Capítulo 9

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Sábado.

" — Amor é sofrimento, quando a gente não sabe se a paixão é aceita, quando se não vê quem se adora; amor é céu, quando se está como eu agora estou.

— E quando a gente está longe, perguntou ela, que se sente?...

— Sente-se uma dor, cá dentro, que parece que se vai morrer... Tudo causa desgosto: só se pensa na pessoa a quem se quer, a todas as horas do dia e da noite, no sono, na reza, quando se pede a Nossa Senhora, sempre ela, ela, ela!... o bem amado... e..."

Sábado. Sexagésimo nono dia dessa desordem que se tornou a minha vida. Fechei o livro e o arremessei para bem longe de mim. Desisti de lê-lo. Amor, paixão, sentimentos... Essas eram as últimas coisas que eu queria pensar ou saber agora. Tudo bem, eu sabia que o maldito livro era de romance, mas insisti em lê-lo por pura falta de opção!

Já era madrugada, meus olhos não fecharam-se durante um segundo sequer e eu precisava distrair a minha mente porque já estava me irritando apenas conseguir pensar em Cheryl, pensar em como seria na casa de Cheryl, como eu deveria agir na frente da família de Cheryl e Cheryl, Cheryl, mil vezes Cheryl, maldita Cheryl!

Peguei o celular debaixo do travesseiro para conferir o horário e me senti frustrada ao ver que já eram 4h da manhã. Pensei em ligar para Veronica e contar sobre meu quase medo do encontro de hoje, vai ver ela tinha alguma frase de efeito qualquer que me acalmasse, mas desisti, não por ser madrugada e sim por lembrar que minha amiga iria encher a minha cabeça com asneiras sentimentais, como sempre faz. E falar sobre sentimentos estava fora de cogitação para mim.

Posso confessar uma coisa a você? Pois bem, após receber a mensagem de texto de Cheryl eu desatei a me perguntar se o que eu nutria por ela era somente um gostar exagerado. E sabe o que me desesperou? Não me convenci de que eu era, apenas, encantada por aquele ser humano. O ser humano mais incrível da face da Terra. E essa falta de convicção está me enlouquecendo. Afinal, qual outra palavra eu poderia usar para descrever esse... essa coisa que faz meu raciocínio travar e meu coração querer furar meu peito de tanto pular? Tem alguma palavra que defina isso? Se bem que esses sintomas podem ser consequentes de várias coisas e não de uma paix... aquela coisa que você sabe o que é. Quem sabe eu tenha uma alergia? Isso! Acho que tenho algum tipo de alergia em relação a Cheryl. Porém alergia faz você querer ficar longe do causador, então por que diabos eu quero sempre me aproximar mais dela? Que tipo de vírus, fungo, bactéria ou qualquer outro hospedeiro indesejado é Cheryl? Será que sou masoquista? Não, isso não. Argh! Odeio não encontrar respostas sobre esse assunto. Odeio Cheryl de um modo não odioso, que fique claro.

Quatro e cinquenta e nove... Cinco! Abri mão do meu sono e me levantei. Olhei para o livro perto da porta, aberto em qualquer folha, repreendendo todas aquelas palavras que eu li. Amor? Os céus livrem-me disso. Obrigada. Escritores de romance são tão bobos quanto os diretores daqueles filmes detestáveis que falam sobre amor. Ninguém ousa escancarar a verdade ao mundo, por quê? Qual mal há em explicar às pessoas que esses amores eternos não existem, nem essas pessoas perfeitas e muito menos os finais felizes?

— Tsc tsc, filmes fazem tudo parecer mais fácil. — Abri a porta da geladeira buscando com os olhos algo para comer.

— Acho que você não vai encontrar algum dinossauro para te responder aí na geladeira. — Dei um pulo ao me assustar com a voz de meu pai.

— Droga, pai, sou nova pra ter um ataque cardíaco. — Virei-me pare ele com a mão sobre o peito e o encontrei sorrindo. Super engraçado, Thomas!

— Desculpe, mas acredite que você me assustou muito mais. Imagine descer no escuro e encontrar apenas a luz da geladeira acesa? Me senti na Família Dinossauro! — Acabei rindo do jeito que ele falou.

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Where stories live. Discover now