12.Caminho Improvável - Parte II

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Pandora

Pandora estava tendo problemas para dormir. Não por causa da cama de palha desconfortável ou das inúmeras mentes roçando a todo o momento em sua consciência. Aquilo era o de menos. Três dias atrás, quando saíra do palácio a procura de seu melhor amigo e suposto assassino, estava chovendo muito. Porém, tola como era, pensou que fosse mais uma das simples chuva de verão que sempre caia em Aentriv. Passará logo, disse a si mesma, montada em Amelina. Entretanto, o temporal se arrastou pela madrugada e seguiu pelo início da manhã. Pandora não parou e, infelizmente, as estradas secundárias que pegara não estavam bem pavimentadas. Amelina acabou escorregando na lama e nas pedras, lançando Panda para fora da cela. A égua caiu, mas não quebrou nenhuma pata, diferente dela, que fraturara o pulso esquerdo, deslocara o ombro direito e ainda torcera um dos tornozelos.

Sem conseguir andar, Panda se arrastou para em baixo de uma árvore, longe da estrada. Amelina a seguiu, fiel. As duas perderam o dia inteiro recuperando-se. Panda conseguira colocar o ombro de volta — que mais tarde começou a ficar inchado — porém não havia nada que pudesse fazer com o pulso e com o tornozelo além de um torniquete mal-feito. Ela estalou a língua. Primeiros socorros nunca tinha sido seu ponto forte.

Na manhã seguinte, mais forte e disposta, Panda conseguiu se arrastar pela estrada, ainda sem condições de cavalgar. O dia foi repleto de paradas e pouco avanço. Nesse ritmo, ela seria pega por um grupo de busca. Felizmente, seu conhecimento em botânica era extenso e com uma pitada de sorte, achou uma planta pequena e muito verde — que crescia nos dias quentes e morria no inverno — que conseguia disfarçar seu cheiro por algum tempo. Panda a colheu, a amassou até virar uma papa e esfregou nos punhos, na base do pescoço e nas pernas.

A viagem seguiu entre dor e tensão até uma minúscula vila. Panda, exausta e dolorida, deu-se o prazer de parar em uma estalagem. O atendimento era bom, o quarto limpo e a refeição gostosa. Tudo que ela precisava. Entretanto, o destino não a deixou esquecer o que exatamente Panda estava fazendo e como era estúpida por ser tão impaciente. O inchaço do tornozelo estava do tamanho de uma laranja-sangrenta e o pulso curava-se com lentidão. Ela não conseguia dormir sem sentir desconforto ou dor — ou ambos.

Outro motivo pela insônia ia além do físico. Mika está morta, sua mente dizia para ela toda vez que parava para relaxar. O Rei está morto. E a culpa é do seu amiguinho traiçoeiro. Os olhos marejavam nessas horas, mas ela forçou-se a não chorar. A situação poderia estar clara para os tolos. Entretanto, para ela, que conhecia os membros reais como sua própria família, não enxergava sentindo nenhum nos acontecimentos.

Como foi o assassinato? Quem orquestrou aquilo? Por quê? Será que foi mesmo Alec? Não poderia ser uma pessoa parecida?

Ela parou com as perguntas para se focar nos fatos. Ela conseguira "ouvir" que Kairo recebera um convite do pai para uma reunião particular. Ele estava indo para o quarto do mesmo quando ouviu algo através da porta da irmã. Preocupado, o príncipe entrou e se deparou com uma figura masculina — supostamente seu irmão mais novo — com sangue nas roupas, enfrente a cama, com a Mika entre suas mãos, a garganta cortada. Kairo jurou ver o assassino sorrir para ele e, antes que pudesse reagir, saltar pela janela. A partir daí, não conseguiram achá-lo em lugar algum.

Panda conhecia o Príncipe Herdeiro. Os dois eram amigos muito próximos, tanto que ela o considerava como um irmão mais velho. Kairo sempre falava a verdade, mesmo quando estava encrencado. Ele dizia repudiar os mentirosos e por diversas vezes brigou com os irmãos mais novos quando os pegava mentindo. Fora um bom garoto e era um excelente homem. Panda sabia que o príncipe acreditava fervorosamente em sua versão da história, sem mentiras ou omissões. Kairo culpava por completo Alec.

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