Assim que chegou a bordo da Aquiles, Benjamim percebeu algo estranho no ar, por isso procurou ao redor por sinais que diriam a ele o que sua apreensão gritava.
O sistema de condicionamento de ar estava desligado, e a temperatura a bordo deveria estar cinco graus abaixo do normal. Isto apenas poderia ser causado por um mau funcionamento do sistema de suporte de vida, mas o alarme de perigo estava desligado, o que indicava uma pane geral do computador central da nave... Ou do cérebro positrônico do capitão.
Estavam no setor médico da nave, onde Aquiles depositava o corpo artificial de Yumi sobre um leito limpo e confortável. O androide afagava os cabelos úmidos dela e parecia não ter noção de mais nada ao seu redor. Seus olhos amarelos percorriam a imagem daquele organismo sintético, agora sem vida, da cabeça aos pés, e emitiam um ar de desvairo obcecado.
Benjamim temeu pelo pior, o que inspirou seu comentário:
— Está frio aqui, capitão...
E não houve resposta, o que aumentou seu temor. Caminhou até chegar mais perto de Aquiles e levou um susto quando percebeu que estava mais leve...
O sistema de gravidade artificial estava alterado.
— Capitão — ele chamou mais uma vez, e foi ignorado de novo, confirmando suas suspeitas mais angustiantes, porque uma pessoa em choque emocional poderia ser desculpada e curada, mas não uma máquina.
Quase correndo, Benjamim deixou o setor médico e foi até a ponte de comando, que estava sob meia-luz. Sentou diante do console e pediu um relatório da situação, recebendo como resposta a mensagem escrita:
"FALHA GERAL DE CONTROLE. SISTEMAS POSITRÔNICOS EM NÍVEL CRÍTICO DE OPERAÇÃO."
— Essa não! — ele resmungou acessando outros comandos da nave. Tentou desconectar o cérebro de Aquiles do computador central para que tivesse acesso manual às funções básicas, mas descobriu entre surpreso e irritado que quase nada respondia aos seus comandos. — Essa não!
Ele lembrou que existiam três maneiras de um humano capitanear uma Spiritus.
A primeira era ter permissão do AQLES, porém o androide estava avariado. A segunda era acessar o computador central, apenas em caso de emergência, e tomar o controle da nave. Mas era o que acabara de fazer, sem sucesso. A terceira seria destruir o AQLES, todavia isto apenas funcionaria se o capitão androide estivesse funcionando corretamente.
Benjamim concluiu que a "loucura" do capitão havia danificado o computador da nave, estendendo a ele seus erros e tornando-o inoperante do ponto de vista de um sistema normal da Frota. Talvez não funcionasse mais, mesmo se Aquiles fosse desconectado.
O console de suporte de vida também estava funcionando, e mostrava que a nave não estava sendo aquecida, o que significava que poderia morrer congelado em poucas horas se não revertesse a situação a tempo.
Foram essas conclusões que levaram Benjamim a voltar correndo para o setor médico. As portas pelo caminho estavam todas abertas, o que não era o normal. Tratava-se de mais um sinal de que o cérebro positrônico do capitão havia contaminado a nave pela simbiose em que ambos viviam.
Quando entrou no leito, o tenente viu Aquiles ajoelhado ao lado da cama em que estava o corpo de Yumi. A cabeça do androide pendia para um lado, e seus olhos artificiais fixavam o rosto plácido dela.
Mas Benjamim não tinha tempo para avaliar aquela situação, por isso tocou no ombro dele, e falou com firmeza:
— Capitão, a nave está fora de controle. Eu preciso que o senhor se desconecte para que eu possa tomar o controle...
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STAR TREK: SÉRIE SPIRITUS - Ep. 6 - Via Láctea
Science FictionEPISÓDIO 6. Um ano se passa desde a grandiosa Batalha dos 27 cubos. Neste período, consolidou-se o amor secreto entre os androides Aquiles e Yumi. A coletividade recolheu-se em seu reduto no Quadrante Delta, temerosa e pensativa diante da força das...