Algumas coisas eu não entendo

Começar do início
                                    

Eu considero nossa escola muito liberal, um dos motivos é por nos deixar criar todo tipo de clube e grupos de atividades extras — desde que sejam aprovadas como produtivas pelos coordenadores — e por aceitarem a presença de Yoongi ali. Cabelo azul e piercings nas orelhas não é bem o padrão para um estudante em qualquer instituição que for, ainda mais em nosso país, mas aqui ele é aceito de alguma forma. Talvez os coordenadores desistiram de tentar fazê-lo ficar no padrão e eu não sei, porém não duvido, Yoongi tem essa fama de contrariar e não ficar calado.

Ele não foi criado pelos pais e sim pelos tios, e pelo o que já me contou sobre eles e pelo o que vi, os dois são bastante liberais também, o ensinaram a viver do jeito dele, desde que respeitasse os outros, e a não ficar calado quando algo estiver errado. Min Yoongi é conhecido por alguns alunos como um rebelde, que não está nem aí para nada, mas não é bem assim. Muitos não gostam dele, muitos o admiram, ele virou um alvo fácil para falações por simplesmente ser ele. A coisa toda entre os alunos piorou quando ele se assumiu bissexual sem medo algum na frente de todos. Eu lembro bem desse dia, nós ainda nem éramos amigos.

Era a hora do almoço, havia alguns garotos perturbando um menino do oitavo ano por ele ser "muito afeminado" e o chamavam de bichinha e nomes do tipo. Então, um garoto mais velho, de cabelos pretos e pequenas mechas azuis na franja, ficou no meio daqueles valentões e os mandou parar. Os garotos riram e disseram para não se meter. Contudo, esse mesmo garoto, Yoongi, subiu na mesa, chamando a atenção de todos e falou:

— Vocês não podem falar assim como esse garoto só por causa do jeito dele. O que ele é ou o que ele deixa de ser, não é da conta de nenhum de vocês, muito menos é motivo para zoação. Vocês são uns nojentos. E eu sou bissexual. Também gosto de garotos. Se quiserem tanto zoar alguém, zoem a mim! — bateu no próprio peito. — Quero ver terem coragem p'ra isso.

Depois disso um professor chegou e os tirou dali, não sei o que aconteceu em seguida, mas a partir daquele momento, eu comecei a admirar Yoongi. A atitude dele foi muito bonita e corajosa aos meus olhos, talvez um pouco louca também, mas era ele sendo ele apenas. Yoongi fez e faz coisas que eu nunca faria, uma delas foi ser o primeiro a puxar conversa e começar nossa amizade.

— Taehyung-ah! — abriu um sorriso quando me notou. — O que veio fazer aqui?

— Oi, Chae — falei com minha amiga, que sorriu para mim já se afastando, e depois voltei a atenção para Yoongi. — Vim te ver — sentei-me numa mesa próxima a ele. — 'Tá ocupado?

— Nah, já terminei o que tinha que fazer.

— Que bom, queria falar com você.

— Sobre?

— Na verdade, é mais uma pergunta que eu quero te fazer. — passei a mão pela nuca, receoso.

— Oh... — Me olhou um pouco espantado, do nada. — Tae, eu me sinto honrado, mas não posso aceitar seu pedido, eu namoro. — O encarei com um sorriso confuso. — Mas p'ra você eu posso abrir uma exceção — pôs a mão no meu joelho com um olhar sugestivo e eu comecei a rir.

— Não é isso, seu idiota! — ri fraco, envergonhado.

— Por que está todo nervoso aí? — continuou brincando com a minha cara, rindo.

— Não estou nervoso, é que... — pensei nas palavras certas para falar. — Eu encontrei o caderno de uma pessoa há uns dois dias, mas não o encontrei em lugar nenhum para devolver, então eu pensei que você podia me ajudar, já que conhece todo mundo.

— Claro, sem problemas. Qual o nome dele?

— Hã... eu não sei. E também não tem nome no caderno.

The singularity of your eyes || vhopeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora