Os Alveolar

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Ela abre a porta central com pouca ansiedade, afinal, seria melhor continuar andando por aí, pela noite. Seus olhos encaram o grande lustre, herança de família. Seus avós haviam adquirido aquela preciosidade em uma visita à Paris, mas especificamente em uma loja de artefatos antigos. Resumidamente, aquele lustre tinha quase 55 anos. Ela repara nos detalhes que desde a infância a atraíram: o prateado resplandecente, os pequenos desenhos de pétalas cravadas em ouro; e claro, os mini diamantes roxos em suas pontas. Sua mente viajava em meio a tanto luxo e se perguntava o quão grande é o preço a se pagar por uma vida como essa; ou melhor, o quanto ela está pagando nesse exato momento. 

Uma mulher baixinha e pálida feito papel corre em sua direção. Suas mãos estão suando, como se estivesse sofrendo um ataque de preocupação a poucos minutos atrás. A mulher a encara com seus olhos de uma cor preta cansada. Apressadamente, ela tenta disfarçar o suor das mãos passando as mesmas sobre o avental azulado.

- Senhorita Alveolar... - Rita, a mulher em sua frente começa dizendo, ainda ganhando fôlego - Seu pai está completamente desesperado com sua demora! 

Elisa bufa curtamente. 

- Rita, Rita... - Elisa começa a andar pela sala, retira seu casaco e o coloca em suas mãos - Papai é assim mesmo, não fique tão agitada assim... Ainda são somente 19 horas, tenho vida fora daqui também! 

Rita passa suas mãos sobre a testa, como se temesse por algo.

- Eu sei senhorita, mas o senhor a ordena estar aqui antes das 18 horas.

Elisa ignora a fala anterior e diz:

-Rita alguém me ligou, ou mandou algum postal?

- Não, não senhorita Alveolar. Nada de novo, mas, seu pai a aguarda na sala de visitas junto dos Razz. 

Rita se retira da sala rapidamente. Elisa observa seu caminhar e por um momento deseja ser como ela, livre. Ela se força a caminhar em direção a sala de visitas, tentando esbanjar um belo sorriso no rosto, como deveria ser, mas, por dentro ela só queria se jogar em sua cama e adormecer em um sono profundo. Ao chegar à sala, Elisa repara no sorriso tenso de seu pai, que por mais gentil nas palavras que fosse, ela sabia que estava extremamente estressado e nervoso com sua demora. 

No sofá de veludo vinho, estão o senhor e a senhora Razz, grandes amigos tanto em negócios, quanto na vida pessoal da família Alveolar, mas especificamente do senhor  Gusmão Alveolar. A senhora Clara Razz solta um belo sorriso ao avistar Elisa adentrar a sala. E a mesma retribui o sorriso, mesmo não querendo. 

- Minha Lis, sente-se ao meu lado filha. 

Senhor Gusmão, convida a sentar ao seu lado e a oferece uma taça de vinho. Ela rejeita.

- Como vai querida? - começa senhora Clara a dizer, enquanto degusta com satisfação a bela taça de vinho tinto. - Fiquei sabendo sobre seus planos de arquitetura... acho incríveis esses passatempos. Eu mesma, amo pintar quadros coisa muito bem aceita pelas damas da nossa sociedade, é bom ter cultura. 

Elisa, solta um sorriso sem graça, afinal, seu amor pela a arte e sua PROFISSÃO nunca foram passatempos!

- Dona Clara, considero mais que um passatempo, se me permite, é minha profissão.

Todos da sala riem, freneticamente, menos Elisa. 

Seu rosto cora e fica extremamente quente, ela observa o olhar de reprovação de seu pai.

- Ah, não liguem amigos, sabem como são esses jovens de hoje... 

- Que isso amigo, - senhor Razz começa dizendo - temos dois filhos e sabemos como esses jovens são um pouco fora da caixa... mas o lado bom é que com o tempo eles amadurecem, graças a nós.

Que situação ridícula. Ela só queria correr para bem longe, dessas pessoas de mente pequena. 

Elisa pede para se retirar, após um tempo e corre literalmente para seu quarto, desabando em sua cama. É nove horas da manhã quando ela ouve o despertador tocar e se desperta rapidamente.  Ela terminava de se aprontar quando ouve alguém bater na porta de seu quarto.

- Já vai! 

Elisa abre a porta de seu quarto. Seu pai adentra o cômodo freneticamente.

- Que situação ridícula foi aquela em que você me colocou na frente dos Razz?

Ele esbranja, claramente alterado. 

- Papai, eu não disse nada de mais...

- Como nada de mais? - Senhor Alveolar a corta antes mesmo de completar a frase - Nunca, mas, nunca mais aja daquele modo grosseiro na frente de qualquer convidado meu sua moleca!

- Perdão, pai. 

- Bom, agora isso não importa mais. Em breve seremos da mesma família, e toda essa situação inconveniente vai ter ficado no passado. 

- Como assim mesma família? 

Pergunta Elisa ainda em tom confuso, com medo de ser confirmado aquilo que tanto temia. 

- Já te disse que você e João Razz irão se casar! 

- Mas papai! Eu não o amo!

- Amor não exite Elisa! - Ele grita e todos os poros do corpo de sua filha ficam arrepiados. - O que existe são alianças, e a família Razz é digna delas. São muito influentes no ramo empresarial aqui em São Paulo, irá ser muito bom para nossas famílias essa união. 

- Então, porque vocês três não se casam, já que querem tanto ficarem unidos?

O rosto de seu pai enrubesce de tal maneira que ela se arrepende um segundo após ter dito aquilo. Ele a olha e a difere um único tapa em seu rosto, deixando uma marca vermelha. 

- Quem escolhe quem irá cansar com minha filha sou eu! - ele encara profundamente os seus olhos. - E você irá casar com o futuro herdeiro do grupo Razz e ponto final. 

Ele sai do quarto e ordena a empregada a trancá-la. Elisa só consegue se sentar na cama, mas não deixa com que nenhuma lágrima caia de seu rosto, afinal, ele não merecia nem isso.

**** 

Diego encara o pequeno e antigo diário em sua frente. Fora de sua saudosa mãe e ele queria cumprir a promessa que fizera: só iria abrir e ler quando pedisse a mulher que amasse em casamento. Ele segura o diário e o acaricia, logo depois deposita o mesmo dentro da gavetinha de seu criado mudo. 

O rapaz olha pela janela de seu quarto e observa um casal a encarar a casa. Eles estavam completamente de preto e não se dava para saber quem era. Diego sai do quarto rapidamente, desce as escadas e corre em direção a rua, mas não havia nada mais ali. O tal casal estranho havia desaparecido. Um sentimento extremamente pesado toma conta do coração de Diego, uma energia carregada. Ele, sentia, ou melhor, ele sabia que algo ruim estava próximo de acontecer. 

* Olá amados, como vão vocês? Estão se cuidando direitinho? 

Está chegando o dia do tal baile, estão ansiosos? Pois eu estou!

E aí que sentimento estranho esse do Diego, o que vocês acham que vai acontecer? 

beijinhos e até o próximo capítulo! 


Dois amores acima do tempo (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora