c a p í t u l o d e z e s s e i s

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Mortos voltam mortos

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Mortos voltam mortos...
O contrário um dia foi dito.
As coisas hoje se misturam, os homens já não seguem as leis do mundo:
Mortos voltam vivos.
Vivos voltam mortos.
Mortos voltam.
Vivos voltam.
Um dia.

– Raven Stevenson

De tempos em tempos, cidades simplesmente acabavam

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De tempos em tempos, cidades simplesmente acabavam. Não como nos filmes de faroeste e suas cidades fantasmas. As pessoas simplesmente iam não se sabe onde e não voltavam. As outras pessoas, as que sobravam, não tinham o que dizer. Elas simplesmente não se recordavam exatamente do que havia ali. Era uma cidade e existia, mas ninguém realmente conseguia recordar do dia em que não era assim.
     Como esperado de humanos sem respostas, eles criavam as suas próprias e espalhavam como se fosse a única.
     "A cidade sempre foi adornada por gangues. Acho que elas acabaram. Talvez o governo faça algo com isso" .
     "Sempre ouvi falar sobre essas bandas. Lugar esquisito. Ninguém moraria aí".
     "A cidade tomada pelo tráfico? Não, nunca pisei lá".
     Não havia resposta para isso. Era uma das coisas sem respostas que se espalhavam pelo mundo e viravam lendas e pilhas de mentiras e acusações.
     Há muitas coisas que parecem mágicas no mundo, que não são explicáveis com palavras, nem gestos, nem nada que humanos se acostumaram a fazer. Aqui alguém que deveria morrer, sobrevive. Ali, alguém que deveria sobreviver, morre. Um câncer curado, um acidente mortal. Um avião repleto de passageiros desaparece sem deixar vestígios. Um navio vazio é visto navegando sozinho pelos mares. Não é magia. Mas não é outra coisa.
     Raven Stevenson era um homem sério, que não acreditava muito no que não lhe era mostrado. Ele era em nada destinado a grandezas, e ele gostava dessa invisibilidade proposta a ele por sua própria viva.
     Seu nome foi dado a ele por seu pai. Esse Stevenson disse a senhora Stevenson que havia tido um sonho com corvos, e isso ficou em sua mente por tempo o suficiente para enloquecê-lo parcialmente. O pai de Raven era um homem ainda mais sério. À loucura era permitido apenas a superfície. Nada de mergulhar nas profundezas do Stevenson mais sério. Nada de segurar o fôlego por alguns minutos e voltar. Ela ficaria no razo. E isso teria que lhe ser suficiente.
     O que o Stevenson mais sério não sabia é que tinha cavado seus próprios sulcos na terra, permitindo que o razo ganhasse um pouco mais de volume. Os corvos não iriam deixá-lo louco, sussurrava pelos cantos, já enlouquecido.
     Eles moravam em uma cidadesinha na França. Era confortável, mas nunca pareceu ser a cidade certa.
     O Stevenson mais sério assistiu a uma reportagem. "Esta é uma cidade para sobreviventes. Se você vive a mercê de grandiosidades, me desculpe, aqui não é seu lugar!", dizia um homem barbudo, a camisa listrada suja de óleo de motor. Ele não parecia ser um sobrevivente de nada. Para esse Stevenson, aquele era só mais um, como qualquer outro. Mas aquela última parte, ele sentia aquilo. Aqui não é seu lugar. Não era. Aquela cidade talvez fosse. Talvez ali eles encontrassem o que faltava.
     A cidade era uma parente próxima dos Stevenson. Pacata. Segura. Pequena. Haviam corvos, seu nome era um corvo.
    Eles viveram ali por anos. Então, um dia saíram com pretensões de voltar, era aniversário de uma Stevenson que não parecia uma Stevenson. Quando voltaram não havia ninguém na cidade. Eles acharam que estavam loucos. A loucura do Stevenson mais sério havia contaminado todos os Stevenson.
     Raven fora morto por um homem que dizia ser O Corvo. Ele foi golpeado no rosto até que esse quase se liquefez. Quando a coisa morta simplesmente desistiu de Raven, Senhora Stevenson não conseguia reconhecer o filho. Metade do rosto era um Canyon desfigurado, fundo, com torções em sua volta e partes do cérebro e ossos e sangue e tudo. As unhas da coisa morta rasgaram suas costelas até que o osso estivesse exposto. Ela podia ver a violência, literalmente ver a dor. A dor era Raven. A violência era Raven. Raven era uma coisa morta agora. A coisa morta que se agitaria em seu estômago todas as manhãs e todas as noites e todas as horas e a deixaria louca.
     Raven Stevenson era um homem sério, que não acreditava no que não lhe era mostrado. Ele sabia que esse tipo de coisa acontece com gente que acredita no que não vê. Ele era do tipo que não acreditava mesmo quando visto. Ele não era destinado a grandezas.
     A cidade cuspiu os Stevenson mais velhos para fora. Eles morreram também, mais tarde, enlouquecidos pelos corvos em uma instituição para pessoas que agiam como eles, mas não passaram pela mesma coisa.
     Esse sempre fora o destino para quem restava.
     As coisas hoje se misturam, os homens já não seguem as leis do mundo...
     Vivos voltam mortos voltam vivos.
    ...pois eles descobriram há muito: o mundo é algo ao qual não se pode aplicar leis.

pois eles descobriram há muito: o mundo é algo ao qual não se pode aplicar leis

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