Capítulo 37 - PENÚLTIMO

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Ao voltar para meu quarto, encontrei a porta entreaberta, e assim que me aproximei, logo vi Gustavo e Felipe sentados em minha cama, jogando vídeo game. Quando entrei e fechei a porta, os dois me olharam com curiosidade.

- Porque essa TV está tão alta? – perguntei estranhando.                                       

- Tentei disfarçar o barulho. – Felipe disse, encolhendo os ombros e fazendo sinal com os olhos na direção de Gustavo. Sorri para ele ao entender sua intenção. Os olhos de Gustavo ainda estavam um pouco assustados e ele não me falou nada, por isso resolvi não tocar no assunto, pois a última coisa que queria naquele momento era vê-lo chorando novamente. - Está tudo bem? – perguntou Felipe quando me sentei na cama com eles. Apenas sorri e afirmei com a cabeça. Ele me retribuiu o sorriso e deu uma tapinha em minha perna, me consolando. Estranhei o fato de Felipe não perguntar o que tinha acontecido, porque qualquer outra pessoa em seu lugar, quando me visse, perguntaria o que havia acontecido, mas ele não fez isso. Felipe se contentou apenas em me ouvir dizer que estava bem. 

Acabei ficando ali calado enquanto observava os dois jogando vídeo game e só precisou de alguns segundos para Gustavo esquecer o que tinha acontecido. Felipe, assim como Lucas, levava o maior jeito com crianças. Meu irmão se divertia como nunca enquanto jogava com meu melhor amigo, que ao contrário de Lucas, sempre ganhava todas as partidas. E agora os papeis se invertiam porque Felipe implicava com Gustavo que começava a gritar de raiva sempre que perdia. Eu, claro, não resistia e sempre dava ótimas risadas quando via meu irmão dando socos no colchão.

••

Algum tempo depois, meu pai bateu na porta do quarto e logo em seguida entrou. Seus olhos foram diretamente para mim, mas o ignorei enquanto notava ele entrar e se aproximar de meu irmão.

- Gustavo, vamos comer? – perguntou Doutor Augusto, chamando sua atenção. Quando o notou ali, meu irmão logo largou o controle do game e correu em sua direção. - Não vai almoçar? – perguntou papai, me olhando. Continuei sem olhá-lo, pois estava disposto a não perdoá-lo tão cedo por causa daquele castigo estúpido, por isso, apenas neguei com a cabeça. Não precisei olhar para meu pai para saber que ele revirou os olhos para mim. - Quer almoçar com a gente, Felipe? – perguntou o velho. Meus olhos correram rapidamente em direção a Felipe. O normal seria que ele negasse, mas isso não aconteceu, para minha total surpresa.

- Claro! Será uma honra. – disse Felipe, com um sorriso largo estampado em seu rosto, ignorando completamente minha expressão cética. Ele levantou da cama e saiu, seguindo meu pai e me deixando ali em meu quarto, sozinho, de boca aberta.

- Traíra! –resmunguei para mim mesmo.

Como não queria dar o braço a torcer, mesmo estando faminto, acabei indo para meu notebook. Abri minha caixa de e-mail e torci para que houvesse algum novo e-mail de Samantha, mas infelizmente não havia nada. Por isso, acabei não resistindo e escrevendo algo para ela, mesmo sabendo que não deveria preocupá-la com o que estava acontecendo nos últimos dias.

Samantha, você não imagina por tudo que tive de passar hoje, durante horas atrás! Sempre achei que seria duro enfrentar minha família, minhas avós e todos os outros, mas não imaginei que quando isso acontecesse, estaria perdendo todos eles. No início, torci para isso tudo valesse apena, pois achava que estava fazendo isso por Lucas, mas depois minha ficha acabou caindo. Todo barraco, as brigas e até mesmo o soco que dei em meu tio, serviu somente para uma coisa: para me libertar e tirar o único peso que estava carregado nas costas. Agora, posso ser quem realmente sou de verdade, sem me preocupar com o que as pessoas irão pensar.

Acredite, a coisa foi realmente feia. Meu pai expulsou todos de casa, até mesmo minha avó, que é mãe dele. Mas o pior de tudo foi o castigo que ele me deu por ter batido em meu tio. Doutor Augusto Viturine me proibiu de ver Lucas logo hoje, quando tudo o que mais queria era vê-lo. Mas não se preocupe comigo, ok? Agora está tudo bem. Passei os últimos minutos me divertindo com Felipe que tem sido a pessoas mais legal e compreensiva nos últimos dias. Lipe foi super bacana com Gustavo e conseguiu como poucos, distrair meu irmão de todo essa agitação, apesar dele ter me decepcionado minutos atrás, mas isso não vem ao caso.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - INCERTEZAS - LIVRO 02 (RASCUNHO)Where stories live. Discover now