Capítulo LXXVII

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O som do metal se chocando contra metal estava atraindo os curiosos. Carter estava segurando uma espada com a mão direita enquanto com a esquerda carregava um punhal em uma espécie de proteção de couro afivelado ao punho. Sua blusa branca estava solta contra seu corpo e os cabelos começando a fugir do rabo de cavalo enquanto seus pés se moviam com agilidade. Aparou um golpe com a espada e se afastou sendo perseguida com outro golpe rápido, manteve a espada rígida quando sentiu o punhal do homem se juntar a lâmina maior e aumentar sua força. Seus braços queimavam. Seus ombros doíam. Ela juntou o braço direito a briga, seus dentes arreganhados e seu corpo tremendo pela força que fazia.

- A senhora tem certeza? – O homem grunhiu.

- Não me facilite. – Ela respondeu o empurrando com um último impulso, abaixou os braços e se moveu para longe.

- Sua mão direita ainda está fraca, Vossa Graça. – O guarda rodou os ombros com cuidado. – Talvez fosse melhor...

- Eu estou mandando você vir para cima. – Carter rosnou avançando, deu um golpe com a espada obrigando o homem a se mover, estocou com o punhal.

O homem forçou um golpe forte na mão direita obrigando Carter a soltar um grito raivoso pela dor. Ele se afastou ainda preocupado, a viu ajoelhar contra a grama levando a mão direita para perto do peito.

- Senhora... - Ele murmurou.

- Eu nunca vou recuperar minhas mãos se continuar no ritmo que os médicos querem. – Grunhiu respirando com força. – Fisioterapia lenta. Recuperação lenta.

Ela se levantou respirando fundo, atacou com um corte amplo e o guarda desviou.

- A senhora está com raiva e atacando sem nenhuma estratégia. – Ele desviou de novo enquanto ela avançava com um grito irritado. – A senhora está me dando uma ampla margem de ataque. Pense antes de agir.

Ele avançou contra ela, Carter aparou com a espada antes de fazer uma finta para a esquerda. O chutou na dobra dos joelhos e apoiou a espada contra o pescoço do homem.

- Você está certo. – Ela respirou fundo. – Eu estava com raiva, obrigada por me lembrar Adam.

Ela afastou a espada e a cravou no solo com raiva. Ergueu os olhos para as pessoas que estavam observando, por algum motivo era comum em Costa Estrela o monarca convidar os nobres a morarem no palácio. Ela puxou uma das tiras que prendia a proteção com o dente enquanto observava os murmúrios trocados. Cretas se aproximou segurando uma taça com água que ela aceitou com gratidão.

- Como pode ver, você acabou de escandalizá-los. – Ele brincou enquanto sacudia as sobrancelhas. – Acredito que muitos dos nobres aqui não gosta desse tipo de exercício, acham que é... antiquado.

Carter arqueou a sobrancelha enquanto terminava de beber a água, deixou que ele pegasse o cálice de volta. Se ocupou em soltar as tiras que prendiam a proteção, pelo canto dos olhos podia ver a criada pairando nervosamente com uma toalha nas mãos.

- Isso está me dando nos nervos. – Confidenciou em voz baixa. – Parece que Fernão gostava de ser bajulado e lambido o tempo inteiro.

- Ele gostava. – Cretas confirmou. – Adorava para ser mais claro. Queria ser um Deus e tratado como um Deus.

- Rosalinda não é assim. – Carter o encarou. – E é melhor eles entenderem que algumas coisas irão mudar.

- Eu concordo, mas se me permite um conselho, minha cara. – Ele inclinou a cabeça. – Vá devagar. Seu embate com Sargar foi perigoso, ele é um homem de poder ao norte do país, querendo ou não tem sangue real nas veias. Rosalinda pode ter um apelo maior ao trono do que o dele, ambos podem ser bisnetos de Tereza e Felipe, mas ainda sim...

Acrab - SemiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora