Mudanças - part I

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O Luto e o Tapa

Era o dia do enterro, o dia em que nada mais fazia sentido, o dia em que a Terra, ao menos
para ele, pararia de rodar por alguns segundos, ou devo dizer que giraria mais rápido? Sentado em sua cama amarrou os sapatos caros de couro. Polidamente encaminhou-se para sala,
cumprimentou seus parentes e amigos. Agiu tão automaticamente que quem o visse se recusaria a dizer que tal homem poderia ser humano.
Sem expressão facial, sem lágrimas nos olhos, sem mãos trêmulas, sem cabelos bagunçados e roupas ensanguentadas, lá estava ele, trajando um lindo conjunto negro de terno. Quem o visse não diria que era a mesma pessoa do dia do acidente, trágico acidente.

O carro percorreu seu caminho até o cemitério durante 20 minutos. Chegando ao local parentes e amigos se organizavam para se despedir. E lá estava ele, no seu luto, ao lado do túmulo, com um olhar tão distante que te faria questionar se sabia onde estava, e o que estava acontecendo. Mas sabia, e lamentava tanto por saber, por fazer parte disso. Então suspirou, e em consequência sua amiga tentou consolá-lo colocando sua mão em seu ombro, movimento errado, Naruto se esquivou como se a mão que o tocasse fosse ferro em brasas.

Ninguém sabia, ele não queria seus malditos "Meus pêsames." seguidos de "Coitadinho, você viu o estado dele?". Estava cansado de tudo, mas no fundo sabia que foi criado com um propósito: aturar até a mais ridícula das situações como se fosse a festa de gala que debutantes tanto sonhavam. Se odiava por aquilo.

Sem olhar para ninguém aguentou meia hora de frases de efeito, lembranças e lamentações. Durante meia hora não se moveu, nem para atirar uma rosa antes que o coveiro começasse a cobrir com terra o caixão de seu pai. Diferente de outros enterros, nesse não choveu, foi uma tarde fresca e para alguns confortável. Naruto seguiu seu caminho para fora do cemitério a pé, sem olhar para trás, sem verdadeiramente se despedir de seu pai.

***

Um ano havia se passado desde que o pai de Naruto faleceu, muita coisa desde então sofreu drásticas mudanças. Após um mês do enterro abandonou a faculdade, dizia que aquilo era um desejo de seu pai, e agora não fazia mais sentido seguir com aquilo. Abdicou-se de qualquer questão financeira da empresa, seu tio que era dono de 49% dela, agora tomava conta dos outros 50% e os lucros iriam para sua conta sem que tivesse que fazer nada.

Cinco meses após o enterro Naruto ainda permanecia na casa, sem falar com ninguém. Não gostava de receber sua mãe e sua -não mais- melhor amiga. Quando chegou a esse ponto de não sair sequer do quarto, sua mãe, Kushina Uzumaki, resolvera o levar para a França com ela e seu marido. Durante 4 meses Naruto permaneceu na França, porém, sua situação piorou. Não dormia, mas também não saia do quarto. Andara doente. Kushina chegou a leva-lo em um médico, mas não deu certo, foi uma tentativa nula. Nesse tempo parece que a solidão aumentara. Kushina não queria, mas sabia que seu filho estaria menos pior na casa que agora pertencia ao mesmo.

Quando finalmente voltou para sua casa, permanecia ainda sim no quarto, mas algumas vezes gostava de ir até o jardim e sentar perto de um canteiro de margaridas, que se não se engava foi ele próprio que o criou, longe o bastante dos olhares dos empregados, mas perto o suficiente para escutar a música calma e doce que vinha do escritório que seu pai tinha na mansão.

Uma semana após chegar, sua amiga lhe convidou para um jantar em sua casa, que ficava um pouco mais próximo do centro da cidade. Naruto recusou a princípio, mas sua amiga insistiu e disse que era importante, e que ele deveria estar presente. Se vendo sem saída resolvera ir ao jantar.

Sua amiga, Hinata Hyuuga, era um mulher muito bonita. Tinha um sorriso de derreter qualquer pessoa, mas não Naruto, não mais. Hinata era viva, era feliz, sua pele branca reluzia sempre. Naruto não, ele andava sem o brilho da pele dourada e sem sorrisos. Quando a abraçou os cabelos negros com um tom azulado brilhou em contrates com os seus loiros que pareciam ter se apagado com o tempo. Hinata sempre dizia que ele tinha os cabelos mais lindos que ela já tinha visto, mas agora estavam mortos, tal como Naruto.

Do outro lado da rua Onde histórias criam vida. Descubra agora