Capítulo 1

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"Similia Similibus Curantor"

Hipócrates – Pai da Medicina


No horizonte e muito além dele, o Sol se pondo inundava de vermelho o céu, mergulhando em sua própria luz como uma imensa bola cor de sangue.

Campos, vales e colinas estendiam sombras em meio à luminosidade rubra do fim de dia, e os olhos brilhantes de Yumi Musashino apreciavam o espetáculo do ocaso, um tanto tristes e distantes.

Ao seu lado, o capitão Aquiles a imitava, provavelmente sem o sentido de beleza que o momento inspirava.

Ambos estavam sentados à beira da varanda de uma casa de campo, visto que estavam desfrutando das curtas férias de que dispunham, e haviam decidido ficar juntos naquele período.

Mesmo assim, era difícil ficar longe da Frota ou de assuntos a ela ligados, e estavam conversando a esse respeito.

Yumi comentou em voz baixa:

— Fui chamada para uma missão secreta da Frota...

Aquiles aguardou que ela continuasse, pois sabia que ela revelaria o segredo para ele. Ambos não conseguiam esconder nada um do outro.

— Eles acabaram de construir uma terceira nave da classe Spiritus.

— Eu sei — comentou Aquiles no mesmo tom. — Vão batizá-la de Siegfried, o mesmo nome do protótipo que foi destruído pela Enterprise.

Yumi sorriu um sorriso pálido, então continuou.

— Querem que eu participe da primeira missão da Siegfried... Vamos usar a capacidade do campo permanente de teleporte para transportar a nave a grandes distâncias...

— O tenente Benjamim vai ficar orgulho ao saber disso — comentou o androide lembrando que seu estrategista havia sido o descobridor da capacidade que as naves Spiritus possuem de poderem ser teletransportadas.

A primeira-oficial Yumi olhou com intensidade o capitão, e disse:

— Vamos levar a Siegfried até o Quadrante Delta.

E esperou ver em Aquiles algum efeito do que dissera, porém ele não se abalou, e disse:

— Eu nunca contei a você qual a finalidade da construção das Spiritus... Todos sabem que nossa missão é combater a coletividade, mas poucos conhecem o plano final.

— Continue.

— Quando a Frota Estelar construir naves Spiritus suficientes, algo em torno de vinte, elas partirão para o Quadrante Delta para destruir os Borgs em seu nicho. A ideia é extirpar o mal pela raiz, dizimá-los e não esperar que eles nos ataquem.

— Mas uma viagem até o Quadrante Delta — comentou Yumi — demoraria por volta de setenta anos...

— Sim, e é por isso que as Spiritus têm capitães androides...

E foi naquele momento que Yumi percebeu o que Aquiles tentava dizer.

Ele continuou:

— Uma tripulação humana não chegaria lá, mas os androides sim...

Aquiles segurou a mão dela, dizendo em seguida:

— Eu nunca gostei da ideia de partir para uma missão, sabendo que quando voltasse não mais a encontraria... Não sei explicar porque é assim...

— Nós humanos também não sabemos! — Yumi sorriu.

"Mas você não é humana", pensou Aquiles, sabendo que ela era uma espécie de androide com um katra aprisionado em seu corpo, e ficou calado porque a própria Yumi não sabia daquilo, e não deveria ficar sabendo.

Vendo como Aquiles se calara, ela continuou.

— Eu entendo porque me contou isso... Agora que descobrimos que as Spiritus podem ser teleportadas, a viagem até o Quadrante Delta pode levar apenas algumas horas, e poderemos ir juntos, androides e humanos... Você e eu, até lá, completar a missão e voltar.

— A missão pode demandar muitos anos.

Yumi apertou a mão dele, e sentenciou:

— Então teremos muitos anos para ficarmos juntos!

Mas Aquiles parecia triste e distante, e ela não gostou daquilo.

— O que foi?... O que está pensando?

— Eu gosto da sua ideia, Yumi, e vou lutar por ela, mas há algo me incomodando e não sei o que é...

— Me conte...

— Não sei... Esta missão com a Siegfried... Existe algo nela. Não consigo calcular a variável, e isso me deixa apreensivo, se é que posso usar o termo de emoção.

— Hum... — fez Yumi tentando animar o namorado. — Acho que está com ciúmes do capitão da Siegfried!

Aquiles ia dizer que não tinha sentimentos e que, portanto, não sentia ciúmes, mas se calou porque aquilo não era verdade quando Yumi era o foco de sua atenção.

— Quero apenas dizer uma coisa, Yumi... Eu preferiria parar de funcionar a saber que nunca mais poderia vê-la...

Yumi sorriu da reação humana em seu namorado positrônico, e beijou o capitão, certa de que o faria esquecer daquele pensamento desagradável.

Um era um androide que não sabia como, mas seapaixonara. A outra era um ser artificial que pensava que era humana. E ambosse amavam como dois espíritos viventes, experimentando um sentimento que seriaeterno enquanto durasse.

STAR TREK: SÉRIE SPIRITUS - Ep. 6 - Via LácteaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora