Capítulo 13

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"A razão tava tomando conta do meu ser, me cegando ao ponto desesperador, em que eu só pensava em sofrimento. Com certeza iria te magoar, algo comum em minha vida, mas só de ouvir a tua voz, as dúvidas e indecisões se vão, e só o que resta é o amor que sinto por você. Pensei muito no amanhã como se ele fosse o dono da minha vida. Esqueci que ele só pertence a Deus e não cabe a mim decidi-lo, e que Ele então decida o nosso futuro, pois no agora, que ainda pertence a mim, eu quero ter você em meus braços e poder te beijar como se fosse a última vez."

— Com certeza iria te magoar, algo comum em minha vida. — Repeti as palavras lentamente e fechei o livro.

Se eu pudesse voltar no tempo e ressuscitar algum romancista do século XIX ou XX eu com certeza faria isso e os confinaria em uma sala para que todos me explicassem como aquelas personagens sempre conseguiram resolver as questões amorosas e pra piorar encaravam aquilo como a coisa mais linda do mundo, mesmo quando estavam destinadas à um trágico e doloroso fim.

— Sorte de todos vocês eu ter nascido dois séculos depois. Muita sorte.

Bufei deitando-me e apertando o livro contra o peito. Estava ali sentada no gramado do quintal há uma hora. A insônia não quis descansar e me obrigou a fazer-lhe companhia. O sol já estava alto quando desisti de dormir e desci. Todos ainda dormiam por isso fui até a geladeira e peguei apenas uma caixa de suco que estava pela metade. Deduzi que ninguém mais iria querer e dispensei o uso de um copo bebendo direto da caixinha. Estava com sede, bebi tudo e quando terminei limpei a boca com a manga do moletom. Se minha mãe me visse fazendo isso iria parar um ano e me dar uma palestra sobre bons modos. Iria falar e repetir sobre como mocinhas devem agir.

Enfim, após o meu ato de mocinho fui para o quintal ler um livro que há muito estava guardado. Eu precisava encontrar alguma resposta sobre romances, mas não encontrei nada. Será que vendem versões comentadas? Ou será que poderiam fazer uma versão comentada da minha vida? Aceito qualquer coisa.

— Santo Cristo, Toni! — Em um susto sentei-me encontrando meu pai.

— Que foi?

— Achei que fosse algum ladrão! Não era pra você estar na casa de sua amiga?

— Eu não me senti muito bem e voltei.

— Não se sentiu bem pela segunda vez na semana? Será que está doente?

— Não, pai. É bobagem. Acho que estou estudando muito. Só isso. — Falar a verdade para quê?

— Oh, ok. Estou lá dentro, caso aconteça algo. — Apontou para a casa e eu assenti voltando a me deitar.

Fiquei mais um tempo olhando para o céu até que o sol resolveu enviar seus mais fortes raios numa tentativa de me cegar. Fechei os olhos, mas ainda assim estava incomodada. Precisava fazer algo para dissipar aquela agonia. Voltei a sentar-me colocando o livro ao meu lado.

Uma vez assisti, sobre como se deve meditar, eu um programa de TV. Nunca coloquei em prática aquilo que aprendi, até chamei meus irmãos para tentarem comigo, mas eles riram de mim e alegaram ter algo melhor pra fazer. Também liguei para a Veronica e perguntei se ela gostaria de meditar, porém ela disse que estava ocupada demais fazendo as unhas. E desde então desisti de meditar, mas por que não fazer isso agora? Me parece algo bem produtivo.

Pigarreei colocando minhas pernas na posição de meio lótus, coloquei uma mão sobre a outra em meu colo, fechei os olhos deixando a coluna reta e esbocei um leve sorriso.

— Ok, agora é só pensar no interior de minhas narinas e esquecer de tudo. Isso aí.

É realmente difícil ter que pensar sobre o interior de suas narinas, mas fazer o quê? Recomendaram isso. Nunca achei que pensar no interior de minhas narinas fosse algo tão difícil quanto não pensar em Cheryl. Claro que com a diferença que eu não quero pensar nela, não em grande parte das vezes. Permaneci naquela posição por um tempo desconhecido por mim. Ninguém havia me interrompido ainda, o que era ótimo. Eu precisava acreditar que aquele zumbido de silêncio em meu ouvido, os meus pés já dormentes por conta da circulação presa e a dor na minha coluna estavam atraindo bênçãos. Tinha que atrair qualquer coisa boa, ao menos! Já tinha desistido de manter o tal sorrisinho no rosto quando interromperam meu momento de paz.

𝐩𝐚𝐫𝐞𝐜𝐞 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐟𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐧𝐨𝐬 𝐟𝐢𝐥𝐦𝐞𝐬 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢 Where stories live. Discover now