Capítulo LXXX

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O pequeno barco sacudia contra as ondas alimentadas pela tempestade. Era um pequeno barco pesqueiro, de onde cinco indivíduos com roupas de mergulho e uma mochila impermeável de dimensões médias presa das costas, estavam parados no convés. Aquela era uma parte da ilha onde um rochedo se abria em fenda, logo acima do paredão de pedras era possível ver parte da cidade. Os cinco mergulhadores pularam para o mar revolto, a possibilidade de serem atirados contra as pedras era um dos maiores perigos naquela manobra. Sem que ninguém visse alguns outros grupos também pulavam nas águas geladas e turbulentas e nadavam em direção aos rochedos. O grupo principal nadava com dificuldades até a fenda, seus corpos sendo levados pela correnteza em alguns momentos. A fenda se abria em um corredor estreito, o grupo precisou submergir para poder chegar à gruta que estava há uns 50m. A gruta tinha uma largura de 10m e um platô irregular ao fundo, o grupo nadou até a porção de terra. Cada um dos cinco retirou a mochila das costas e passou a pegar as armas que estavam guardadas. Carter puxou a máscara para fora do rosto enquanto estalava o pescoço, viu Z puxar a máscara do próprio rosto.

- Vai mesmo fazer isso? – Ele perguntou calmamente.

Carter torceu a máscara para retirar o excesso de água, a sacudiu antes de recoloca-la sem falar uma palavra. Verificou as facas e a pistola antes de preparar a arma de assalto, seus ouvidos prestando atenção ao redor, assim que parou de ouvir os sons de preparação ergueu a cabeça.

- Prontos? – Sua voz saiu abafada e ela prontamente ergueu a máscara para liberar sua boca. – Vamos avançar com cuidado e seguir o plano. Temos que derrubar sem oferecer rendição, a rendição foi oferecida antes e eles recusaram. Sem prisioneiros. – Ela estalou o pescoço outra vez, podia ouvir a respiração dos companheiros e das outras equipes através do fone comunicador que usava no ouvido protegido. – Eles mataram o rei. Eles tentaram matar a rainha. Eles usaram uma guerra onde o povo sofreu, derramando sangue, causando dor e sofrimento. Eles querem o poder, mas nós não vamos permitir isso, não vamos... somos a última linha de defesa e não vamos permitir que mais sofrimento se espalhe por nossas terras. Que mais sangue inocente seja derramado. Eles ignoram nossa coragem. Ignoram nossa lealdade. Ignoram nossa inteligência. Eles não nos conhecem, eles não sabem nada sobre nós e é por isso que eu digo que vamos mata-los, vamos proteger nossas terras, nossa rainha e eles vão cair de joelhos na nossa frente implorando por misericórdia e nós diremos que não existe misericórdia. Sem misericórdia.

Ela abaixou a mascara ouvindo os sussurros de confirmação. Um sussurro forte e constante dos grupos de homens e mulheres repetindo "sem misericórdia". A adrenalina percorrendo suas veias junto ao sangue, a energia retumbando em seu peito na mesma força de seu coração. Eles estavam prontos para a guerra e ela só voltaria para casa com a cabeça de Pedro pendurada na proa do navio.

*Acrab*

Ela mergulhou as mãos no balde de água limpa e gelada, a transformando em um vermelho aguado. Jogou um pouco da água fria no rosto - ...empurrou o homem contra a parede, seu antebraço o segurando pelo pescoço enquanto a faca afundava no abdômen macio... - pegou um trapo de pano que Z havia roubado do que sobrara da casa de Cephei que ardia as suas costas. Secou o rosto com o que antes era um pedaço de cortina e olhou para os terrenos, o sol já estava alto para aquela hora da manhã, ainda podia ouvir ao longe o som de uma explosão ou outra.

- Vossa Graça. – Um dos soldados se aproximou dela. – Ainda estamos encontrando alguma resistência pela ilha.

Carter concordou com a cabeça, olhou para a casa que ardia.

- Alguma notícia da mulher e da criança? – Perguntou com a voz rouca.

O homem respondeu que não e ela o dispensou com um movimento de mão - ...ela levou o dedo enluvado aos lábios cobertos pela máscara assim que viu uma mulher com duas crianças em uma das vielas, com um movimento brusco mandou que entrassem para dentro de casa outra vez... - puxou as luvas que estavam no bolso de trás de sua calça e com cuidado as recolocou sobre seus dedos feridos. Impediu seu rosto de mostrar qualquer traço de dor, mesmo que suas mãos estivessem sensíveis e já sem as ataduras de compressão que nem tinha ideia de onde havia as perdido.

Acrab - SemiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora