THIRTEEN: weak spot

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   — Bem, ela perguntou como você estava... O que foi estranho, já que falar o seu nome lá em casa é o mesmo que chamar por satanás numa igreja. – não pude evitar gargalhar. — Sem ofensa. – adicionou assim que percebeu a própria fala, como se fosse reparar.

   — Não ofendeu. Não falo o nome dela também. – dei de ombros, sentindo um peso incômodo e ansioso para mudar o rumo da conversa. — Respondendo à sua pergunta: não voltamos a nos ver, aliás, espero que nunca mais aconteça. – um gosto amargo se instalou em minha boca. — Sem ofensa. – ele riu.

   — Não ofendeu. – apesar de Steve ser muito próximo da irmã – pelo fato dela tê-lo criado mais que a própria mãe –, ele sabia que ela tinha sido uma completa desgraçada comigo. Por justa causa, preferíamos apenas ignorar o assunto. Considerei encerrado quando começamos a falar de outras coisas e, sorrateiramente, o tópico “Ahsley” entrou em jogo. — Dean, você é próximo da Ashley, sim? – cerrei os olhos quando ele perguntou, como se não fosse nada.

   — Sim. – confirmei, analisando seu rosto na intenção de encontrar algo que pudesse incriminá-lo.

   — Hm. – olhou para os próprios dedos, mas eu continuei encarando-o, com vontade de gargalhar de sua expressão acanhada. — Por que ela não gosta de flores? – foi inevitável rir alto quando ele perguntou rápido, como se estivesse arrancando um band-aid.

   — Bom, quando namoramos, ela preferia chocolate, mas não tinha nada contra flores. Que eu me lembre. – segurei outra gargalhada enquanto assistia sua expressão tornar-se emburrada. Essa era definitivamente uma parte de Steve que eu nunca tinha visto. — Por que a pergunta? – cruzei os braços, desconfiado.

   — Nada. Eu só estava me perguntando o motivo pelo qual ela jogou a flor que eu lhe dei no chão e pisou. – soltei mais uma gargalhada e ouvi Steve bufar em resposta. — Eu nem sei por que te perguntei, de qualquer maneira. Esquece.

   — Steve, a Ashley não gosta de garotos como você. – seus olhos, que antes estavam fixos em qualquer outro lugar, viraram na minha direção, brilhando em confusão e curiosidade.

   — De garotos como eu? Como assim? Que tipo de garotos? – perguntou, mais interessado do que eu já o tinha visto na vida.

   — Que tenham um cérebro. – gargalhei alto quando ele me direcionou um olhar entediado e, talvez, zangado. Steve jamais olhou para ninguém com raiva. Eu achei aquilo hilário.

   — Idiota. – murmurou e eu soltei outra risada. — E como está com a Samantha? Vi vocês no corredor abraçados, nem pareciam ter se beijado como se não houvesse amanhã há alguns dias. – ele ergueu uma sobrancelha, porque sabia muito bem que Samantha realmente não fazia ideia disso. Cerrei os olhos, desfazendo minha expressão divertida, foi sua vez de gargalhar.

   — Quem é o idiota agora?

   — Dean, sendo sincero, quando você pretende esclarecer as coisas pra ela? A garota está totalmente no escuro, cara. – não gostei do rumo que a conversa estava tomando. Eu não costumava falar dos meus sentimentos para Steve ou Hayden, sequer para Ashley. A única pessoa que tinha acesso ilimitado a eles era Samantha, até o momento em que eu precisei privá-la. A sensação é uma merda. Apesar disso, Steve era bastante perceptivo e observador – ou talvez eu fosse muito indiscreto, já que todo mundo parecia saber dos meus reais sentimentos pela minha melhor amiga.

   — Steve, acredite, é melhor que ela esteja no escuro. – respondi, na tentativa de encerrar o assunto, o que não aconteceu.

   — Melhor para quem? – franzi o cenho. Era óbvio que para a Samantha, por que mais eu estaria escondendo o que sinto, fazendo mal a mim mesmo, senão por ela? — Você sabe que está enganando a si mesmo com essa história de “não falo a verdade para protegê-la”. Você não está protegendo ninguém além de si mesmo. O que não tem problema, claro. Mas... Vale a pena? – cruzei os braços enquanto Steve continuava, me sentindo muito exposto de repente. — Quer dizer, você só está afastando ela. Tentando não se machucar de novo. – ele deu uma risada sem humor, balançando a cabeça em negativo. — Dean, você vai se machucar de qualquer jeito. Não adianta evitar esse tipo de situação, é a vida. Se você prefere desse jeito, tudo bem, mas você parece se importar muito com essa garota. Então, vale a pena machucá-la por isso? – assim que ele terminou, o silêncio se instalou. Parecia pesado demais, provavelmente era só eu; sentindo o peso da verdade jogada em cima de mim sem piedade. Acabei lembrando que aquele tipo de atitude parecia o tipo de coisa que Ashley faria. Se fossem um casal, partiriam vários corações juntos.

   Sem me dar chances de responder ao discurso de Steve, – graças aos céus – o sinal soou, sinalizando o final das aulas. Ele não esperou por mim quando atingimos o amultuado de adolescentes, seguindo sozinho e tranquilo, como se nada pudesse afetá-lo. Eu acreditaria se não tivesse visto sua reação ao falar de Ashley mais cedo. Depois de anos de amizade, eu finalmente encontrei o ponto fraco de Steve Tucker, mas eu ainda estava em desvantagem, porque ele já havia encontrado o meu há algum tempo.

   Fui até a sala de inglês, onde Samantha tinha sua última aula e não me surpreendi ao encontrá-la lá, junto de uma garota baixa de cabelos escuros. Encarei minha melhor amiga por um instante, sem me aproximar, analisando sua pose relaxada enquanto ela ouvia atentamente as palavras da outra, com uma expressão concentrada e as sobrancelhas franzidas – uma mania que, particularmente, eu achava uma graça. Mordi o lábio, as palavras de Steve ecoando em minha mente; não, não valia a pena machucá-la por nada naquele mundo. Mas eu também não queria me machucar, então talvez estivesse num impasse. Vale a pena arcar com a dor de não tê-la abrindo um sorriso acolhedor toda vez que via eu me aproximar? Como se ouvisse meus pensamentos, seus olhos finalmente encontraram os meus, e sua feição carracunda se desfez quando seus lábios formaram o sorriso mais lindo que eu já pude ver na vida. Aquele momento, em que nossos olhares se esbarravam e ela sorria para mim; aquele momento valia tudo.

   — Ei. – me aproximei, cumprimentando a garota cujo nome eu não sabia. — Dean, prazer. – ergui a mão e ela me encarou com os olhos transparecendo timidez.

   — Deborah. Mas todos me chamam de Debbie. – se apresentou, abrindo um sorriso pequeno e apertando minha mão. — Eu já vou indo, Sam, nos vemos? – Samantha confirmou, acenando para a outra que se afastava a passos rápidos para alguém tão pequeno.

   — Você realmente é um spray anti-garotas, não é? – ela se direcionou a mim. — É só você aparecer e elas saem correndo. Tsc. Como vou conseguir amigas desse jeito? – perguntou, soando abismada. Revirei os olhos.

   — Querida, você já viu como as garotas ficam perto de mim? Ela saiu correndo porque sou muito intimidador. – ergui as sobrancelhas e Samantha riu, me empurrando levemente enquanto saíamos do colégio.

   — Tão intimidador quanto um coala. – olhou para mim com os olhos grandes e espantados. — Olhando por esse lado, você realmente parece um coala. Uau! – gargalhei, sem conseguir fingir ofensa.

   Definitivamente, eu poderia passar por infindáveis torturas todos os dias, se, no final de cada um deles, pudesse ver um de seus sorrisos, sorrindo em minha direção, olhando nos meus olhos. Porque quando isso acontece, eu tenho a certeza de que tudo está bem. Tudo vai ficar bem enquanto eu tiver ela.

Espero que tenha gostado,

Nos vemos no capítulo BÔNUS!

Just Friends (HIATUS)Where stories live. Discover now