Capítulo 26

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- Escutei o barulho aqui da sala! – disse Renato com uma expressão preocupada quando cheguei à sala.

- Foi tão alto assim? – perguntei meio sem jeito, enquanto parava no último degrau da escada. Renato me conhecia o suficiente para saber que seria difícil me abrir, mas ele soube me confortar e fazer com que eu me sentisse confortável como sua presença.

- Quer ir à cozinha, conversar? – ele propôs. Apenas assenti com a cabeça e o segui. Não sabia como seria aquela conversa, já que era a primeira vez que faria aquilo com Renato, em relação a meu namoro com Lucas. Era estranho saber que ele me aconselharia, pois normalmente, esse papel seria de meu pai.

A conversa então começou muito bem, e por algum motivo que não sei explicar, não tremi, nem gaguejei ao explicar tudo o que havia acontecido com Lucas. Ele ouviu tudo com atenção, e enquanto falava, pude perceber que ele pensou bastante no que dizer. Talvez estivesse tão nervoso quanto eu, pois não éramos tão próximos como Lucas e meu pai. Não tínhamos tanta intimidade.

- Não sabia que Lucas era assim, tão ciumento! Ele não era desse jeito com a ex-namorada. – comentou Renato, parecendo duvidar dos ciúmes exagerado do filho.

- Ele se irrita muito fácil com essas coisas. O cara não estava fazendo nada! É só um amigo que fiz no prédio de Clarisse, e ainda por cima, ele é hétero. – falei. Renato e eu estávamos sentados no balcão, um de frente para o outro.

- Acho que isso é insegurança. Lucas parece ser forte com as emoções, mas na verdade, ele é totalmente frágil. – Renato suspirou. - Sabe o motivo desses ciúmes? – perguntou ele. Eu afirmei com a cabeça.

- Medo de me perder.

- Exatamente! Acho que quando nós temos medo de perder alguém, a gente não pensa muito em como evitar. Ficamos tão desesperados com a situação, que acabamos agindo com a razão. Tenho certeza de que Lucas se sentiu ameaçado quando te viu conversando com um rapaz que não conhecia.  Ele teve medo do desconhecido! – o pai de Lucas respirou fundo mais uma vez e então voltou a falar. - Eu sei sobre a traição no dia de seu aniversário, e pode ter certeza, Guilherme, Lucas acha que você não o perdoou e isso o deixa preocupado. – foi o que Renato me disse.

- E não perdoei mesmo! –comecei a falar e ele não tirou os olhos de mim. – É difícil superar essas coisas. Era meu aniversário, era pra ser um dia importante, mas em vez disso, foi o pior dia de minha vida! – desabafei. Renato coçava a nuca, procurando algo para falar.

- Eu sei que é complicado, e talvez quando você falar que o perdoa, ele mude e se sinta mais seguro. – sugeriu, me fazendo bufar em deboche e negar com a cabeça.

- Não vou dizer que o perdoo, sem perdoar! Isso abalou um pouco a minha data de aniversário. Além disso, o que Lucas tem, não é insegurança, Renato. Isso é falta de confiança! – eu disse, mas fiquei paralisado quando olhei para o lado e vi Lucas, parado na entrada da cozinha, nos olhando sem nenhuma expressão no rosto.

Alguns segundos de choque e ele finalmente esbanjou alguma reação. Mas foi uma reação na qual não esperava. Lucas nos ignorou ali e foi até a geladeira, beber água, e enquanto fazia isso de costas para gente, Renato fazia expressões com o rosto para mim, e eu apenas movia os ombros. Então depois de terminar de beber água e guardar o copo que estava em sua mão, ele foi até a pia e se se encostou a ela, ficando de frente para mim e para Renato. Nós ainda estávamos no balcão.

- Então? Não vão continuar o assunto? – perguntou ele, cruzando os braços. Seu tom não era nada amigável, e Renato parecia não dar a mínima para isso.

- Que tal parar com essa pirraça? – perguntou seu pai, o olhando sério.

- Quem está fazendo pirraça aqui? – retrucou Lucas.

O FILHO DO AMIGO DO MEU PAI - INCERTEZAS - LIVRO 02 (RASCUNHO)Where stories live. Discover now