Capítulo 48

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Sábado.

Um ano pode ter passado, mas em minha mente os aniversários ainda são datas que não deveriam ser comemoradas.

Um ano a mais é um ano a menos.

Por isso, nesta manhã, decidi comemorar meu aniversário do meu próprio jeito.

— Aonde você está indo? — Escutei a voz de Betty me chamar.

— Vou lá no terraço. — Avisei.

Eu havia acordado cedo, como de praxe. Mas ao invés de jogar-me no sofá e ficar vendo TV até Cheryl acordar ou ir para a Columbia, eu preferi fazer aquilo que há tempos não fazia. Meditar. Refletir. Pensar. E, se tiver sorte, poderei concluir algo.

— Vai fazer o quê lá a essa hora? — Betty perguntou.

Ela não iria me desejar um feliz aniversário?

— Refletir, Cooper. — Falei emburrada. Como ela ousa esquecer do meu aniversário?

— Legal. Vou voltar a dormir, acordei apenas para tomar um pouco de água. — Betty disse seguindo para o corredor, despreocupadamente.

— Você sabe que dia é hoje? — Perguntei colocando a mão na maçaneta.

— Sábado?

— Esquece... — Bufei abrindo a porta.

— Ei! — Ela chamou, me fazendo parar e virar para vê-la. — Eu sei! — Betty disse vindo até mim e me envolvendo em seus braços. — É o seu aniversário! Feliz aniversário, Zangada!

— Obrigada. — Falei afastando-a de mim, mas por dentro eu estava sorrindo.

— Agora, falando sério. Vai fazer o quê no terraço a essa hora?

— Comemorar o meu aniversário.

— Será que nem mesmo com um ano tendo passado você continua estranha? — Perguntou fazendo uma careta.

— Cooper, dias são dias. Os dias passam, mas nós continuamos. Mesmo quando morremos, nós ficamos no tempo, os dias não. Eles são eles sempre. — Terminei de falar e pude ver Betty simular um cochilo.

— Ops! — Abriu os olhos rindo. — Acho que seu papo chato me fez dormir.

Revirei os olhos para ela e fui até a porta. Subi pelas escadas, mas eu nunca antes havia ido lá em cima, apenas comentei uma vez com o Alexander e ele disse que lá não tinha nada de especial. Que era apenas um terraço como qualquer outro terraço e, até hoje, eu não tive interesse algum.

Empurrei a grande porta com alguma dificuldade, mas assim que senti a luz do sol de uma manhã recém nascida me tocar, sorri.

Eu estava ficando mais velha e, sinceramente, acho que lidar com a idade já começa a se tornar difícil quando você começa a ter consciência de sua velhice.

É triste.

É normal.

Somos nós.

Estendi a toalha, que havia trazido comigo, sobre o chão e sentei-me, cruzando minhas pernas em posição de lótus. Suspirei satisfeita com o ambiente e consertei minha coluna, deixando-a ereta. Pigarreei e fechei os olhos.

Tudo o que eu precisava era me concentrar em meu umbigo, nos meus poros capilares ou na parte interna de minhas narinas. Mas dessa vez eu não consegui.

Agora eu quero, muito, falar sobre desejos que nem você mesmo sabe que possui. Mas, antes que você deixe sua mente inclinar-se para os desejos carnais e ousados, já esclareço, ante mão, que quero falar sobre desejos verbais. Por exemplo, quando achei que Betty havia esquecido do meu aniversário, senti-me mal porque, mesmo que eu não demonstre, eu me importo!

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Where stories live. Discover now