O velho rascunho

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Ele se olha no espelho pela última vez. Seus olhos lagrimejam; cada lágrima que caí é como se um pedaço de si caísse também. Seu corpo está inquieto, mas dentro dele soltam-se faíscas de leveza e paz. 

─ Está preparado? 

A voz feminina fala na entrada da porta. Ele a reconhece e vira o rosto levemente soltando um sorriso iluminado.

─ Como nunca! 

Nath então sorri também com a resposta de seu novo amigo. E com um gesto feito com as mãos o chama para sair daquele pequeno cômodo. Ele então se despedi de seu antigo eu, sem nenhuma incerteza. Seus passos são tão leves que ele sente como se flutuasse, ─ estava ele sonhando? ─ e não caminhasse. Ele se junta aos outros que naquele fim de tarde deixariam o seu velho eu, e abririam mão da difícil caminhada solo, para andar a partir daquele instante ao lado D'aquele que nunca os deixaria. 

Seu coração pulsa forte ao ouvir o coro cantar "Foi na cruz" (Harpa Cristã 15). 

"Foi ali pela fé que os olhos abri, e agora me alegro em Sua Luz."

Ele caminha com confiança em direção das águas, um pequeno símbolo que para quem não compreende pode-se parecer um simples banho, mas, ele sabia que não era. 

Então, ele entra nas águas, seu corpo submerge naquelas águas. Agora, ele, não era mais um perdido. Ele havia entendido seu propósito e o que era sua vida.

"Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo." 2 Coríntios 5:17

Ele saí das águas e vê seus irmãos em Cristo a sua espera. Pedro não segura a emoção e chora. Um choro leve,não de tristeza, longe disso... de alegria.  

Ele é abraçado por todos ali presentes: Nath, Carol, Diego, Elisa, Dona Castanhos..., por um momento ele sente a falta de João. Ele queria tanto sentir o abraço do irmão após ter feito a melhor escolha de sua vida. Queria, ele, poder repetir aquela frase de quando viu o quanto estava perdido: "agora eu entendo, irmão.". Mas, ele sabia que mesmo longe, no fundo, seu irmão sabia o que estava acontecendo. Sim, ele sabia. 

[...]

Elisa chega radiante em casa e encontra seus pais bem acomodados na sala de estar. Seu pai traga um charuto mexicano sem pressa enquanto se delicia com uma taça de Whisky . A mãe por sua vez, come docinhos sem açúcar enquanto lê uma revista feminina. Elisa respira fundo tentando encontrar as palavras certas para pronunciar.

─ O que houve querida? ─ começa dizendo Senhora Alveolar. ─ Está aí com essa cara pálida, parada nos olhando!

─ Ah... desculpe mãe e pai, eu...

─ Fale sem rodeios Elisa! ─ Senhor Alveolar diz estupidamente. ─ Já basta a notícia que aquele moleque do João sumiu no mundo... todo aquele sacrifício e anos de preparação para esse casamento com os Razz e aquele imbecil some assim...

─ Pai! ─ Elisa o interrompe antes que ele perdesse mais o juízo. ─ Eu decidi algo e quero comunicar isso a vocês. 

─ Comunicar? ─ ele solta um riso debochado e termina sua fala. ─ Você não tem nada que nos comunicar... cada uma. Quem ela pensa que é? 

─ Eu percebi que não estava vivendo minha vida da forma certa. Algo sempre me faltou, mas, eu nunca soube bem o que poderia ser... até um tempo atrás, quando compreendi. E agora me sinto segura para dizer isso a vocês. Eu decidi iniciar minha caminhada com Cristo e estou indo em uma igreja cristã. 

Seus pais ficam parados, perplexos por um breve momento até que em um surto seu pai esbranja toda sua revolta:

─ Eu não posso acreditar no que estou ouvindo! ─ ele grita. ─ Foi essa maldita influência daqueles Razz. Daqueles filhotes doutrinadores! Eu não criei minha filha para ser uma doida não! Se você quiser manter sua herança, não seja burra! Vá agora para seu quarto e pare de me encher com essas baboseiras.

─ Eu... não ligo para essa herança Pai, de verdade queria que você e mamãe pudessem sentir a paz que sinto. 

─ Saia agora da minha casa!

─ Querido, por favor é nossa filha... para aonde ela vai?

─ Isso pouco me importa! Ela só volta aqui quando parar com essa loucura. ─ ele encara Elisa nos olhos e diz. ─ Vá! Vai lá com seu povo doutrinador quero ver se eles vão te aceitar agora que você não tem dinheiro! 

Elisa segura as lágrimas e sobe as escadas e caminha em direção ao seu quarto. Ao chegar ela pega alguma peças de roupa e joga em uma pequena mala. Ao longe ela ouve a discussão de seus pais e a certeza de seu pai ao afirmar que ela voltaria ainda hoje, pois seria rejeitada por ter perdido tudo. Ela não liga. Elisa caminha em direção a porta de saída daquela casa. Seus pais nem percebem ela sair, já que se encontram em uma discussão frenética. Rita puxa Elisa para seus braços e a acalenta com um breve abraço de despedida. Não era um "adeus", só talvez um "até logo". Elas se despedem com o olhar e Elisa caminha confiante, mesmo ainda não fazendo ideia do que faria a partir de agora, porém tudo isso se tornava minimo quando ela se lembrava de que neste momento ela estava livre. L I V R E!

[...]

Carol olha pela janela sem pressa e se lembra daquele dia na faculdade quando a pararam na escada. Era Léo, obviamente. Dizendo absurdos... como até o de tirar sua própria vida se ela não voltasse para ele. É claro que Carol ficou assustada, ela teve medo de que realmente ele vinhe-se a cometer esse ato. Tanto que ela preferiu não contar nada a ninguém. Mas, hoje ela percebeu que graças a Deus ele estava melhor, havia se conformado. Ela vê ao longe Diego chegando com um belo buquê de flores silvestres. Seu sorriso aparece instantaneamente. Seu coração se acalenta ao olha-lo, ele a completava... ela tinha a certeza absoluta disso. Como nunca havia tido antes. Ela desce as escadas eufórica e corre em direção a porta da sala. Agora ela não o via com tanta frequência, já que ele havia se mudado para um quarto perto da faculdade. Ela nem esperou ele bater a porta, e a abre. Os dois soltam um sorriso fofo um para o outro. Ele, por sua vez inclina suas mãos com o belo buquê e o deposita nos braços de Carol. 

─ Que tal irmos ao parque, bem? ─ ele pergunta alegremente.

─ Uma ótima ideia, meu bem!

Então, depois dela depositar as flores em um vaso, ele pega em suas mãos delicadamente e juntos vão ao parque conversando sobre a vida.

* Olá, amados como vão? Espero que bem!

Estamos oficialmente chegando nos capítulos finais dessa trama. Esse é o antepenúltimo capítulo da 1 fase. Mas, a segunda não será tão extensa, então, podemos declarar que é quase que uma reta final!

Espero do fundo de meu coração que vocês estejam gostando da obra e que ela os tenha tocado de alguma forma!

Beijinhos amados! 

Dois amores acima do tempo (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora