EPÍLOGO

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 Doutor Augusto Viturine era o cirurgião cardíaco mais competente que havia no principal hospital da cidade. Mesmo jovem, tinha se destacado deste cedo entre os outros residentes, por isso havia se tornado um homem importante entre os médicos da cidade, mas mesmo assim, era um homem humilde, que se dedicava totalmente a sua carreira e principalmente a família.

Para ele era triste estar ali naquela cidade por aquele motivo. Pensou várias vezes antes de deixar os filhos aos cuidados de Maria para chegar até ali, mas sabia que era necessário e que nunca se perdoaria por não dizer Adeus a seu querido amigo. Francisco foi seu pilar quando estava no ensino médio e era seu professor de biologia. Foi o homem de quem mais recebeu apoio quando descobriu que sua namorada estava grávida e foi ele quem lhe convenceu a não desistir dos estudos e do grande sonho de se tornar um médico.  O professor permaneceu ali, lutando para que o jovem não desistisse de seus sonhos e principalmente lutasse para ser um bom pai, mesmo sendo tão jovem.  A ligação entre professor e aluno era tanta, que Augusto não pensou duas vezes em convidar seu mestre para ser padrinho de seu primeiro filho. Francisco aceitou, é claro, e foi um dos primeiros a visitar o pequeno Guilherme no dia de seu nascimento.

O sonho de Francisco sempre foi ser caminhoneiro, e Augusto sempre o levava na brincadeira quando o mesmo lhe contava sobre isso. O pai de Guilherme achava que ele era um homem inteligente demais para desperdiçar todo seu conhecimento trabalhando com caminhões, por isso nunca o havia levado a sério, pelo menos não até seu professor abandonar a carreira um ano após se formar no ensino médio.

Francisco era um viúvo que havia perdido a mulher para o câncer anos antes. Era pai de uma adolescente de quatorze anos e um garotinho de sete e Augusto sempre admirou o professor quando o via com seus filhos, de quem sentia inveja, pois qualquer um ficaria feliz por ter um pai como aquele, mas para sua tristeza, Francisco havia recebido uma proposta de trabalho numa cidade do nordeste, por isso, alguns meses após o nascimento de Guilherme, o professor foi embora da cidade, levando sua família consigo.

Vários anos então haviam se passado e mesmo distantes, aluno e professor mantiveram contato através de cartas e e-mails. Augusto lhe mandará várias fotos de seu filho para que o padrinho pudesse acompanhar sua vida, mas com o passar do tempo, o contato entre os dois apenas diminuiu, até chegar numa fase em que passaram anos sem qualquer tipo de contato. Doutor Augusto agora era um importante médico da cidade, e Francisco provavelmente estaria nas estradas, trabalhando no que sempre sonhou.

Apenas agora, anos depois, o pai de Guilherme havia novamente recebido notícias de seu professor, porém, não eram as melhores. Doutor Augusto havia recebido há dois dias um e-mail de Marina, a filha mais velha de Francisco, lhe informado que o pai havia falecido num trágico acidente de estrada. Ele havia ficado em choque, é claro, pois havia anos que não sabia de seu grande amigo, e agora, recebia a notícia de que ele não estava vivo.

Por isso Augusto estava ali naquele momento, dentro daquela igreja, presenciando o velório do homem que teve o papel mais importante em sua vida quando jovem. Para ele, era triste depois de tantos anos descobrir que aquilo havia acontecido e que ele tinha ido embora de forma tão trágica, sem que pudesse ter se despedido.

- Marina? – após o velório, Augusto havia se aproximado da mulher de aparência jovem e ao mesmo tempo triste. Lembrava vagamente de seus traços.

- Sim? – ela o encarou de forma confusa, como se tentasse entender de onde o conhecia.

- Sou Augusto Viturine. Seu pai foi meu professor no ensino médio. Sinto muito pelo o que aconteceu. Ele era um grande homem. – disse ele, apertando sua mão de forma gentil. Marina sorriu tristemente e afirmou com a cabeça.

- Sim, eu lembro de você! Papai sempre nos falava do aluno prodígio. – ela disse, sorrindo de modo pensativo. O peito de Augusto apertou ao escutar aquilo.

- Ele sempre foi como um verdadeiro pai para mim. Perdemos o contato há alguns anos e estou triste por não poder ter me despedido dele. – disse, com mesmo tom de voz melancólico da jovem mulher.

- Ele acabou perdendo todos os seus contatos e sempre se lamentou por isso. E foi inacreditável, pois quando estava arrumando as coisas de meu pai há alguns dias, eu os encontrei. Por isso lhe enviei o e-mail. Achei que gostaria de receber notícias. – disse Marina, olhando para os lados.

- Agradeço por isso. – falou o médico. – Há algo em que eu posso ajudá-los? Você e seu irmão? – perguntou, notando um jovem se aproximar deles.

- Nós vamos ficar bem, mas obrigado por se preocupar. – disse ela, suspirando ao ver seu irmão se aproximar. – Como você está? – perguntou ela quando o garoto enfim chegou até eles. Augusto ficou surpreso em vê-lo tão crescido. A última vez em que o tinha visto era apenas um garoto de sete anos, mas agora, ele estava enorme.

- Só quero ir para casa. Podemos ir? – perguntou o rapaz, de cabeça baixa, abraçando a irmã de lado.

- Claro, mas antes quero que conheça um grande amigo de papai, ok? – perguntou ela para o irmão que pareceu impaciente e se quer olhou para o médico. – Doutor, esse é Felipe, meu irmão. – disse Marina, olhando para irmão de maneira paciente. Felipe olhou de relance para Augusto e então lhe lançou um rápido sorriso, mas logo voltou a olhar em outra direção.

- Sinto muito pelo o que aconteceu. – foi o que o médico conseguiu dizer enquanto observava Marina consolar seu irmão.

- Tudo bem. – foi a única coisa que Felipe disse antes de se afastarem. Doutor Augusto continuou ali, os observando entrar num carro e partirem.                                                                      

Ele se sentia melancólico e pensava no quanto entendia como aquelas pessoas estavam se sentindo, pois ele também havia perdido um grande homem.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - INCERTEZAS - LIVRO 02 (RASCUNHO)Where stories live. Discover now