Um lugar estranho

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Sive estava muito abalada com essa revelação e naturalmente tinha muitas perguntas mas, antes que pudesse fazer qualquer outra indagação Riona disse:

Precisamos voltar agora mesmo criança! –Algo muito importante aconteceu.

–Vamos criança! Lembre-se que no astral estamos onde nosso pensamento está. Então, mentalize seu corpo, e volte!

Sive fez o que Riona instruiu e quase que imediatamente estava de volta ao seu corpo, porém percebeu que já não estava mais no Hospital mas, num outro lugar, era um quarto numa casa estranha isso era visível, porém aparelhado como se fosse uma UTI, e estava sendo assistida por outras pessoas... Estava em outro lugar sim, mas onde...

–Riona, o que houve? –Onde estou?

–Menina, você acabou de ser retirada do Hospital.... Espere alguns minutos vou ver o que houve... –Você é capaz Riona, de ver o que houve? Sim criança, senti que estava acontecendo algo muito sério e, realmente, não estava enganada. –Espere um instante enquanto acesso o Akasha e volto em seguida... Riona em seguida entrou num estado como se fosse num transe era a imersão no Akasha exigindo atenção e concentração focadas.

Enquanto isso Sive tentava entender o que ocorrera, havia várias pessoas ao seu redor, porém não via Renée... Sive se deu conta do quanto se sentia desprotegida sem a presença do Médico, e no astral podia perceber que o redor daquele lugar albergava muito mais espíritos desorientados, corrompidos e hostis, sentia a densidade aumentada e opressiva daquele lugar como se a sufocasse, embora estivesse sendo cuidada com muito empenho. No entanto percebia nas pessoas que estavam ali uma tensão, ansiedade... Um medo latente que as compelia ao trabalho mas, qual o motivo? Após algum tempo Riona volta a si...

–Sive, minha menina pelo que pude ver você foi sequestrada do Hospital e o médico que cuidava de você participou, pude sentir que era algo muito urgente e necessário retirar você de lá. –Para saber de mais coisas é preciso de mais tempo... –Agora é preciso que se acalme e nas próximas horas reveja tudo que lhe aconteceu desde que chegou ao Hospital, é muito importante que repasse tudo com muita atenção, pois além de entender o motivo de estar aqui, lhe ajudará em sua decisão de ficar ou partir.

–Riona saber que meu pai ainda está vivo me fez considerar em ficar... –Preciso saber mais ao seu respeito...

–Após você repassar o que lhe aconteceu voltaremos a esse assunto, prometo...

–Sive usa então a mesma técnica para acessar o Akasha e rever toda sua trajetória desde sua entrada no Hospital até aquele momento. E, passo a passo todos acontecimentos se desvelam...

Desde o início a dedicação que lhe dispensa Renée chama muito a sua atenção. Ela se comove com a fé que ele tem em sua recuperação.... Com as várias vezes que ele adormece de exaustão na cabeceira do seu leito. Vivencia várias discussões envolvendo seu estado clínico e testifica que Renée sempre havia lutado por sua vida, algo que ainda hesitava em abraçar novamente. Nota os seus olhos constantemente procurando por algum sinal de vida senciente no seu corpo inerte. E percebe que as longas horas de cuidado que ele lhe dispensa, manipulando um aparelho que lhe proporcionava estímulos que ajudaram a clarear sua mente.

Nunca ninguém se importou tanto com sua pessoa.... Não enquanto um ser humano, ao contrário de como sempre vinha sendo tratada em sua vida pregressa, algo exótico, extraordinário; que tentavam, a todo custo, esconder do mundo.

Sive por fim terminou desejando muito saber quem era aquele médico, não bastava ter visto que o chamavam Renée, queria conhecer seus pensamentos, seu interior pois sentia que dentro dele se processavam mudanças e transformações extremas... E... Sive como uma Banshee não demorou muito mais para perceber que aquele médico teria um breve tempo de vida. E ela acabara percebendo depois de tudo que, em toda sua vida, nunca antes encontrara alguém digno do lamento de uma Banshee...

