Um plano desesperado

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Bem na entrada na comunidade de Divinópolis havia um restaurante que, entre outras coisas, servia pequenas refeições... O bar do Feijão. E era, justamente, em frente ao mesmo que se encontrava Renée, dentro de seu carro pensando profundamente em seu plano. Refazendo todo seu trajeto após a saída do hospital, rememorando todos os lugares por onde passou. 

Procurava se certificar que não havia esquecido algo. Pois sabia que no momento que descesse do carro não haveria volta. Depois de alguns minutos, após verificar várias vezes sua mochila e tendo a certeza que tudo estava certo, desceu de seu carro e se dirigiu ao bar. 

Assim que entrou chamou a atenção de todos os que ali estavam e a convergência dos olhares indicava ser notório que era alguém "de fora"... Sem se intimidar caminhou diretamente para a recepção tentando mostrar que sabia exatamente o que estava fazendo... Um sujeito corpulento que ali estava após dissecar Renée com um olhar perguntou:

—Qual o seu pedido?

—Feijão, soube que aqui servem um feijão tão bom quanto o da Vicentina. Disse Renée, sabendo que a  referência ao famoso feijão da Vicentina da Portela era a senha para falar com Liminha. Algumas pessoas levantaram das mesas e se aproximaram...

—O que tu quer com o Liminha? Disse o mais próximo.

—Diga que é o Renée, ele vai saber quem é.

—O primeiro deles que parecia o encarregado ali, se afastou, pegou o celular e fez uma ligação... Alguns segundos de conversa... O encarregado olhou surpreso para Renée... Encerrou a chamada e caminhou em sua direção...

—Tu deve ter mesmo muita bala na agulha, não sei quem tu é mas... O Liminha vai te receber agora mesmo. —Vamu!  —Pega tuas coisas e vem comigo na moto.

Renée pegou sua mochila e acompanhou o encarregado até sua moto... Durante o trajeto rememorava os acontecimentos do dia em que Liminha assumiu o controle de Divinópolis e da tentativa da gangue rival acabar com sua vida. Renée havia salvado a vida de Liminha, o novo chefão de Divinópolis, de maneira espetacular. E Liminha após se recuperar confessara:

—Renée soube que salvou minha vida e sou muito grato... —Por isso vou lhe dizer uma coisa... —Se precisar de algo pode falar comigo e se depender da comunidade será feito.

—Liminha por que isso tudo, você deu a volta por cima, agora tem dinheiro, acabou de produzir um filme que fez muito sucesso, o Garoto do Rio e agora está fazendo a continuação, Menina Dourada, não percebe que é um caminho sem volta amigo... —Você quase morreu!

—Renée, não tem jeito, o que eu quero mesmo nessa vida é ser um chefão do crime, mas a moda antiga...

E Liminha era mesmo, transformou Divinópolis numa comunidade com regras: 

Não se vendia drogas para quem não era viciado a não ser para quem era de fora. Não se roubava de mulheres, trabalhadores e idosos e os assaltos visavam prioritariamente ricos, principalmente os que notoriamente exploravam seus empregados. Havia normas para todas as atividades ali desde jogo do bicho até para as garotas que decidiam vender o seu corpo. E a regra principal era deixar em paz quem era da comunidade. Os infratores eram julgados localmente pelo Tribunal do Crime e as faltas mais graves frequentemente eram punidas com a morte.

Uma porcentagem do lucro Liminha usava para ajudar as pessoas mais carentes, por isso era muito querido ali. E nesses novos tempos onde criminosos não respeitavam coisa alguma, Divinópolis era uma comunidade à parte.

—Chegamos! Disse o encarregado parando a moto em frente a uma casa que parecia uma fortaleza bem no centro de Divinópolis.

—Tu pode entrar aí que o Liminha ta esperando lá dentro. —Vou esperar aqui para te levar de volta.

Renée agradeceu e entrou na casa. Onde seguranças o esperavam e escoltaram por vários cômodos até chegar numa sala ampla, onde Liminha estava esperando sentado numa enorme poltrona. Liminha acenou para que os seguranças o esperassem fora da sala. Se levantou e cumprimentou Renée.

—Como vai, Renée?

—Bem. Liminha e você?

—Vou bem, graças a você... —Se estiver precisando de alguma coisa, pode dizer.

Renée hesitou pois nunca na vida pensou que estaria ali naquela situação...

—Na verdade preciso Liminha e dentro dessa mochila está a minha parte daquilo que preciso, considere um adiantamento, o resto vou lhe trazer depois. Renée abriu a bolsa e nela estava o dinheiro que conseguiu sacar, de imediato, no banco e os dólares que havia separado para fazer uma viagem que havia planejado antes da chegada da garota misteriosa naquela noite. 

Liminha examinou a mochila e disse:

—É muito dinheiro! Logo em seguida espalmou as mãos significando que não era preciso.

—Amigo o que vou pedir é muito sério e ambos sabemos como as coisas funcionam, isso que eu trouxe, bem como o que eu irei trazer amanhá, será necessário. 

—Muito bem, Renée o que precisa?

—De um quarto numa casa segura aqui da comunidade.

—Isso, sem problemas Renée... —O que mais?

—Preciso instalar uma pequena UTI nesse quarto e aqui está a lista de tudo que é necessário e os locais onde comprar. —Preciso que alguém faça isso em meu lugar pois não posso estar associado a nada fora do normal.

Liminha examinou a lista... —Sem problemas também, Renée... —Mas qual o motivo disso?

—Para uma alguém que quero muito ajudar... —Também preciso de pessoas com conhecimento de enfermagem para cuidar dessa pessoa.

—Renée, existem dois grandes Hospitais aqui perto onde trabalham várias garotas que se formaram graças ao dinheiro da comunidade e que agradecem ajudando a gente quando é preciso. —Considere resolvido, também.

—Mas, então, quem é essa pessoa que você vai trazer para cá?

—Ainda não sei quem seja e essa é a parte mais difícil e delicada Liminha e para isso irei trazer o restante do dinheiro amanhã.

—Difícil, disse Liminha surpreso.

—Sim, e esse é o grande favor que vou lhe pedir. —Liminha, essa pessoa está internada no Hospital Ana Neri, onde trabalho, estava sob vigilância policial, porém amanha será suspensa, ou seja, não estará mais sob proteção... —Se for possível, quero que entrem lá vestidos com ternos pretos, mascarados e a sequestrem do Hospital. —Em seguida a tragam para cá e a instalem nesse quarto. —Tudo tem que ser muito sigiloso pois ela está sendo perseguida.




A Última BansheeWhere stories live. Discover now