4. Ruínas - Parte II

9 0 0
                                    


Wing

Wing estava farto daquela escola. Estava cansado de todos aqueles garotos mimados e professores rabugentos, dos horários restritos e das refeições reguladas. Ele queria sair daqueles muros para ver o mundo. Porém, quando olhou para o velho professor de geometria, seus sonhos foram partidos e esmagados. Ainda levaria um bom tempo até que se visse livre daquele internato, cinco anos para ser mais exato. Wing abaixou a cabeça, batendo-a levemente na sua mesa de madeira, os braços pendendo na lateral de seu corpo.

— Senhor Swann, lamento por está atrapalhando sua soneca — falou o professor, as palavras ácidas como veneno de cobra. — Venha aqui e responda essa questão, agora.

O garoto xingou mentalmente o velho feiticeiro e ergueu-se, os olhares dos colegas acompanhando sua caminhada até o quadro. Wing controlou-se para não corar de vergonha. O professor enfiou o pedaço de giz na mão dele e cruzou os braços em frente ao corpo. Wing engoliu em seco e virou-se para ver uma complicação de números e letras aleatórias. Relaxe, equação não pode ser tão difícil, apenas respire e lembre-se. Wing investigou sua memória, mas, por mais que remexesse nela, não conseguia se recordar de nada. Era como um grande vazio em sua mente, onde as aulas e os exercícios não existiam. O professor batia o pé no chão, os colegas murmuravam, a pulseira em seu pulso estava coçando. Aquela sinfonia de pequenos barulhos estava enlouquecendo-o. Ele só queria correr e gritar.

E, como um milagre, o sino da escola tocou, o professor resmungou e Wing abriu os olhos. A turma estava liberada e quarenta meninos levantavam-se para recolher seus materiais. Wing largou o giz partido ao meio na lousa e apressou-se para pegar a mochila. Deu uma última olhada no professor carrancudo antes de disparar para o corredor.

Wing foi arrastado pela multidão de alunos nos corredores. Ele sabia que não adiantava lutar contra aquela correnteza de corpos e deixou-se ser levado. Os alunos convergiam em um único lugar: o refeitório. Famintos e cansados, os meninos empurravam-se para acharem suas mesas. Wing dirigiu-se a mesa da sua série, o seu estômago retorceu-se quando viu um prato fundo cheio de um líquido branco. Os colegas não hesitavam, enfiavam suas colheres na refeição e engoliam a gororoba. Wing ficou mordiscando seu pão por alguns minutos até o inspetor passar e o forçar a comer sua papa. Não teve escolha, foi obrigado a empurrar aquela coisa asquerosa goela abaixo. Pelo menos não tem gosto, pensou o garoto, sentindo o líquido descer pela garganta, mas a sensação de engolir é repugnante. Em um intervalo curto de tempo, Wing terminou seu jantar e levantou-se para ir embora.

Carregando a mochila pesada, ele enfrentou outra maré de meninos, que, naquele momento, não tinham uma mesma direção. Wing levou vários minutos tentando chegar até o dormitório. Ele suspirou quando sentiu a porta do quarto fechar a suas costas. Lynn ergueu a cabeça para observar o recém-chegado.

— Boa noite — disse Wing, educadamente. O garoto na cama respondeu com um resmungo e voltou a ler um livro, a vela queimando na mesa de cabeceira.

Wing respirou fundo, empurrando sua mochila para baixo da cama. Tirou os sapatos e se dirigiu até o quarto de banho, onde uma banheira cheia de água o esperava. Limpou-se rapidamente para aproveitar a água morna. Quando voltou para a cama, o colega já tinha dormido. Wing franziu o cenho. Lynn sempre se esquecia de apagar a vela. Aproximou-se do menino adormecido, checou sua respiração e sorriu. Lynn tinha um sono muito profundo, não acordaria nem para ir ao banheiro de noite. Wing assoprou a chama e deixou a visão se ajustar a escuridão. Abriu a janela e inspirou o ar fresco da noite. Ele sorriu e pulou a abertura. Wing rolou na grama e levantou-se sem nenhum arranhão. Em pé, correu para se esconder atrás de uma pilastra, uma lanterna a distância vinha em sua direção. Ele segurou a respiração e contou. 1...2...3... o monitor checou sem pretensões um armário e seguiu em frente. 4...5...6... o garoto mais velho bocejou, apertou o passo e passou as pilastras próximas. 7...8...9... finalmente tinha alcançado o local onde estava Wing, mas não se deu ao trabalho de olhar mais nada, estava cansado e só queria terminar a patrulhar para ir dormir. 20... 21... 22... o veterano distanciou-se e, fora de vista, Wing saiu de seu esconderijo.

A Lei da EspadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora