c a p í t u l o d e z e s s e t e

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Mortos voltam mortos voltam vivos

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Mortos voltam mortos voltam vivos.

- Raven Town

  Quando Lincoln abriu os olhos, os olhos de verdade, sem zoom, sem lente, sem nada que mantivesse a cena capturada no tempo espaço, Scott e Duece não estavam lá

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Quando Lincoln abriu os olhos, os olhos de verdade, sem zoom, sem lente, sem nada que mantivesse a cena capturada no tempo espaço, Scott e Duece não estavam lá. Don era uma pedra, uma estátua imóvel, congelada. Johann estava ao chão. Uma flor vermelha nascendo em seu peito. Dois Craigs perfeitos apontavam suas armas saídas das entranhas da cidade dos mortos para onde Johann estivera de pé. Então Johann ergueu-se. Ele não estava morto. Não era um morto que voltara dos mortos pois ele nunca estivera com os mortos. Lance o ajudou a levantar.

- Eles não são capturados pelas câmeras - disse Vincent. Ele estivera calado por tanto tempo que Lincoln achou que o havia perdido em algum ponto da cidade. Vincent era calmo. Gentil. Não se encaixava nos filmes que Lincoln roterisava em sua mente. Ele morreria com um sorriso no rosto para não preocupar os outros. Lincoln sempre temeu ver esse momento, Vincent sumiria de maneira bela. Ele preferia apenas saber, ter um conhecimento vago sobre isso. Não reter todo o processo. Don tinha esse mesmo pensamento sobre Lincoln. Lincoln não percebeu que Raven Town já havia quebrado tanto dele, que pouco restara do antigo Lincoln. Pouco restara de cada um deles.
Lincoln perdeu-se em seu próprio espaço por alguns segundos, o mundo sendo expelido de seus pensamentos ocos. Então ele piscou. Ele tinha certeza que foi assim que o mundo fora criado: com um piscar de tempo.
Lincoln não havia entendido até observar todo mundo e piscar mais algumas vezes.
Eles não são capturados pelas câmeras. Sua câmera estava revolvendo um Carlisle solitário de maneira conspiratória. Mortos voltam mortos. Carlisle estava morto e era o único. Os outros apenas não estavam vivos.
- A coisa me acertou em cheio - disse Johann. A flor vermelha vinha do seu braço e não do peito. A adrenalina ainda o manteria bem por um tempo. A dor iria vir quando estivesse se acalmando. E viria maior ainda quando precisasse tirar a bala fantasma do buraco que abrira com afinco.
Quando todos estavam de pé, Don, Vincent, Hearth, Lance, Johann e Lincoln, os olhares não precisaram ser cruzados. Todos sabiam o que devia ser feito. Todos sabiam o que iria acontecer. Raven Town iria tentar segurá-los. Eles só precisavam ser mais rápidos. As pernas que os jogos de basquete e futebol e rugby e corridas aceleradas pela mata para gravar aves migrando moldaram agora serviriam para algo de verdade.
- Eu sou O Corvo - disse o cara morto de Raven Town, as mãos erguidas aos céus, o único olho que lhe restara, mais morto que toda a cidade. - Eu sou a ave que se alimenta da necrose, eu sou a morte vestida de homem, eu fui morto por um corvo e corvo agora sou. Raven é um homem sério. Sério é um homem Raven.
E os Craigs apontavam suas armas para os corvos nas janelas, e Pete tentava agarrar algo que não existia, nada ali existia, Pete tentava agarrar tudo. Carlisle era um homem sério. Sério é um homem corvo.
Carlisle estaria lá da próxima vez que Raven Town encontrasse novas vítimas.
Don tinha certeza que sumiria antes de ver o fim da cidade, mas ele já teve certeza sobre tanta coisa que nunca aconteceram.
Vincent segurava o braço contra o peito. O sorriso selvagem que não lhe pertencia, mas pegava emprestado sempre que algo louco acontecia, estava amontoado sobre seus lábios.
Hearth era só medo e ação. Os dedos prontos para serem enfiados em olhos e arrancá-los fora enquanto chorava por o estar fazendo. A confusão era uma amiga de Hearth, ele apenas não admitia isso para si mesmo.
Lance não era todo Lance. Não parecia um Brad. Ele só estava lá. Um figurante com falas, nada típico de Lance.
Johann parecia bem, bom, bem para o nível de loucura que o mundo jogava em sua cara a cada segundo.
Lincoln apenas observava, os joelhos meio cedendo, as mãos meio mortas ao lado do corpo, a câmera na direita, também parecendo meio morta.
Tudo está morto em Raven Town. Todos tinham uma grande consciência disso, embora cada fragmento de suas matérias gritassem por vida. Eles eram uma criação de Raven Town, uma diversão, um teatro de marionetes para entreter a cidade que é um monstro, ou vice-versa.
Eles tinham ficado tempo demais ali para entender que a coisa toda não era explicável. Sendo assim, não haviam cálculos numéricos, palavras mágicas ou que seja para fazer aqui parar. Raven Town só irá sossegar quando todos sumirem. Carlisle irá ficar. E apenas ele. Carlisle irá ficar para assegurar que mais gatos guerreiros virão para afrontar os corvos. Ele deixará um morto para trás e esse morto fará o mesmo.
Quando todos assentiram a voz em suas cabeças dizendo "no três", ambos contaram nos dedos. E Raven Town parecia estar contando também.
Um.
Os corvos se ofenderam com as armas dos Craigs e começaram uma discussão carregada de interrogações. As penas caíram como uma chuva negra.
Dois.
Pete agarrou-se ao primeiro objeto palpável que encontrou. Era um ser (ou parecia ser), era uma recém chegado ao mundo doido dos mortos não mortos, era Scott. As vozes em sua cabeça sendo cuspidas para fora.
Don estivera se perguntando porque, quando tornaram-se fantasmas, todos tornaram-se diferentes do que eram quando usavam carne e osso sobre as almas. Maxfield agora está fixado em pontos onde não existe nada, Graig são na verdade dois homens, suicidas e assassinos, Pete estava sempre se agarrando a coisas, Pearce (oh meu Deus, o temido Pearce Xander, o cara que dizem ter assassinado um colega de escola por causa de um Jaguar velho e desmotorizado) era um fantasma tímido, escolhido em um canto, observando tudo com olhos de quem está intencionalmente sendo deixado de lado. Eden escondia-se atrás de um Leo que escondia-se atrás de si mesmo, Dylan era sorridente, doentia e incessantemente sorridente, Todd era um monte de nadas unidos, Duece era agora um poço de decisões erradas, ele corria atrás do que deveria salvar e ignorava os inimigos com mestria, Vittore não era nem mesmo visto e Scott não se arrastava atrás de decisões que Pete tomasse pelos dois.
Agora, que dera a si mesmo esse tempo para realmente ponderar sobre todos e tudo e todas as coisas que viveram juntos sob o teto irregular do ônibus, Don percebeu que, na verdade, lá no fundo, na quela parte que você tenta esconder mas as vezes vaza por buracos abertos pelo tempo ou comodidade, todos eram exatamente assim. Maxfield estava sempre em um mundo invisível para os outros, Graig tinha esses pulsos que as vezes eram cortados por arames que nunca existiram, sempre olhando para o fundo do poço e tentando descibrir como seria ter seu corpo lá no fundo, Pete tinha esse medo da solidão, Pearce sofria do mesmo mal e fingia passar por cima dele com seus coturnos, Eden e Leo sempre se escondiam nas dores gêmeas que carregavam nas costas, Dylan era tímido, mas sempre estava louco por dentro, Todd era tudo pois tinha medo de ser vazio, Duece nunca tomava decisões, pois de as tomasse, erraria, Vittore sempre se mantinha no palco pois a falta de olhares o deixaria perdido, Scott sempre foi amigo de Pete, mas um não era o outro e ele sabia que tinha suas próprias pernas. Foi preciso sumir para serem realmente vistos...
Don sentiu-se enjoado, mas não havia tempo para isso.
Três.
Eles correram. Todos eles. Mortos e vivos.
- Não olhe para trás, não olhe para trás - Johann gritava às portas fechadas das casas.
Raven Town gritava a suas costas, era um animal medonho aquele no qual havia se tornado. Os corvos choravam perseguido-os, o farfalhar das asas encobrindo o medo crescente nos corações injetados dos garotos.
A rua se estreitava a medida que as luzes de Londres eram cada vez mais visíveis. Os anjos no cemitério os olhavam com esperança, os pontes antigos na estrada estavam acessos. Parecia uma travessia para um mundo de Alice através de tocas de coelhos ou espelhos mágicos, apenas a loucura era inversa - acabaria quando chegasse do outro lado.
Os sorrisos sobre os lábios de Vincent era esplendoroso. A sensação de vitória crescente na atmosfera os deixava meio altos.
Lance estava na frente, mas Lincoln o ultrapassou no último segundo - isso nunca aconteceria na Raven Town de antes, a Raven Town que não foi invadida por um veneno delirante. Lincoln abriu os braços, a linha de chegada estava ali, bem ali... Eles realmente tinham se livrado do monstro, eles ficariam com a fama e a fortuna no final de tudo. Todos gritaram em uníssono...
O grito foi partido ao meio. Era apenas um agora. Os anjos despejaram suas sombras compridas de fim de tarde sobre os pés de Lincoln. Ele olhou por cima do ombro antes de se virar, sorriso morrendo sobre seus lábios ainda quentes da felicidade repentina.
Não havia mais ninguém, era só ele e a crescente cessação de loucura em seu peito arfante.
Lincoln lembrou-se de quando costumava ficar em seu quarto, no segundo andar de uma casa com tantos tons de amarelo que parecia a descrição de uma doença, observando as crianças lá embaixo, na rua. Ele ainda não havia conhecido nenhum dos garotos intitulados como corvos e que, mais tarde, fora descobrir que se travavam de felinos. Ele via tudo de fora, imaginando o que estavam conservando, os assuntos que colocavam em dia, os que deixavam pra lá, as piadas obscenas que deixavam alguns tão tímidos enquanto outros riam e batiam palmas de aprovação. Lincoln nunca pareceu se encaixar. O mundo dos outros era muito vasto, ou o seu era muito pequeno. Talvez fosse o contrário. Ou os dois.
Ele havia assistido a uma quantidade considerável de filmes para saber como isso acabava. Eram dois os caminhos apontados pela solidão: esquecer ou enlouquecer. A segunda sempre os levava para casas gigantes e brancas, repletas de pessoas que eram perturbadas por pessoas que moravam apenas em suas cabeças vazias.
Lincoln sempre teve essa mágica dos homens em suas mãos: a possibilidade da escolha que sempre era sugerida, mesmo quando não tivesse ninguém lá para fazê-lo. Ele sempre ficara com o caminho mais fácil. Mas, desde que resolveu se arriscar e fazer parte dos garotos felinos em pele de corvo e esperar pelo ônibus azul em sua casa amarela todo verão, ele havia escolhido um caminho, havia feito uma escolha.
Lincoln não esqueceria.

     Lincoln não esqueceria

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