53. Eu cumpro as promessas que faço

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April cerrou os maxilares e fechou os olhos por um momento quando soube que iria revelar demasiado se ele continuasse a encará-la daquela forma. Depois acenou negativamente e fitou-o com o olhar vazio que tão bem a caracterizava.

– Eu nunca vou abrir a boca.

– Sim tu vais – asseverou Jake, acariciando as próprias têmporas doridas, sentindo o torpor do álcool desvanecer-se mais depressa do que ele queria e precisava. – Eu acho que tu estás nas nossas mãos agora, mesmo que tenhas esse ar de quem prefere ser um mártir. Algo me diz que tu no fundo não queres morrer. Não foste criada para isso, pois não? E para além disso tu és perfeita. Porque raio haverias de querer morrer?

April trincou os lábios ressequidos com força antes de lhe cuspir todo o escárnio e ódio que sentia por ele, por todos eles. Por si mesma e a sua incapacidade de não se conseguir livrar daquela cadeira!

– Tu é que vais morrer.

– Sim, um dia – concordou o moreno, recostando-se na cadeira. – E tu também – ele apontou para a mancha escura que tingia o tapete, fitando-a com uma expressão de falso lamento. – Já que vamos passar o resto da noite juntos, como tu tanto querias ontem, acho que devíamos conhecermo-nos primeiro. Podemos fazer uma pequena trégua pelas próximas horas? – sugeriu, batendo-lhe na perna dormente num gesto tão amigável quanto o olhar inflamado dela. – Que tal começarmos pelo Brian? Porque é que não me explicas como é que não engravidaste?

A loira engoliu em seco e os seus olhos ergueram-se de imediato, numa reação demasiado instintiva para ela a conseguir refrear antes que Jake notasse. Mais do que surpresa no olhar dela, Jake conseguia ver também o pavor atingi-la pela primeira vez.

– Oh, eu estou a ver emoção? Afinal vocês sentem... Mas continuo sem perceber como é que não conseguiste engravidar durante este tempo todo se era o teu objetivo. Então, April?

Ela tornou a engolir a própria saliva, sentindo o coração ribombar contra o seu peito como nunca sentira antes.

– Tu não sabes nada sobre mim – rosnou a rapariga, entredentes.

– Tens razão. Só sei que provavelmente devias ser a primeira clone a ir a consultas de infertilidade. O quão perfeito isto soa?

Todo o sarcasmo inerente no tom do moreno serviu para que ela se tornasse a abanar na cadeira com violência, movida pela raiva que ele alimentava.

– Cala-te!

– Tu calas-te – vociferou Jake, num tom tão baixo que ela não o ouviria se ele entretanto não se tivesse aproximado e apertado os seus maxilares com força. – Tu não és perfeita. Nem toda tu funcionas e por isso és deficiente. – Ele fez questão de devolver o adjetivo que ela dirigira a Kim demasiadas vezes naquele dia. – E é por isso que amanhã nos vais ajudar. – Jake apertou-lhe o queixo com mais força, obrigando-a a fitá-lo diretamente nos olhos. – Porque algo me diz que se alguém sabe que tu és um erro vais ter problemas maiores do que eu a fazer-te falar.

– Eu não sou um... erro – murmurou a loira quando ele a soltou e recuou na cadeira. Ela não era um erro. Era perfeita tal como a sua irmã sempre fora.

– Eu tenho outra opção – propôs Jake. – Tu dizes-me de onde vieste e como tudo funciona por lá e eu deixo-te viver com o teu pequeno segredo perfeito. Que tal isto soa?

April apressou-se a negar, readquirindo a sua postura neutra, que cobria perfeitamente tudo o que a afligia naquele momento.

– Eu não te posso dizer.

Jake notou de imediato a mudança nela, no seu tom de voz, na sua atitude. Apesar do esforço sobre-humano que ela fazia para tentar ocultar, o cansaço vencera-a e as suas defesas caíram até ele conseguir vê-la realmente. Ele sabia que a hipótese de não ser um clone perfeito atormentava-a mais do que tudo, só não conseguia perceber porque ela tinha que manter aquela lealdade insana e remeter-se ao silêncio mesmo que o contrário fosse benéfico para ambos.  

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