2. Opostos - Parte II

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Lyss


A viagem era longa e cansativa com poucas pausas em estalagens precárias e de comida sem gosto. Mas, apesar da sujeira e dos longos 4 dias atravessando estradas de terra cheias de buracos, a pior parte era a carruagem. Era uma coisa preta, claustrofóbica, que balançava muito e a deixava com o estômago embrulhado. Ela parara três vezes só para vomitar na beira da estrada.

— Vossa Senhoria, não quero ser rude, mas não podemos ficar parados por muito tempo nesse lugar — disse Clay, o mensageiro real que batera em sua porta uma semana antes. Lyss sabia que era incomum o rei mandar seus mensageiros, principalmente convocando a maior parte da nobreza de toda Infrante. Deveria ter acontecido alguma coisa catastrófica no reino para que ele a convocasse.

Lyss inclinou-se sobe um arbusto, tentando não parecer tão estúpida como achava que estava sendo.

— Só um momento, por favor — ela viu os grandes olhos azuis de Clay saltarem de seu rosto rechonchudo, mas, Graças aos Deuses, ele não falou nada. Não precisava que ninguém dissesse como ela estava horrível.

Pensou em todas as possibilidades para a convocação. O mercado estava conturbado pelo mar por causa de inúmeros casos de piratas que saqueavam navios e incendiavam vilas. O boato dizia que o comércio de Ourtaips, um grande império no outro lado do mar, estava com carência de escravos e contratara mercenários para invadir vilas humanas de outros reinos. Entretanto o rei tinha se pronunciado semanas antes e prometera que iria mandar tropas marinhas para patrulharem as costas e defenderem o território do sul, em Long River.

Depois de esvaziar o estômago, tirou um tempo para respirar antes de subir na carruagem apertada. Ela deveria ter comprado outra há anos, uma que não fosse tão sombria e escura, mas decidira poupar dinheiro para construir um novo celeiro em sua propriedade. Clarie estava encostada na parede, os olhos vagando pela janela que não abria. A acompanhante não a olhou enquanto ela entrava, acenava para Clay e fechava a porta, colocando aquele cubículo em trevas e sombras.

O cocheiro seguiu, sons dos cascos e do balanço da carruagem quebravam o silêncio. Lyss inclinou um pouco a cabeça no encosto, observando as luzes mágicas conjuradas tremularem. Ela tentou melhorar o ambiente abrindo as cortinas, mas tudo ainda parecia engolido em escuridão.

Será que é aniversário de alguém?, pensou por um instante Lyss, mas descartou a ideia. Era uma reunião oficial. Não um baile para comemorar a data de nascimento de algum membro da família real. Aliás, ela lembrava-se muito bem dos aniversários de Mika, Alec e Kairo. O príncipe mais novo já tinha comemorado o dia do seu nascimento no início da primavera, enquanto seus dois irmãos, ainda fariam suas respectivas comemorações na metade do próximo inverno. Eles estavam no meio do verão.

— Quanto tempo ainda falta? — perguntou Lyss, prendendo um suspiro de tédio.

— Hum — o mensageiro coçou o queixo, olhando para o céu e para a estrada que passava em borrões. Lyss desviou o olhar da janela, o estômago embrulhando-se. Ainda bem que decidira ir de carruagem, trens ainda era um mistério para ela. Não passavam de grandes máquinas modernas movidas a magia do ar que tiravam seu apetite só de olhá-las — Talvez em uma hora estejamos entrando nos portões da cidade — ele sorriu, os dentes amarelos e sujos. Controlando o humor, Lyss anuiu, voltando a encostar-se.

Clarie parou de fingir que não estava ali e virou seus olhos pequenos para o mensageiro.

— Como é a cidade de Aentriv? — ela tentou, mas a curiosidade escapou em sua voz. Clarie sempre morara no inteiro das Terras do Rei, quase em divisa com Iris. O máximo que ela tinha visto eram campos de gado e plantações de arroz.

A Lei da EspadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora