Começo de uma nova vida

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Um mês mais tarde, a vida de Nathaniel e Lia finalmente pareciam estar nos trilhos, ela havia se mudado definitivamente para a casa dele, inclusive, aos poucos estava dando seu toque na decoração da mesma, e por sorte Nathaniel era desatento o suficiente para não notar que ela havia tirado os pôsters de carro e bandas da parede do quarto que agora eles dividiam. Na primeira semana na casa, Lia conseguiu se manter no quarto que antes era de Calvin, mas logo ela notou que passava mais noites na cama de Nathaniel do que na dela, então poupou esforços e se mudou para o quarto dele de vez.
Naquela quarta-feira à tarde, os dois voltavam da faculdade de Nathaniel, ele tinha finalmente decidido voltar à estudar, e como Lia não tinha mais pacientes, acompanhou ele até a universidade para resolver toda a burocracia para destrancar o curso de música.
  Na semana anterior, Nathaniel tinha passado no exame para voltar a dirigir, e estava mais feliz que nunca, apesar de inseguro, já que da última vez que estivera na direção, uma caminhonete se chocou contra ele. Quando os dois saíram do campus da universidade em direção ao estacionamento, Lia perguntou se ele queria dirigir na volta para a casa, já que uma vez ele tinha feito ela prometer que o deixaria dirigir o gurgel.
-Minhas mãos estão suando! _Nathaniel murmurou, sem tirar os olhos da pista.
-Fique calmo, você está se saindo muito bem ao dirigir um "dinossauro"! _Ela ironizou, repetindo a palavra que ele usou várias vezes referindo-se ao carro dela. -E veja só, já estamos em frente ao condomínio!
-Senhor Nathaniel, fico feliz em vê-lo atrás do volante outra vez! _O porteiro disse, ao abrir o portão para ele.
Nathaniel agradeceu com um gesto de continência, em seguida, seguiu com o carro até sua casa.
-Vai, pode falar, você está fascinado pela direção do azulzinho aqui! _Lia disse, saindo do carro e batendo no teto de leve.
-Completamente! estou tão fascinado que vou começar a dar aulas de música hoje mesmo para ter uma renda extra e conseguir comprar um carro desse século para mim! _Ironizou ele, abrindo o portão.
-Idiota! _Resmungou, mas ao ouvi-lo falar sobre renda, ela voltou a se preocupar com a única coisa que ainda estava impedindo sua total felicidade: o emprego, ou melhor, a falta dele.
Nathaniel notou a mudança de humor assim que olhou para ela de soslaio.
-Ei, o que essa cabecinha incansável está pensando?! _Perguntou, passando um dos braços envolta do pescoço dela e puxando-a para perto de leve, enquanto andavam até a porta.
-Não aguento mais não estar trabalhando! _Desabafou.
-Mas você só está há três semanas desempregada, logo vai ser chamada por alguém.
Lia entrou na casa e jogou a bolsa no sofá, bufando.
-Já divulguei meu trabalho na internet, já fiz duas entrevistas nos hospitais da cidade e nada de ligarem... _Falou, frustrada. -Eu queria muito uma vaga naquele hospital oncológico, eles pagam muito bem, o lugar é acessível, e é uma área que eu sempre quis trabalhar na época em que ainda estava na faculdade.
-Você tem chance, tenho certeza que fez uma entrevista incrível e logo eles entrarão em contato! _Disse, a puxando para perto e dando um beijo no topo de sua cabeça. -E você poderia direcionar seus esforços para aquele projeto de ter seu próprio consultório...
-Ainda não tenho dinheiro o suficiente, e é por isso que preciso de um emprego!
-E você vai conseguir tudo isso, não tenho dúvidas!
-É bom ter alguém entusiasmado e confiante aqui...
