Adam Novacheck

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—Dr. Renée, com sua licença, pois sei que está muito ocupado, sou o Dr. Paulo Veiga, administrador da fundação Novacheck de pesquisas hepáticas e preciso muito falar consigo.

Renée, escuta sem olhar para o colega, pois estava calibrando o aparelho de estimulação nervosa... O princípio era muito simples, consistia em se obter um potencial evocado, sendo que os potenciais evocados são sinais elétricos gerados pelo sistema nervoso em resposta a a algum estímulo. Em geral, estímulos sensitivos e, no caso, a estimulação no nervo mediano. A ideia, defendida pelo professor Nikolaiev, era conseguir estimular áreas dormentes do sistema nervoso central através desses potenciais evocados e, assim, fazer com que o paciente saia do coma profundo. Renée tinha muita esperança nisso, embora todos os procedimentos que foram implementados com esse método foram infrutíferos, fora o obtido pelo médico Russo... 

—Dr. Renée, insisto...

—Sei quem você é... Disse Renée ainda compenetrado ajustando o aparelho. 

—Você trabalha para o Sr. Adam Novacheck, aquele milionário que organizou essa fundação com o propósito de encontrar uma cura a filha, Milah Novacheck, que possui um raro tipo de cirrose biliar primária, aliás um raro e misterioso tipo de patologia que acabou por determinar cirrose no fígado da garota e, também, em qualquer outro fígado que se tenha tentado transplantar nela até agora. —Eu conheci pessoalmente o Sr. Novacheck e não me pareceu um sujeito do tipo filantropo, o que se sabe é que, anos atrás, durante a fundação deste hospital, uma equipe com a função de angariar fundos o contatou e ele se recusou a doar um centavo sequer, alegando que este hospital era inviável economicamente... —E, como pode ver, aqui estamos nós funcionando perfeitamente à margem de qualquer ajuda financeira do Sr. Novacheck, então a pergunta que fica é a seguinte:

—Se a filha dele fosse saudável, será que ele patrocinaria uma fundação desse tipo? 

—O fato Dr. Renée é que o fígado dessa paciente pode salvar a Milah, devo lhe dizer que fizemos testes com amostras enviadas e descobrimos que ele é geneticamente compatível e que, além disso, de algum modo que ainda não desvendamos, imune ao processo de cirrose que essa patologia causa; assim, um transplante hepático salvaria a garota. —Salvaria uma vida, Dr. Renée!

Renée ficou perplexo ante essa constatação... Estupefato com o poder que o dinheiro tem sobre as pessoas, com a extensão da capacidade de corrupção do poder financeiro, a tal ponto de fazer com que algum funcionário do Hospital contrabandeasse para fora amostras confidenciais do fígado da paciente retiradas durante a cirurgia

—E acabaria tirando a vida de outra pessoa, disse Renée que prontamente completou:

—Já que esta paciente ainda não está clinicamente morta.

—Será, Dr. Renée? Dr. Paulo Veiga perguntou com desdém.

A Última BansheeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora