Lembro-me de quando conheci Jeongguk. Ele ainda fingia ser Heejin, e eu não pude deixar de ficar encantado pela forma peculiar com que ele decidiu se apresentar. Assim que piscou para mim na frente da minha família, eu soube que ele possuía coragem e destreza, algo que eu gostaria que minha futura escolhida tivesse, para compensar a falta desses atributos em mim. E tudo se intensificou quando nos encontramos no lago. Na ocasião, eu achei deveras estranho uma dama estar tão afastada das demais e em um ponto mais turvo e isolado, mas sequer cheguei perto de desconfiar do verdadeiro motivo. Naquele dia conversamos pouco, e eu me permiti confessar um segredo, mesmo sabendo que ele não entenderia o real significado de minha mensagem. Eu sentia necessidade de me abrir com ele.

Me recordo de voltar para meu quarto nesse mesmo dia e sorrir que nem um idiota, pois sua presença me cativou. O tempo foi passando, e eu até me permiti ficar feliz por conseguir sentir atração por uma mulher, pois esse era o propósito da Seleção: fazer eu me interessar por garotas e deixar de gostar de meninos. "Me curar", como minha mãe gostava de dizer. Mas, tudo mudou quando tivemos nosso primeiro encontro, e Jeongguk caiu por cima de mim. Tudo aquilo que eu havia pensado ter mudado em mim me atingiu como um soco e me fez lembrar dos conselhos que Jimin havia me dado. Para eu parar de tentar agradar minha mãe e aceitar quem eu era de uma vez por todas. Mas não tive coragem, eu não era como ele. Não era corajoso.

Meu pai nunca soube do pequeno caso que tive com o filho de uma das servas do palácio, pois aconteceu durante uma de suas viagens à Silla, e a reação de minha mãe me deixou tão assustado que jamais tive coragem de contar a ele. Não suportaria ver o mesmo olhar que ela me lançou em seu rosto.

Eu acabara cometendo um deslize ao trazer o menino para meu quarto. Eu era muito inocente e não media as consequências de meus atos, sequer imaginava o impacto que eles desencadeariam na minha vida e nas vidas daquele garoto e de seus familiares. Não fizemos mais que trocar beijinhos rápidos e alguns abraços. Quando minha mãe nos flagrou, eu vi a raiva em seus olhos e só consegui temer o que ela faria comigo. Ela sempre era muito severa e exigente quando se tratava do único herdeiro do trono. Ela nunca me deixava esquecer minha posição.

Na época, eu não tive coragem de me opor à sua decisão de exilar o garoto que eu gostava de Baekje junto com sua família. Eu só chorei, implorando para não ser castigado, mas sequer pensei em defender o garoto que havia perdido quase tudo por minha culpa. Fui covarde. Eu só queria que minha mãe tivesse orgulho de mim e continuei seguindo suas regras e imposições veementemente até atingir a maior idade. Vinte e um anos. Eu já era um homem, entretanto nunca havia me interessado por nenhuma das belas jovens que vinham ao palácio, fato que minha mãe não tardou a perceber. Foi por isso que ela sugeriu a Seleção da Imperatriz ao meu pai, para me forçar a tomar uma mulher como esposa. Meu pai me olhara, perguntando silenciosamente se era aquilo que eu queria. Ele realmente se importava com minha opinião. Minha resposta deveria ter sido "não", eu deveria ter tentado explicar tudo a ele, porém só o pensamento de o decepcionar bastou para que eu me encolhesse e concordasse com tudo. Disso, ao menos, eu não me arrependo. Jeon Jeongguk jamais teria entrado em minha vida, se eu tivesse me recusado a dar aquele passo.

Depois de toda a tensão de nosso primeiro encontro, mesmo estando curioso para ouvir sua história, decidi fingir que não sabia do "pequeno" segredo que ele escondia. Nem mesmo quis investigar e saber sua verdadeira identidade. Ele se revelaria sozinho, eu tinha certeza disso. Conseguia enxergar sinceridade em seus olhos.

Com os dias passando, eu me via tendo que eliminar as selecionadas, e nós fomos nos aproximando de pouco em pouco. Apesar de dever — pelo bem dele e pelo meu —, eu simplesmente não conseguia eliminá-lo. Então, demos nosso primeiro beijo. Lembro-me de cada detalhe daquele momento. O sol queimava nossas peles. O cheiro das flores enchia o ar. A cidade nos observava de longe, como um elemento da linda paisagem em vez de um ninho de amarras repreensivas. Foi naquele momento que ousei admitir para mim mesmo que estava apaixonado. Apaixonado por um homem. Exatamente o que a rígida imperatriz Yunah mais repudiaria.

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