Capítulo 1

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_Diário de bordo_
[Dia 28 de Fevereiro de 1915]
[7 meses de guerra]

J U N G K O O K

Estávamos em período da Primeira Guerra Mundial, o ano é 1915 e eu, com apenas doze anos de idade, tinha acabado de perder os meus pais num bombardeio químico feito por um dos países inimigos.

Olhava para o horizonte cinzento e destruído, minha visão estava turva pelas lágrimas que insistiam em cair ao lembrar da cena de meus progenitores sufocando com a inalação da fumaça tóxica, enquanto colocavam em mim a única máscara de gás que tinham.

Corria sem direção entre os destroços caídos do chão, gritando por socorro e sentindo minha garganta ser rasgada a cada berro, procurava por ajuda ou por algum abrigo nos lugares que ainda permaneciam de pé após os bombardeios, mas todos os locais por ali eram perigosos.

Minha última refeição foi pouco mais de doze horas atrás, estava faminto e me sentia fraco a cada passo que dava, caminhando sem rumo pelo chão de mato seco e pouco cinzento, apenas indo atrás da sobrevivência.

Eu estava sozinho, tendo apenas como companhia os poucos cadáveres caídos no chão das pessoas que tentaram fugir no último bombardeio, mas não resistiram. Me lembro de como a minha vida era a poucos meses atrás antes dessa guerra começar, eu vim de uma família humilde, mas meus pais faziam de tudo para me ver feliz.

Meu pai era alemão e minha mãe coreana, nós todos passamos a viver juntos na Alemanha já que papai tinha um bom emprego aqui como armador de bombas. Todos os dias ele usava os poucos trocados que lhe restavam para comprar o meu doce favorito quando voltava de seu trabalho.

Já eu e a mamãe brincávamos o dia todo depois de minha escolinha, ela me enchia de beijinhos o tempo todo e sempre me deixava cheirosinho.

Mas... agora não terei mais nada disso, pois eles morreram... se foram para sempre na minha frente e eu não pude fazer nada.

As lágrimas voltaram a cair e eu continuei a me rastejar, não de uma forma literal, pelo terreno sinistro a procura de alguém que pudesse me ajudar. De longe, meus olhos caíram sob um vilarejo bem humilde, podia ver pessoas por lá e fumaça escura saindo pelas chaminés dos pequenos barracos.

Usei meu último resquício de energia para correr até lá e chegar o mais rápido possível. Então, depois de uma correria cansativa, eu finalmente cheguei ao meu destino e olhei em volta do lugar. Mesmo tendo sinais de que a guerra também atingiu esse local no quesito da pobreza e da fome, ainda haviam alguns mercadores vendendo comida, como: pães, copos de leite e ovos.

Cheguei perto de um dos únicos mercadores e observei os pães que pareciam duros feito tijolos em cima de um carrinho de madeira. Estava com tanta fome que, contanto que fosse comestível, eu comeria até um bovino inteiro.

— Ora seu moleque descarado, está querendo roubar um de meus pães?? — questionou o homem rabugento de voz pigarreada. — Pois terá de pagar se quiser um!

— Por favor senhor, eu não quero roubar... — me encolhi perante o seu olhar dominante. — Eu estou faminto e acabei de perder meus pais, não tenho dinheiro.

— Mehh, esse truque não funciona comigo, seu ladrãozinho! Saia já daqui antes que eu tenha que expulsar você!

Me encolhi assustado quando o homem ergueu um pedaço de madeira que estava em sua mão numa clara ameaça, então como foi pedido, eu saí de lá.

Implorei um pouco de comida para outros mercadores, mas muitos me negaram, apenas um deles me deu um copo d'água pouco suja para beber, matando a sede que rasgava minha garganta, junto a um pequeno pedaço de pão que ajudou a forrar o estômago.

Diário de Bordo - jjk & pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora