Capítulo 32 - Uma estranha conversa na cozinha

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Capítulo 32 – Uma estranha conversa na cozinha

A luz da manhã invadiu seu quarto e atingiu seu rosto tingindo suas pálpebras de vermelho. A claridade o incomodava enormemente, preferia permanecer no escuro. Com um rosnado mexeu o corpo para se levantar e foi quando sentiu as dores o perpassar como eletricidade atingindo cada molécula, cada célula de seu corpo. Sua pele ardia, seus músculos pulsavam de dor e sua cabeça quase explodia. Lembrou-se do poderoso cruciatus que saíra da varinha de seu mestre atingindo-o no peito e derrubando-o na frente dos outros comensais que tremiam assustados esperando sua vez. Recordou-se também do que viera antes disso. Do plano, a emboscada no trem, o estuporamento do maquinista, a espera e finalmente o encontro. Harry parado ali na sua frente com a testa brilhando de suor, o corpo com sangue onde cortes corromperam sua carne e determinação nos olhos. Harry o ameaçando, gritando querendo ser ouvido, reclamando e jurando sua morte pela de Dumbledore.

Como queria, como queria poder se controlar, poder seguir o plano de Voldemort e então salvá-lo. Mas no momento em que encostou no menino, olhou dentro dos olhos dele percebeu que Dumbledore sempre estivera certo, não há possibilidade de voltar atrás quando se começa a amar. É uma trilha que só tem uma direção. Amaldiçoou-se por ter fraquejado e quase implorado para que o menino fosse com ele, fosse para qualquer lugar, fugisse junto a si para bem longe onde poderiam acordar sem temer a morte. Juntos. Queria tanto, desejou tanto. Mas esquecera que estava falando com Harry Potter. Harry jamais fugiria, iria até o fim para terminar seja lá o que fosse que Dumbledore deixara para ele. Fora tolo e isso causara seu estado de inconsciência pelo poder que Harry lançara sobre si. Esse fato o incomodou por um tempo, como ele conseguira tal poder? Mas depois entendeu que a resposta era tão clara que parecia óbvia. Harry era um descendente da princesa da vida, tinha dentro de si uma bondade e luminosidade tamanha que ao tocar no nome de Dumbledore, seu mentor, o poder revelou-se através de sua dor perpassando a varinha e o atingindo no peito. Ficara surpreso quando acordou, pensou que teria morrido, mas no fim se viu em um lugar escuro, pequeno e com um bilhete jogado em seu colo.

Com cuidado e sentindo o corpo protestar Snape se virou e meteu a mão no bolso traseiro. De lá tirou um pedaço de pergaminho onde havia uma mensagem sem assinatura, mas com uma letra tão especifica que era impossível não saber que era do menino.

"Você está no compartimento da cabine do maquinista. Espere todos irem embora para sair. Tome cuidado."

Por um momento ficou parado apenas olhando aquele bilhete. Não acreditava no que estava lendo, Harry pedira para tomar cuidado, não lhe entregou aos aurores, pelo contrário, o escondeu deles. Ele se importava. Um sorriso abriu-se no rosto dolorido fazendo machucar os lábios que há muito tempo não se abriam daquela forma. O sol esquentou seu corpo. Queria permanecer ali, deitado no chão onde caíra inconsciente quando não teve forças para alcançar a cama, mas precisava de suas poções, tinha que se erguer, por isso agüentou as dores e se arrastou até perto do criado mudo onde guardara os dois vidrinhos de que iria precisar. Primeiro o vermelho para curar os ferimentos e para as dores, depois o azul para levá-lo novamente ao inconsciente. Não demorou muito para sentir o efeito, foi rápido, mas não o suficiente para impedi-lo de se deitar na cama e apertar os lençóis com a mão fraca ao se lembrar dos olhos do menino que ainda mesmo que raivosos eram belos como a mais magnífica esmeralda. Será que a menina também tinha esses olhos? Ou seriam iguais aos seus, negros como carvão? Um dia chegaria a saber?

Suspirou sentindo o quarto sumir, iria desmaiar. Porém antes de se entregar ao nada uma única palavra saiu de seus lábios secos.

"Harry"

Harry acordou assustado, jurara ter ouvido seu nome sussurrado ao seu lado e sentido a presença de alguém, mas seu quarto estava completamente vazio, a única exceção se encontrava dormindo no berço perto do guarda roupas. Com cuidado se levantou e se aproximou da menina que dormia tranquilamente como se nada pudesse lhe incomodar. E não podia mesmo, estava protegida, jamais poderiam chegar perto dela, pois ele não deixaria. Ninguém chegaria perto dela, nem mesmo...

A Lenda (Snarry)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon