O abraço

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Eu vou contar tudo — Sakura concordou, mesmo que se sentisse humilhada por seu segredo ser de conhecimento de tantas pessoas. — Mas não vou abrir a boca com eles aqui. Quero os dois longe de mim — exigiu, ainda com o olhar fixo no kazekage.

Ela não sabia se a raiva que tomava conta de seu interior foi despertada no momento em que Gaara a colocou contra a parede, mesmo sabendo a resposta; quando percebeu que o Naruto sabia de tudo e não teve a decência de avisá-la, ou quando ouviu sua própria voz desistindo de manter a situação para si. Sabia que não era obrigada a revelar absolutamente nada de sua vida pessoal, contudo, entendia o que Gaara havia explicado, que de alguma forma, aquilo estava ligado com a missão.

— Naruto me disse que seria mais difícil persuadi-la a falar — Gaara confessou quando ficou sozinho com a Sakura na sala. Ela não esboçou nada, continuou apenas fitando-o, esperando que dissesse o que havia ensaiado dizer. — Sei que não é uma situação fácil, Sakura...

— Você já foi estuprado? — Gaara pareceu surpreso com a pergunta. — Já? — Sakura insistiu, e quando o silêncio dele foi a única resposta, ela definiu — Então você não sabe de nada — limpou as lágrimas. — E eu achando que você fosse um cara legal... — riu desacreditada.

— Espero que entenda que estou tentando fazer meu trabalho e ajudá-los.

— Você poderia ter feito de várias formas, mas escolheu a pior, por isso me sinto no direito de não entender e não perdoá-lo por me deixar tão vulnerável na frente do Naruto e do Sasuke. Só vou colaborar com você porque sou profissional e sei que meus sentimentos não devem interferir na missão, independente do que seja.

— Só me conta a sua versão dos fatos para eu bater com o que o refém disse, e se as histórias baterem, você estará liberada.

— O que quer que eu diga? Não lembro de muita coisa. O garoto me levou para um pantano, me envenenou e o resto você já sabe — disse impaciente, num fôlego só.

Quando ela viu de relance a imagem do garoto de novo, o única que reconhecia, sentia-se usurpada até nas suas memórias. Poderia ter facilmente cruzado com os outros homens sem saber o que eles tinham feito com ela. Sakura sabia que em algum momento aquilo não seria mais segredo, seja quando Tsunade encontrasse os responsáveis ou quando ela decidisse expor sua experiência para outras jovens kunoichi. Contudo, sempre que imaginava esse momento chegando, a imagem em sua mente era completamente diferente daquela, sentada em frente ao kazekage chorando como uma garotinha. Talvez em outro cenário ela não se mostraria tão vulnerável, mas a fotografia trouxe à tona as piores memórias, o arrependimento.

Em todos os seus pesadelos e insônias, pensava que não tinha se esforçado o bastante, que não se debateu o bastante, não gritou o bastante. Seu corpo estava adormecido pela droga, mas ela era médica, e das melhores. Tinha controle preciso de chakra e não pôde driblar um veneno rudimentar do seu organismo? Ela poderia ter evitado, pensava. Culpa sua. Culpa da sua incompetência.

Foram duas horas de perguntas e respostas sobre todo o interrogatório que fizeram o refém. Teve que reconhecer, ainda que detestasse, que Gaara realmente tentou ser o mais respeitoso e sensível à situação, o que não mudava o fato de que ela tinha sido exposta e estava sendo usada para validar informações de um refém desesperado por anistia. Surpreendeu-se com todos os detalhes dados, coisas tão específicas que ela não saberia dizer. Quem quer que fosse aquele refém, fato era que existia uma proximidade com os responsáveis pelo crime que deviam se vangloriar da atrocidade praticamente impune que cometeram. Perguntou ao Gaara onde o homem estava, e ele se recusou a responder. Sakura queria pedir para matá-lo, mesmo sabendo que isso seria negado.

Gaara não se sentiu melhor quando a liberou. Sabia que o que acontecera ali, marcaria a vida da garota para sempre e poderia até interferir na amizade da equipe. Entretanto, o mistério estava solucionado, e agora eles tinham uma direção precisa para atuação, seja para defender os interesses de Suna quanto aos de Konoha.

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