Epílogo

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Três anos se passaram depressa. O primeiro encontro levou ao segundo, que levou ao vigésimo, que levou a morarem juntas no último ano da faculdade. Elas adotaram um gato pouco depois. Adele às vezes engasgava de rir notando as semelhanças entre Carla e ele. Especialmente a forma que eles exigiam atenção quando Adele precisava trabalhar.

Quando elas se formaram, Carla arranjou um emprego que pagava tão bem que elas puderam se mudar para um lugar maior. Adotaram mais um gato, porque acharam que Amendoim estava solitário.

O aniversário de três anos de namoro estava se aproximando. Elas nunca mais tiveram grandes brigas, apenas discussões insignificantes sobre quem deveria lavar a louça ou debates acalorados sobre qual das duas era melhor em alguma coisa. No geral, a vida doméstica era pacífica. Haviam dificuldades quando Carla tinha um ataque de pânico ou acordava de um pesadelo, mas elas iam superando juntas.

Carla amarrou o cabelo — que já quase alcançava a cintura novamente — e bateu na porta do quarto para Adele se apressar. Não queriam deixar os amigos esperando.

Adele saiu do quarto pouco depois, levantando o cabelo para Carla ajudá-la com o fecho do colar. O mesmo que ainda carregava o pingente delas. Carla ajudou e beijou o ombro da namorada em seguida.

— Vamos. Tá todo mundo lá. — Ela disse quando Adele se virou e depositou um selinho pra viagem.

As duas chegaram na lanchonete combinada com poucos minutos de atraso. Julia, André e Sayuri já estavam em uma mesa e acenaram quando elas entraram. O cabelo de Julia estava tingido de outra cor, que provavelmente duraria um mês ou menos. Sayuri também havia mudado, com um corte chanel que a deixava mais madura, enquanto André agora exibia dreads. Adele era a que menos havia mudado o visual nos últimos anos, o que combinava perfeitamente com ela.

— Vocês já pediram alguma coisa? — Adele perguntou enquanto elas se sentavam.

— Ainda não. Estávamos esperando vocês. — Respondeu André.

— Luana vem ou podemos pedir agora? — Sayuri perguntou para Carla, que checou o celular antes de responder.

— Ela disse que tá a caminho. Sofia vem junto.

Sofia era a nova namorada de Luana, a quem eles ainda estavam se acostumando, mas parecia ser um amor de pessoa. Carla não tinha grandes expectativas de que ela e Luana pudessem voltar a ser amigas, porém se surpreendeu mais ainda quando Luana e Sayuri praticamente montaram um clubinho. As duas gostavam de falar sobre Won Kar Wai, filosofia e um monte de coisas que Carla e Adele apenas acenavam com a cabeça sem compreender.

— Eu trouxe a cópia que ela me emprestou de Anna Karenina pra devolver. — Sayuri disse com entusiasmo.

— Vocês são uma amizade improvável. — Comentou André. — Na verdade, a mesa inteira é.

— Qual é, André? A coisa mais normal entre LGBT não é um grupo de amigos onde todo mundo já se pegou em algum momento da vida? — Julia perguntou provocando uma risada geral. André cobriu o rosto com uma mão fingindo timidez e deu uma cotovelada de leve na garota.

Luana chegou apenas um instante depois, com um braço ao redor de Sofia. A mesa ficou um pouco apertada com sete pessoas, mas ninguém se importou.

— E aí, pessoal? Eu nunca vim aqui antes, mas Sofia disse no caminho que a comida é muito boa. — Disse Luana se ajustando entre a namorada e Sayuri. — O que vamos pedir?

— Sugiro fortemente o sanduíche da casa. — Contribuiu Sofia enquanto eles pegavam o menu.

Enquanto a comida não chegava, o grupo trocou novidades sobre as vidas deles. Julia tinha construído uma pequena comunidade online que começava a render frutos e compartilhou com eles uma proposta modesta de parceria. Sayuri tinha inesperadamente trocado de carreira no ano anterior e mudado de cidade, mas disse aos amigos que às vezes considerava voltar para ficar mais perto dos pais. André tentou convencer a mesa inteira a ir com ele pra algum festival de música que se aproximava e Luana estava estudando pra um concurso.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now