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E lá estava eu mais uma vez, num bar qualquer, numa noite escura e sombria, sozinha e me afundando em mágoas passadas, levantei meu copo de soju mais uma vez até a boca e deixei escapar uma lágrima. Por quê? Era tudo o que eu queria saber... Eu não estava sendo o suficiente?

Se esse fosse o problema, poderíamos ter conversado abertamente, mas ele me fez de idiota, me envergonhou na frente de todos os meus amigos e parentes, me disse de uma forma tão normal que parecia agradável ao seu ver, um cretino como aquele não merecia meu choro, mas eu ainda sou humana, apesar de tudo, ainda dói tudo o que vivi naquele dia.

Meu celular começou a tocar na bolsa, resmunguei algumas palavras desconexas e o peguei, estava um pouco mole por causa da bebida, mas mesmo assim atendi a ligação sem nem ver quem era.

— Alô?

— S/N, onde você está menina? Estou desde às oito da noite te ligando, será que é tão difícil atender um celular?— perguntou minha mãe descontrolada, revirei os olhos.

— Ah, omma... Por favor, não me encha de perguntas hoje, estou sem paciência para respondê-las!

Aigoo! Não foi essa a educação que eu te dei, diga exatamente onde está.

— Estou num bar, satisfeita? Vou desligar agora.

Finalizei a chamada e voltei a beber o copo que estava na mesa, detesto ser incomodada dessa maneira, minha mãe sabe muito bem disso, estou com meus 30 anos e mesmo assim ela ainda me trata como criança.

Admito que antes eu era muito inocente, a típica jovem que acreditava em amores verdadeiros e finais felizes, mas quando percebi que isso não é real, foi tarde demais, machuquei meu coração e uma ferida incurável se abriu nele.

Me levantei da cadeira, a renomada Diretora Financeira S/N não poderia ficar daquela maneira, aos prantos por causa de um babaca qualquer, eu tinha construído um novo destino para mim, não está nos meus planos viver assim para sempre. Paguei a dona do bar e saí do lugar, comecei a andar pelas ruas tranquilas de Incheon, os carros passavam e as luzes dos postes iluminavam o caminho, eu não morava muito longe, então uma caminhada não faria mal algum.

Comecei a pensar em vários acontecimentos da minha vida, depois do meu término com Seo Chung Ho, por um momento pareceu que parei no tempo, tudo o que eu fazia era pensando nele e não em mim, não fazia ideia do quanto estava sendo patética dessa maneira.

Então me esforcei ao máximo e comecei a me focar em minha carreira profissional, foi quando consegui meu melhor emprego numa empresa de eletrônicos, me senti muito bem trabalhando por horas e horas, mas mesmo que eu me esforce muito, tenho que continuar impondo respeito sobre mim mesma, ser estrangeira e mulher nesse país dificulta ainda mais minha imagem como líder.

Parei de frente as escadas da casa da minha mãe, olhei para cima e respirei fundo antes de começar a subir, eu ainda moro com ela, mas por minha escolha, fiquei receosa em deixá-la sozinha. Meus pés tropeçavam de vez em quando, eu estava um pouco zonza, mas não deixava de subir. Malditas escadas!

Abri a porta com uma certa dificuldade, tirei os sapatos na entrada e andei até a sala, me deitei no sofá e fechei os olhos, tudo o que eu queria era dormir agora.

— S/N!— a mulher grita, me fazendo assustar— Você está nesse estado pela terceira vez essa semana, o que está acontecendo com você, minha filha? Eu já não sei o que faço pra isso acabar...

— Aigoo, omma!— protestei, ela se calou imediatamente.— Eu já sou de maior, posso me entupir de bebida o quanto eu quiser!

— Olha como fala comigo! Você deveria ter compaixão por mim, o que acha que eu fico pensando com você por aí bêbada? Não posso deixar que se destrua desse modo.

