Jeonghan

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Estava frio. Aquelas cobertas eram muito finas e não aqueciam de forma correta aquele pequeno corpo deitado na cama do hospital.

Acordou tremendo, com os dentes batendo, não sabia onde estava. Sentia medo, a grande janela aberta deixava o vento entrar e o olhar curioso sair para vislumbrar a bela visão que tinha da cidade.

Se sentou com dificuldade, mas apenas assim notou que seu corpo estava com algumas faixas, e que sua cabeça estava coberta por gazes. Ele havia sofrido um acidente?

Um fio ligava seu pulso até o saco de soro no alto do suporte, então pegou o mesmo de lá, para que conseguisse sair da cama e andar por aquele quarto.

Havia outras camas ali, mas todas vazias. Havia desenhos coloridos e alegres na parede, fazendo a pequena criança sorrir com isso.

Se aproximou da grande janela, toda a cidade estava iluminada, prédios altos tinham decorações assim como o seu quarto, mas o que era toda aquela decoração? Onde estava? O que era isso que caia do céu e deixava os telhados brancos?

Estava submerso admirando todo aquele local, que sequer notou quando a porta foi aberta e a luz do quarto foi acesa.

- Oh, ele já acordou. – a mulher disse enquanto se aproximava dele. Se sentiu ameaçado naquele momento então se encolheu no chão e abraçou suas próprias pernas, assustado.

- Ele está com medo, não se aproxime tanto assim. Qual o seu nome? – o homem parou aonde estavam enquanto fitava o menino de fios loiros.

- E se ele for americano? – a mulher tornou a falar, mas logo soltou uma pergunta para o menino – What's your name?

- What's... Yun? – perguntou o garoto confuso, não entendendo a pergunta nem o que foi dito, apenas tentou repetir.

- Certo, Yoon. Já sabemos o sobrenome. Where are your parents? – o de fios loiros se encontrava nervoso, angustiado, não entendia nada que o homem dizia, apenas deixou que as lágrimas rolassem pelos seus olhos.

- Hey, não chore... Está tudo bem. – a mulher se aproximou com pressa e abraçou o corpo pequeno que estava no chão – Ele está frio, preciso de cobertores mais grossos para ele. Eu falei que ia nevar nessa noite de natal, mas acharam que só esses coisinhos iam proteger a criança.

- Yoon, oito anos, encontrado ferido e abandonado em um terreno próximo à rodovia principal de Seul. Nós vamos ter trabalho.

~ εïз ~

- Mas... Vocês não podem fazer isso! Os pais dele ainda vão aparecer, ele vai falar o nome dele. O governo não pode chegar assim e tirar uma criança do hospital quando bem achar que ela já está boa. – a mulher que vinha cuidando do garoto naquele hospital se recusava a abrir mão do garoto, sequer havia convivido muito com ele e já havia criado um laço com ele, ele se mostrava tão frágil.

- Na verdade nós podemos sim. Se nenhum responsável aparecer ou alguém que se pronuncie para adoção, a criança será do orfanato municipal, a senhora querendo ou não. – respondeu o homem de terno, já irritado pela teimosia consecutiva da enfermeira. Fazia dias que estavam nesse mesmo bate boca, mas agora com um mandato oficial, eles poderiam levar a criança.

~ εïз ~

Novamente havia pedido hora extra no hospital, apenas para ficar mais tempo cuidando da criança de fios intrigantemente loiros. Entrou no quarto, e como toda noite, ele estava sentado em uma cadeira, olhando pela grande janela.

Seus olhos castanhos refletiam todas as luzes espalhadas pela cidade, seu quarto sempre ficava escuro a noite, pois ele aparentemente amava olhar o céu. Após um bom tempo fitando o menino em silêncio, a mulher finalmente falou.

- JeongHan... – o menino a encarou de forma curiosa, e logo ela sorriu para continuar – JeongHan, pode significar via láctea*, e eu posso ver várias constelações nos seus olhos, várias estrelas e planetas. – o pequeno saiu da cadeira e foi com passos saltitantes até a mulher e a abraçou.

- JeongHan... Obrigado. – o menino nunca falou uma palavra, após aquele "Yun", nunca disse mais nada. A mulher estava verdadeiramente feliz por ter ouvido aquilo.

- Você entende o que eu falo? – perguntou curiosa, e o menor pensou um pouco antes de responder.

- Pouco. – outra palavra. A mulher se sentia a pessoa mais feliz do mundo naquele momento – Mamãe, seu nome. – ah, agora sim ela era a mulher mais feliz de todo o mundo, sem nem uma sombra de dúvidas.

- Choi Suyeon. Suyeon. – disse com um sorriso aberto, enquanto abraçava a criança em seus braços. Ela poderia fazer a maior besteira da sua vida, mas ela faria com uma boa causa e um sorriso no rosto.

~ εïз ~

- A senhora tem certeza disso? – perguntou o homem de terno, sem acreditar no que ouvia.

- Não me chame de senhora, não passei nem dos trinta e três anos direito. E sim, eu vou adotar a criança. – disse com firmeza na voz, vendo que o homem não iria querer ceder a ela.

- Mas você não sabe nem o nome completo dele, nem mesmo sabe a data de nascimento dele e –

- Yoon JeongHan, oito anos, e pelos dados que conseguimos pelo exame de sangue, nasceu mais ou menos no dia quatro de outubro. Seu cabelo é loiro natural e ele consegue entender o coreano com certa dificuldade. Quer mais alguma informação?

~ εïз ~

You're my angelWhere stories live. Discover now