Orvalho

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Konoha

Domingo

No início da tarde, Tsunade apareceu no hospital com cara de insônia e ressaca. Fazia cinco minutos que tinha entrado no quarto onde a Sakura estava em repouso e colocado um aviso para não serem perturbadas, o que indicava que a conversa seria longa. Shizune ficou do lado de fora, esperando enquanto organizava algumas pendências do hospital. Desistiu depois da primeira hora.

— Shizune-chan — Naruto chegou animado com uma sacola de coisas. — Obrigado por ter ficado com ela — deu um beijo em sua testa. — Trouxe uma coisas para a Sakura —  começou a tirar itens da sacola e distribuir na mesa de trabalho dela. — Sempre que a gente viaja, ela detesta usar o shampoo de pousada, e todos esses dias ela ficou lavando o cabelo dela com shampoo de hospital, que ela diz ser muito pior.

— Isso não é verdade — Shizune contestou chateada, pois ela quem encomendava os cosméticos para o hospital.

— Você precisa entregar isso para ela, senão todo mundo terá que aguentá-la reclamar por semanas do cabelo — Shizune pegou o kit impressionada com a atenção que Naruto teve com ela. — A Sakura também gosta muito de usar esse moletom velho que eu tenho — mostrou dentro da sacola. — Como ainda tá bem frio, achei melhor trazer para ela. Ah, também tem isso — tirou do bolso do próprio casaco um isopor. — Comprei vindo para cá. Ela vai acordar furiosa por um doce.

— Que atencioso — Shizune o elogiou, apertando suas bochechas.

— Ai! Isso dói — alisou o lugar.

— Tenho boas notícias: a Sakura acordou e está bem. Mas pediu para ver Tsunade, e as duas estão há mais de uma hora trancadas no quarto conversando.

Naruto olhou para a direção do quarto da Sakura, em partes aliviado por ela estar bem, em partes preocupado por saber que Tsunade estava ali. A missão que fizeram foi um divisor de águas para a relação entre eles e a hokage. Se tudo o que Gaara contou era real, não poderiam mais ter Tsunade como amiga. Fora que Naruto sentia que ela devia muitas explicações, e não só para Sakura, para os três.

— Acho que elas vão demorar, Naruto. E do jeito que a Sakura está, provavelmente já receberá alta e irá para casa.

— Ah, tudo bem então — concordou claramente desapontado. Esperava poder vê-la para avisar que já tinha se mudado para o seu apartamento.

— Antes de ir, mais uma coisa — Shizune o chamou. — Preciso falar com vocês sobre algo muito sério. Você deve imaginar o quê — Naruto apertou os olhos, interessado. "Até Shizune estava envolvida?", pensava. — Aqui não é um local seguro para conversar. Se tiver alguma sugestão, avise.

— Pode deixar — Shizune sorriu amena e saiu para ajudar uma enfermeira que a chamava insistentemente.


.o0o.


Sakura ouviu Tsunade falar, explicar e se desculpar. Ouviu com muita atenção, seriedade e autocontrole. Não queria chorar ou demonstrar qualquer sentimento de fraqueza. Sabia que aquela poderia ser facilmente a conversa mais difícil de suas vidas.

Quando Tsunade parecia não ter mais nada a dizer e começar a ficar repetitiva, Sakura falou:

— Eu não entendo como você pôde. Depois de tudo o que você me viu fazer para me reerguer, coisa que você mesma me ajudou... Como você pôde me empurrar para aquilo, sem aviso nenhum, como se fosse parte de um plano, como se fosse algo banal? Como achou que colocar o Sasuke de volta na minha vida e me forçar a uma vingança me faria bem? Isso você ainda não me explicou. Aquilo não era sobre você ou sobre os interesses políticos de Konoha, era sobre mim — bateu no seu peito. — Era sobre o que aconteceu comigo, sobre o que me foi tirado, minha dignidade, minha força, minha honra, minha vontade de viver! Sinto que nunca mais vou recuperar o que perdi naqueles campos de batalha. Um pedaço de mim ficou e não foram eles que tiraram.

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