Capítulo 47 - Morri todos os dias esperando você - Parte 1

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Capítulo 47 – Morri todos os dias esperando você - Parte 1

Estou aqui novamente

Milhares de quilômetros longe de você

Uma grande bagunça

Apenas pedaços espalhados de quem eu sou

Eu tentei tanto

Pensei que eu poderia fazer isso sozinho

Eu perdi tanto ao longo do caminho

Seus belos sapatos italianos brilhavam enquanto caminhava devagar por aquele corredor cheio de gente. Muitos o olhavam assustados, outros com um sorriso no rosto, a maioria nem mesmo lhe via e se via não conseguia discernir em sua mente o significado de sua presença. Não havia razão no meio da loucura, havia apenas os podres vermes rastejando em um pântano de incompreensão arregalando os olhos com a possibilidade de terem descoberto algo importante, mas logo desfazendo o sorriso bobo e voltando ao estado inóspito de loucura. Poderia ficar com pena deles, mas não havia espaço para isso quando ele mesmo teve que lutar contra sua própria alma.

Não tinha pena, tinha desprezo por aqueles seres que desistiam. Ele chegou ao abismo também, esteve frente a frente com seu demônio, o viu refletido nos olhos daquela criança que chorava em choque pelo medo do ser que o acordara no meio da noite. E então quando o demônio retirou a prateada máscara ele não fugiu, o encarou nos olhos, tremeu de medo, rosnou de raiva e gritou de precisão. Mas não fugiu, continuou em pé olhando o demônio refletido nos olhos inocentes até que aos poucos recuou saindo do abismo ao qual quase se jogara. Deu as costas ao pequeno inocente e correu pela estrada de barro.

Correu fugindo de si mesmo, fugindo de sua fraqueza. A lama salpicava sua calça, a chuva encharcou sua capa e os galhos das arvores arranharam seu rosto, ele não se importou, apenas continuou correndo até que não mais aguentou e caiu de joelhos sentindo o coração apertar-se dentro do peito. Amaldiçoava aquela necessidade de dor, de tortura. Odiava-se por querer que Harry estivesse ao seu lado para o possuir selvagemente negando-lhe o prazer e entregando apenas a dor, mas ele não estava lá, Harry estava longe, muito longe e era melhor assim. Apesar da necessidade de sua mente, o sentimento forte que sentia por ele o colocava de volta a realidade. Não podia viver daquela forma, tinha que lutar contra si mesmo para poder olhar para as esmeraldas de Potter e não mais as ver com dor, apenas com o doce sentimento que nele imperava.

Foi naquele momento, dolorido, encharcado e quase entregue ao fim que o homem arrancou forças do âmago e cavou com as mãos geladas e trêmulas, a cova onde enterrou o passado. A máscara, a capa e toda a história do comensal jazia agora em algum lugar distante e esquecido. Dois anos se passaram desde aquele dia. Dois anos em que viveu em constante medo de que não tivesse acabado e que ao se deitar com Harry algo ruim acontecesse, mas nada aconteceu. Ele era apenas Severus Snape agora.

- Senhor Snape?

A voz da mulher o retirou de seus devaneios, afastou o olhar dos loucos seres dali e encarou a senhora com o uniforme branco e máscara no rosto, ela segurava uma porta e indicava que ele deveria ir por ali. Sem demora Snape adentrou a outro corredor cumprido com diversas portas em ambos os lados, cada porta tinha uma tranca reforçada e uma janelinha de vidro para ver o que tinha após a porta. Snape passou direto por todas elas. Não lhe interessava o que havia ali, a única coisa que interessava era o caminho que a mulher agora indicava. O homem parou diante de uma porta de metal branco e a encarou com devoção. A mulher começou a falar sobre as regras de segurança que deveria ter ao adentrar ao local, mas Snape não queria ouvir aquela baboseira, discretamente apontou a varinha e recitou o Império. Imediatamente a mulher calou-se e ficou estática com os olhos vidrados.

A Lenda (Snarry)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora