Capítulo 11

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Sexta-feira.

Sexta-feira. Quinquagésimo sexto dia de aula. Fazem cinco dias desde o meu impulso nervoso quase causador do meu fim. Cinco dias quase completos que não troco uma palavra sequer com Cheryl. A minha vergonha tornou-se deveras maior que o meu bom senso. Na segunda-feira eu não pude encarar aquela garota, a qual por um triz não beijei. Meu nervoso por voltar a vê-la era tanto que acabei tendo consequências. Quando digo consequências, quero dizer um ataque de ansiedade causador de mais uma insônia que gerou uma dor de cabeça insuportável. Isso caiu como uma luva para mim, assim não precisaria inventar uma doença e faltar a aula. De qualquer forma, acabei convencendo os meus pais e não fui à escola. No mesmo dia recebi algumas mensagens das garotas.

Olha, Topaz, você pode gripar, ter enxaqueca ou até mesmo quebrar todas as suas costelas, só não inventa de morrer, não gosto de funerais. Fica esperta.

Betty e sua delicadeza de sempre.

Você vai ficar bem, não se preocupa, estou rezando por você.

O que as fez pensar que eu estava morrendo? Uma dor de cabeça não é indício de morte, não no meu caso.

Passo aí depois da aula.

Quando Veronica manda algo assim ela quer dizer: vai me explicar essa doença. E antes de qualquer dúvida, não, Cheryl não mandou uma mensagem desejando-me melhoras e isso não tem a mínima importância para mim. Eu não estou nem aí para ela. Cheryl não faz diferença na minha vida e acho ótimo não ter mais uma mensagem dela ocupando a memória da minha caixa de entrada. Já basta ocupar meus pensamentos e até abalar meu sistema imunológico.

Nunca pensei que a paix... calma, Toni, respira fundo porque é isso mesmo. A paixão fosse tão complicada assim. Dizem que é algo incapaz de definir, mas eis aqui a minha teoria sobre a paixão. Há dois grupos de pessoas, o primeiro enquadra as pessoas vírus e o segundo agrupa as pessoas células hospedeiras. Veja bem, os vírus têm as células específicas nas quais se hospedarão e isso é devido a afinidade que as hospedeiras possuem com as proteínas dos vírus, o que as tornam receptoras do maldito. Entendeu, não é? Eu sou uma célula hospedeira atraída por certos detalhes de um vírus que apossou-se totalmente de mim. Sinto muito ao dizer isto, mas o material genético viral do vírus Cheryl dominou-me e eu realmente não tenho como expulsá-lo. Argh! Odeio ter que admitir, porém eu sou apaixonada por ela!

Na segunda-feira estava esparramada no sofá da sala tentando assistir a um programa sobre moda quando escuto a campainha tocar. Quem poderia ser? Eu estava sozinha. Respirei fundo rezando para que não fosse um sequestrador, deixei o controle de lado e segui até a porta. Tocaram a campainha mais uma vez antes de eu abrir e revirar os olhos ao ver quem era.

— O que você está fazendo aqui?

— Sai da frente. — A garota me empurrou para o lado entrando em casa. Fiz o mesmo e tranquei a porta.

— Tenho certeza que era pra você estar na sala de aula.

— A notícia que chegou até a gente foi que você tava doente. Qual é! — Exclamou tirando a mochila das costas, sentando-se no sofá. — Você nunca adoece, Toni.

— A escola exagera. Eu só acordei com uma dor de cabeça, nada demais. — Expliquei voltando a me acomodar onde estava antes, porém sentada já que minha amiga ocupou a metade. — Mas como você conseguiu sair cedo? Ainda são... 11h:17min. — Conferi rapidamente o horário no celular.

— Fiquei com uma puta preocupação com você doente. Fui até à secretaria e fiz a secretária ligar pros meus pais para eles deixarem a escola me liberar e cá estou eu. — Apontou para si mesma sorrindo e eu fiz o mesmo. Confesso que foi um ato bonito da parte dela.

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Where stories live. Discover now