Capítulo 16 - Verdades

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"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido

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"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."

Clarice Lispector


Por que temos o atroz defeito de julgar? Sim, todos têm. Queiramos admitir ou não.

Acostumada com a minha verdade, ou melhor, do que foi apresentado a mim. Fui me dando conta de que: nem tudo era verdade. Ou, talvez, não houvesse uma verdade só. Tudo tinha que fazer sentido? Muitas dúvidas pairavam pela minha cabeça.

— Catarina, que horas vai subir para ficar com a Alice? — questionou minha mãe, despertando-me de meus devaneios.

Por dias, permaneci, a maior parte do tempo, calada. Se antes, eu era tímida e não gostava de estar com muitas pessoas, com a falta da Priscila para me incentivar, cada vez mais, eu me fechava. Evitava ficar com minha mãe. O segredo do Carlos me amedrontava, não queria ser a responsável em arruinar a vida dele. Ironicamente, os melhores momentos dos meus dias, eram na casa do Breno. Sentia-me útil. Sem contar que, ganhara duas amigas: Paula e dona Alice.

Dona Rosalva, concordou – com facilidade, quando expliquei que tinha me colocado à disposição para ficar com a mãe do Breno, por um período, em algumas tardes. Deu algumas recomendações quanto ao filho, afinal, o bairro inteiro o julgava: "A mãe doente e o rapaz se aproveitando das filhas alheias".

— Tenho aula de piano, mãe — lembrei-a e terminei de arrumar os itens que estavam – na minha mão – na prateleira da mercearia.

— Ah, achei que faltaria. Paula passou por aqui, hoje, e disse que Alice não está nada bem — comunicou e aproximou-se.

— Hum... — Pensei um pouco, limpando as mãos nas pernas – sem olhar para a minha mãe. Eu não queria faltar na aula de piano. Depois de ficar com a dona Alice, o meu maior prazer era fazer aula de piano. Embora não estivesse mais tão animada, quanto no início. Porém, não decepcionaria minha professora. Quando cedeu a bolsa de estudo, acreditou no meu potencial e dedicação. Depois que Heloisa foi embora, a professora Isabel passou a me dar aula. Não quis nem que suas assistentes me acompanhassem. Segundo ela, eu era um dos seus melhores investimentos. — Posso ir depois da aula? — sugeri à minha mãe, sabendo que ela poderia recusar, pois seria próximo das seis da noite.

— Se essa aula é tão importante pra você, vou respeitar — resmungou e saiu – aliviando a tensão em meus ombros. Tentava, a todo custo, não bater de frente com ela. Comecei a juntar minhas coisas, para entrar e me arrumar para a aula, ela voltou e parou em minha frente, com as mãos nos quadris. — Cuidado com aquele bexiguento, se ele começar com furicagem pra cima de você, eu corto as bolas dele.

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