–Fui sequestrada Riona?

–Sim, Sive pois corria muito perigo ficando naquele Hospital...

–E ele planejou tudo?

–Sim...

–Todos aqueles ferimentos foram por minha causa?

–Sim, criança, para salvar sua vida caso ainda decida viver.

–Parece alguém especial, Riona, não é?

–Era apenas um Médico muito competente, porém totalmente imerso em si mesmo e com objetivos nada além de materiais como quase todos. –Isso até bem pouco tempo, agora está empenhando uma profunda mudança em seu ser, em sua alma. –Sive é algo muito raro nesse mundo, perceber que alguém está mudando, de fato, para algo melhor.

...

Enquanto Sive continua repassando tudo que lhe ocorreu no seu quarto em Divinópolis, Renée se sentindo melhor solicita sua saída do Hospital Ana Neri...

–Enfermeira Joyce, por favor, poderia me trazer o impresso de Alta a pedido?

–Renée, tem certeza? Creio que ainda não está totalmente restabelecido... –O Dr. sabe, tão bem quanto eu, que é grande a chance de uma complicação assim que sair do Hospital.

–Tenho certeza Joyce.

OK então.

Assim que a enfermeira sai para pegar o documento alguém entra no quarto...

–Como vai Renée? –Espero que bem... Dr. Paulo Veiga entra e sem disfarçar um sorriso sarcástico pergunta:

–Não sei se já sabe das novidades?

–Se for a notícia que a Fundação Novacheck incorporou o Hospital e demitiu o Dr. Palhares já estou sabendo sim, só não entendo por que não me demitiram ainda.

–Renée com o sequestro da garota não há motivo para demiti-lo já que não haverá desacordos de conduta. Além disso é muito competente em sua área, sendo assim a Fundação entende que seria muito interessante para a qualidade do serviço a sua permanência.

–Quanto ao Dr. Palhares por qual razão foi demitido?

–Por não concordar com as diretrizes da Fundação.

–Sei muito bem quais são essas diretrizes Dr. Paulo, para começar tenho certeza que irão suspender todos os programas beneficentes, não é mesmo?

–São inviáveis, além disso a Fundação já tem seus próprios programas... –Mas, voltando ao assunto, o que me diz sobre a sua permanência, inclusive a Fundação pretende aumentar generosamente seu salário.

–Não obrigado, se o Dr. Palhares está fora eu também estou e, caso queira saber, eu mesmo irei redigir minha carta de demissão ainda hoje.

–Que assim seja Dr. Renée, passar bem.

Logo após a saída deste outro ser inconveniente Joyce volta trazendo consigo o formulário de Alta a pedido.

–Dr. Renée, escutei que pretende se demitir e se me permite dizer, este serviço não será o mesmo sem você, não gostaríamos que saísse, tenho certeza que falo em nome de toda equipe.

–Obrigado Joyce, agradeço de coração a dedicação de todos aqui, sem os quais meu trabalho seria infrutífero, mas, infelizmente, já não tenho mais nada a fazer aqui...

...

Em Divinópolis Sive termina de rever vividamente, como são todas as experiências do Akasha, tudo que lhe ocorreu nos últimos dias... E o cuidado extremado de Renée lhe causa uma grande nostalgia

–Riona, por que ele tem se esforçado tanto assim?

–De fato, Sive, existe um motivo além da dedicação exclusivamente profissional.

–Trata-se de algo que aquele Médico traz dentro de si... Com certeza foi isso que lhe deu forças para mudar... –Alguns de nós, os mais afortunados, carregamos em nosso íntimo, talvez de vidas passadas ou de outros universos e só aguarda uma chance para aflorar... –Ocorre raramente e, por alguma razão, que nem eu mesma ainda compreendo, algumas vezes já nasce destinado exclusivamente a uma determinada pessoa entre tantas que cruzarão nosso destino.

–Ele veio a esse mundo para amá-la, Sive.... Profundamente.

A Última Bansheeحيث تعيش القصص. اكتشف الآن