Capítulo 20 - O Fim

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"Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido

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"Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido."

Clarice Lispector


Dói pensar que, às vezes, é necessário um fim para que haja um começo – ou – uma retomada.

A palavra feliz não era o bastante para me definir. Por mais que nossa condição financeira fosse ruim, bem apertada devo confessar –, nosso relacionamento melhorava a cada dia. Breno cumpria à risca o que me prometera. Era o melhor marido que alguém poderia ter.

Passado a ansiedade das descobertas da intimidade de um casal, a apreensão começou a me consumir novamente, em pensar que eu entraria no período menstrual e não sabia como lidaria com aquilo, mediante meu marido. Eu sabia que era uma preocupação boba, afinal, ele fazia de tudo para me deixar à vontade. Pensava em falar com a minha mãe, mas não queria passar uma impressão ruim a ela, como se eu não tivesse segurança com Breno.

— Está tudo bem, Catarina? — indagou Breno, deitado de lado, apoiado em um cotovelo. Eu encarava o teto – muda.

— Hum... hum... — neguei, sem olhar para ele.

Ele pegou meu queixo e me virou.

— O que aconteceu? Alguém te incomodou na rua? — Ele sempre me fazia a mesma pergunta, preocupado com suas antigas "fãs".

— Não é nada, eu dou um jeito — desconversei, constrangida. Breno bufou e me puxou para cima dele.

Minha rotina não tinha mudado tanto. Eu continuava ajudando minha mãe na mercearia; duas vezes na semana ia à aula de piano e, um dia da semana, estudava na casa da dona Cida. Dava conta perfeitamente dos afazeres da minha casa. Breno chegava do serviço e o jantar estava servido.

Agradecia, todos os dias, pela minha vida. Estava confortável. Só duas coisas me deixavam tristes: Priscila, que quase não dava notícias, nem mesmo aos seus pais, e não poder frequentar o ensino médio naquele ano. Breno prometera que no ano seguinte daria um jeito. Não era para eu me preocupar, só perderia um ano.

Olhando fixamente em meus olhos, ele aguardava que eu me abrisse. Fechei um pouco os olhos e suspirei. Quando os abri, a expressão dele era divertida. Ele adorava ver minha insegurança, acho até que se sentia mais importante.

— Preciso comprar uma coisa de mulher... — comecei e parei. Seu sorriso me desestabilizou. Ele já tinha entendido, queria apenas me torturar. Dei um soco de leve no ombro dele – provocando-lhe uma gargalhada gostosa.

— Quando é que vai descer pra você? — perguntou tranquilo, como se aquilo fosse muito comum. E devia ser mesmo – não para mim.

Acabei sorrindo e sentei-me em sua barriga, fazendo as contas nos dedos. Contei uma vez... duas... três... e... meu Deus! Como não percebi? Fazia três meses que estávamos casados. Era a primeira vez que eu me lembrava que existia menstruação. Isso, porque amanhecera com os seios muito doloridos. Uma tontura chata me fez tropicar, quando fui ao banheiro, na madrugada.

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