guarda-roupa. Adele, confusa e impaciente, atirou um dos travesseiros na direção em que ela estava.

— Sai daí.

— Não posso — Carla choramingou de mentirinha — Eu tenho que ficar dentro do armário, não é?

Por um segundo, houve silêncio, e Carla sufocou uma risadinha. Então, as portas do guarda-roupa foram abertas num movimento brusco. Adele a encarou séria antes de puxá-la para fora pela camisa, sem muito esforço. Agora que as duas estavam descalças e em pé de frente uma pra outra, a diferença de altura era mais óbvia. Carla tinha que levantar a cabeça para conseguir olhar Adele nos olhos.

— Foi uma piada — Carla ergueu as mãos, sentindo o coração acelerar. Ela ficou ainda mais confusa quando Adele começou a rir.

— Vem cá.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now