Ela continuou reclamando por mais alguns minutos, mas eu sinceramente não estava ouvindo, não queria ter mais dor de cabeça do que já estava tendo, tudo estava girando e eu não conseguia mais manter meus olhos abertos. Voltei a manter os olhos fechados e cai num sono muito profundo.

————— 🌹—————








Me sentei na ponta do sofá, com uma dor de cabeça muito forte e um humor nada bom, suspirei fundo e fiquei mais um tempo ali sentada, pensando em tudo ao mesmo tempo, passei a mão pela testa e me levantei. Ouvi vozes vindo da cozinha, não parecia ser só minha mãe que estava ali, fui até lá e me surpreendi assim que vi Jong Suk cortando alguns legumes na tábua enquanto conversava com minha mãe. Eles me olharam e logo deram risadas, com certeza minha aparência não estava das melhores, revirei os olhos e saí do cômodo indo direto para o banheiro.

Assim que me vi no espelho, levei um susto na hora, meu cabelo estava todo despenteado, o lápis de olho que eu tinha passado ontem borrou embaixo dos meus olhos e eu ainda estava com as mesmas roupas, parecia até que eu tinha desmaiado por dias.

Comecei a escovar os dentes, ao mesmo tempo que tentava tirar aquele borro, lavei meu rosto e terminei pegando um pente, arrumando devidamente meus cabelos. Fui até meu quarto e troquei de roupa, vesti um short jeans e uma blusa larga por dentro, me olhei mais uma vez para certificar que dessa vez estava apresentável e então voltei para onde aqueles dois estavam.

— Olha só quem voltou melhor!— disse minha mãe, dando um sorriso— Eu fiz uma sopa para ajudar na sua ressaca, está no fogão.

— Obrigada, omma!

Peguei uma tigela e coloquei o líquido dentro, me sentei na cadeira e comecei a tomar, aquilo ajudava mesmo. Percebi que Jong Suk me olhava, deve estar querendo que eu o cumprimente, mas não estou no clima para isso, então somente lancei um sorriso em sua direção. Faziam muitos anos desde a última vez que nos vimos, seguimos caminhos diferentes depois que eu saí da faculdade, mas vendo-o agora, parece que não mudou nada, tirando o fato de que está mais bonito e mais alto, ele sempre teve esse jeito tímido.

— Sua omma me disse que você está dando trabalho pra ela.— disse sentando-se de frente para mim.

— Ah, claro... Só estou vivendo minha vida, mas ela não gosta da maneira que faço.

— Eu sei que foi difícil pra você, mas tem que seguir em frente, aquele cara não merece nenhum sofrimento seu.

— Vamos parar com esse assunto...— abaixei um pouco a cabeça, me sentindo uma idiota— Por que resolveu aparecer depois de tantos anos?

— Bem...— coçou a cabeça, parecendo nervoso— Sua mãe não contou?— neguei, não estava sabendo de nada.— Eu fui despejado do meu apartamento, pedi para todos da minha família me ajudar com o aluguel, mas não fizeram nada por mim... Então sua mãe disse que eu poderia ficar aqui até conseguir um emprego e o dinheiro para voltar!

Abri a boca surpresa, mamãe é uma pessoa muito emocional, ainda mais para Jong Suk que ela trata como filho. Eu sabia que a família dele o tratava mal, mas não fazia ideia do quanto até ele me dizer isso. Seus pais morreram quando ele era criança e isso o deixou nos cuidados da irmã de sua mãe, uma mulher incrivelmente irritante e esnobe, ela sempre o tratou da pior maneira possível. Eu compreendia seu lado, mas gostaria de estar ciente da notícia de uma outra forma, porém, tê-lo aqui de novo me fará lembrar da boa época da minha vida, onde eu era inocente e nada antipática.

— Sinto muito, Suk...

Foi a única coisa que consegui dizer, eu não fazia ideia do quanto ele estaria sofrendo, espero que a vida não continue dura para esse pobre garotinho. Terminei de tomar minha sopa e me levantei, coloquei a tigela na pia e fui até a sala, eu iria aproveitar agora que temos outra pessoa para ajudar nos afazeres de casa.

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