-Você deveria confiar mais em si mesma, sempre que olhar pra mim lembre-se de como eu estava na primeira vez em que me viu, e então saberá que você é incrível. _Falou ele, dando um beijo na testa dela.
Lia sorriu, grata pela existência dele em sua vida.
-Mudando de assunto, ontem eu entrei no seu antigo quarto que era o antigo quarto do Calvin, e estive pensando, temos um bom espaço inutilizado, e meus instrumentos e seus aparelhos de trabalho ocupam muito espaço no nosso quarto, o que você acha de fazermos um escritório ali?
-Eu acho incrível, mas onde ficará o quarto do bebê? _Lia indagou, mantendo a seriedade e colocando a mão sobre a barriga.
Nathaniel sentiu todo o sangue de seu corpo se esvair, e Lia riu ao notar que ele estava pálido de pânico.
-Pode sorrir pra mim? _Lia pediu, e Nathaniel franziu o cenho, confuso.
-Lia... 
-É sério, preciso ter certeza de que não está tendo um derrame! Devia ver a sua cara! _Ela disse, rindo ainda mais. -Me lembre de mandar você se sentar quando a notícia for verdadeira.
Nathaniel arfou profundamente, aliviado.
-Não brinca assim comigo, achei que fosse pra junto de Deus nesse momento. _Ele disse, rindo, com mão no peito.
Lia revirou os olhos, ele era sempre tão dramático.
-Senhor dramático, podemos começar a colocar os planos do escritório em prática agora?! _Disse, puxando o notebook de cima da mesa de centro e abrindo-o sobre o colo.
-Por um momento eu havia esquecido o quão ansiosa você é! _Falou ele, se sentando ao lado dela e observando-a abrir o Pinterest.
Os dois tiraram os sapatos e aconchegaram-se no sofá. Enquanto ela abria fotos de um lado e ele pesquisava preços do outro, Sid, assim como já era de se esperar, correu e pulou no sofá, se juntandos aos dois.
Em dado momento, Lia desviou o olhar para o espelho que ficava na parede da sala, e observou em silêncio a cena refletida à sua frente. Ela jamais imaginou que em um ano sua vida mudaria tanto, em meio a rejeições, perdas, traições, depressão, medos e despedidas, mortes, ela não imaginava poder se sentir parte de algo, mas ali, deitada no corpo quente de Nathaniel, ela não tinha dúvidas que enfim havia encontrado algo a que se agarrar na vida. Ali estava ela, fazendo planos, se permitindo ter expectativas e esperanças outra vez, e o melhor, não estava sozinha, estava com seu milagre, e ele a olhava com um sorriso no rosto naquele exato momento.
Perdido no rosto pensativo de Lia, Nathaniel repassou toda a sua vida até aquele instante. Depois de Portugal, e principalmente após a morte do pai, ele pensou que jamais poderia voltar a ser feliz de novo, passou parte da adolescência dedicando-se somente a cuidar da irmã, Eva, e tentar transmitir à ela a segurança que o pai havia dado a ele um dia, e quando mudou-se para Florianópolis, buscou preencher seu vazio existencial com festas, amizades de pessoas tão vazias quanto ele, relacionamentos breves e sem sentimentos com garotas que não gostavam dele de verdade, e chegou a pensar que estava condenado à uma vida de dependência quando se viu numa cadeira de rodas. Agora, olhando para os traços delicados e perfeitos da mulher à sua frente, ele podia enxergar um futuro, e aquele vazio não podia estar melhor preenchido, ele tinha uma casa, tinha seus estudos, seu piano, saúde recuperada, e o mais importante, seu milagre bem ali, deitada sobre ele. Finalmente ele havia conhecido o amor. O sentimento que preenchia tudo.

FIM.

É isso bebês, livro finalizado, espero que tenham gostado, se sim, compartilhem com os amigos que curtem ler e dêem uma olhada no meu novo livro "Aquela jaqueta de couro". Beijos 💛

O Milagre de nós doisWhere stories live. Discover now