Capítulo 5

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Sexta-feira.

Sexta-feira. Eu deveria estar feliz por ser o último dia de aula na semana. Eu deveria estar aliviada por, enfim, ter dois dias de paz mental. Eu deveria, mas não estou. Meu estado no momento pode ser definido como "daqui a alguns segundos já terei roído até mesmo os meus dedos.". Eu não tenho como fugir do dia de amanhã muito menos do de hoje. E para incorporar o meu abalo emocional já faz mais de 15 minutos que a aula começou e Cheryl ainda não chegou. O lugar na minha frente estava guardado para ela. Fiz isso apenas e somente por educação e retribuição pelas vezes em que ela fez o mesmo por mim. Posso ser muita coisa nessa vida, mas ingrata não sou.

O primeiro horário já acabou e aquela garota não apareceu ainda. Mordi o interior da minha boca olhando para a porta e nada, nem sinal dela. Será que aconteceu algo? Ela costuma se atrasar, eu sei, só que dessa vez extrapolou. Será que ela está doente? Será que é algo grave? Não, Toni, não pense no pior. Mas e se for o pior? Não pode ser. Estou exagerando. Chega de pensar no pior.

— Toni! — Escutei uma voz próxima.

Olhei e vi Julie sorridente sentando-se na cadeira que eu estava guardando. Acho bom ela sair daí logo.

— Oi, Julie. — Sorri meio forçada.

— A Veronica não está aqui esse ano, né? — Se você não tivesse notado ainda eu lhe chamaria de cega.

— Ficou na outra turma. — Apontei para qualquer lugar com o polegar.

— Você deve estar se sentindo sozinha, né? Eu te entendo perfeitamente. — Fez uma cara de dó e eu dei de ombros. — É difícil de admitir a solidão, mas saiba — Segurou minhas mãos entre as suas. O quê que essa garota quer afinal? Não estou entendendo nada. —...que estou aqui par o que você precisar. — Sorriu solidária e eu apenas assenti sem graça. Essa garota é louca também. Só tem me aparecido loucos nesses últimos dias. Será possível?

— Hum, obrigada (?) — Respondi sem saber o que falar, afinal eu não me sentia sozinha, vinha e ia quase todos os dias com Veronica. A encontrava nos intervalos também.

Definitivamente, Julie não é normal. Em anos estudando e fazendo trabalhos juntas ela nunca veio falar nada demais comigo, exceto por umas vezes em que me enchia a paciência com perguntas sobre pesquisas que, sem dúvida alguma, ela sabia mais do que eu.

— Ahrm-rã. — Escutei um pigarreio ao nosso lado e me virei com descaso. — Desculpa interromper — Estatizei ao ver Cheryl. — mas é que fui me sentar ali, — apontou uma cadeira. — e disseram que você estava lá, Julie.

— Ah, pode sentar aqui que eu já vou sair, só estava falando com a Toni. — Falou calma e naturalmente enquanto eu não conseguia falar nada.

— Certo. — Cheryl estava séria mirando alguma coisa, segui o seu olhar e me deparei com as minhas mãos ainda nas de Julie. Soltei-as no mesmo instante. Não que fosse algo errado, mas era estranho e... e me senti culpada (?)

— Até mais, Toni. — Julie se levantou sorrindo e beijou minha bochecha. Fiz que "sim" com a cabeça e ela se foi.

Sempre fui de ficar sem graça quando alguém me beija ou me abraça assim. Vai ver seja por isso que renego todo e qualquer tipo de demonstração de afeto. É que nunca sei como retribuir, sabe? Não seria nada normal alguém te beijar na bochecha e você retribuir. Totalmente estranho. E quanto aos abraços acho eles íntimos demais. Quando você abraça alguém é capaz de sentir a respiração da pessoa e até os seus batimentos cardíacos! Nunca me dei muito bem com essas coisas então melhor deixar no escanteio.

Senti meu celular vibrar e tinha uma nova mensagem. Quase nunca tinha novas mensagens por isso abri no mesmo momento empolgada.

"Recarregue já..."

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Where stories live. Discover now