Topa?

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  Lia passou a quinta-feira curtindo sua própria companhia, e apesar de amar ficar sozinha, ela sentiu falta de Emma tagarelando pela casa. Naquele dia ela tinha feito o café, que apesar de ruim, era o máximo que ela conseguia fazer, depois saiu para correr e passou no mercado, comprando comida congelada para o mês inteiro, e pelo o resto do dia ficou sentada em frente a tv assistindo filmes completamente aleatórios.
Ela sentiu vontade de mandar mensagem para Nathaniel, chegou a escrever "oi" na caixa de mensagens várias vezes, mas sempre as apagava, não sabia o que ele estava pensando dela depois de ter saído correndo da casa dele como uma doida, e nem sabia se deveria ficar alimentado uma aproximação entre eles.

***

Calvin estava em casa naquela sexta-feira, e Nathaniel acordou cedo e animado para mostrar ao primo que ele já estava andando de muletas. Quando Calvin estava sentado na mesa tomando café e viu Nathaniel entrar de pé, quase se engasgou com o bolo que comia.
-Nathaniel, você está andando! _Ele falou, admirado.
O primo riu, e com passos cautelosos seguiu até uma das cadeiras, apoiando-se nas muletas.
-Quando isso aconteceu? parece que eu fiquei fora por meses, mas eu fui para o plantão na quarta de manhã e você estava na cadeira de rodas e na sexta quando volto você está andando?!
-Basicamente isso, eu já sentia uma melhora grande nos movimentos mas ainda estava inseguro de tentar andar, mas então a Lia me incentivou na última consulta e eu não só me livrei daquela maldita cadeira como também consegui escrever com a mão direita!
-Isso é incrível, eu disse que não ia demorar pra isso acontecer! já contou pra tia Jeane?
-Não, eu passei o dia inteiro ontem pensando e acho que talvez eu esteja pronto para visitá-las e mostrar pessoalmente, o que acha?
-Eu acho o máximo, Eva vai amar ver você, e sua mãe também!
-Estava pensando em ir na semana que vem, no feriado de carnaval, assim consigo aproveitar melhor o tempo com elas.
-Puts, eu não vou conseguir folga no carnaval, desculpa estragar seus planos...
-Eu imaginei isso, e estive pensando em perguntar se a Lia não me acompanharia, você acha que ela iria?
Calvin pareceu surpreso.
-Me diz você, como andam as coisas entre vocês?
-Pra falar a verdade eu não faço ideia, na quarta feira eu a beijei, no começo ela se entregou e pareceu gostar, mas depois ficou estranha e saiu apressada daqui.
-Você beijou a sua fisioterapeuta?
-Foi isso que eu disse... mas cara, eu não consigo mais vê-la como a minha fisioterapeuta, ou como uma simples amiga, a gente é mais que isso, tem muito mais envolvido...
-Mas você não conseguir vê-la mais dessa forma não muda os fatos.
-Eu sei! e ela também sabe disso, por isso sempre foge... mas eu preciso ver a minha família, e ainda não estou dirigindo e nem seguro o bastante para ir sozinho. Enfim, vou esperar ela chegar daqui a pouco pra ver como está nossa relação depois do beijo, se tudo estiver bem eu farei o convite.
-O não você já tem.

Depois do café, Calvin foi para o quarto descansar, tinha chegado do plantão naquela manhã e estava exausto após 36 horas trabalhando. Nathaniel ficou aguardando a chegada de Lia, que já estava uns quinze minutos atrasada, e quando ele ia ligar para ela, ouviu o ronco já conhecido do carro dela.
Não demorou muito para ela bater na porta, e dessa vez, quem tinha ido atendê-la foi ele mesmo:
-Bom dia! _Ele falou, apreensivo.
-Bom dia! _Respondeu ela, entrando. -Você não faz ideia do quanto estou satisfeita ao vê-lo de pé diante dessa porta.
Ele sorriu, e de repente a apreensão dele se esvaiu.
-E você não faz ideia do quanto estou aliviado de vê-la entrando por essa porta. _Falou.
Lia franziu o cenho, sem entender.
-Hoje é sexta, nos encontramos sempre, não é?
-Sim, mas na última consulta você saiu depressa, nem ao menos terminou a sessão, eu fiquei me perguntando se tinha feito algo erra...
-Você não fez nada de errado! _Ela o interrompeu. -Não foi nada com você, foi eu qu...
-"Não é você, sou eu", é eu já ouvi isso antes. _Nathaniel disse, suspirando e fechando a porta.
-O quê?
-Nada, esquece. _Ele riu, mas não parecia achar graça. -Mas e então, eu gostaria de ouvir o que levou você a sair daqui daquele jeito, não é a primeira vez que você, bem... foge de mim.
Lia suspirou, frustrada por simplesmente não conseguir esconder nada dele.
-Sabe o que é, eu tenho o péssimo hábito de me afastar de tudo que eu possa vir a gostar. _Disse.
-E isso se refere a mim?
Ela deu de ombros, implorando para que ele deixasse o assunto passar, mas obviamente ele não faria aquilo.
Nathaniel sorriu, satisfeito com o silêncio dela.
-Bom saber que você gosta de mim.
-Ei, eu não disse isso! _Protestou ela.
-Nem precisa, eu leio mentes.
-Seus dons estão um pouco equivocados.
-Qual é Lia, vai continuar negando?
-Vamos começar a sessão? _Ela perguntou, se ele não ia encerrar o assunto, ela iria, então apenas o ignorou.
-É, você sempre vai fugir de mim, não é?
-Até onde eu aguentar. _Afirmou, fitando os olhos azuis que pareciam brilhar.
Depois disso os dois começaram a conversar sobre os próximos passos do tratamento, e enquanto isso, Lia usava o tens na perna direita, estimulando os nervos dele por meio de ondas elétricas.
Pouco antes da sessão acabar, enquanto Lia guardava seus aparelhos na mochila, Nathaniel respirou fundo e tomou coragem para perguntar a ela sobre a viagem que ele queria fazer.
-Lia, você conhece Curitiba?
-Já fui uma vez com a minha mãe, apesar de não ter tido muito tempo para conhecer o pouco que vi me encantou, a cidade é linda, por quê? _Perguntou ela, tirando o jaleco e o guardando.
-Eu queria visitar a minha mãe e a minha irmã no feriado de carnaval, vai fazer um ano que não as vejo, prometi à Eva que iria assim que estivesse bom para nadar com ela na piscina, acha que consigo?
-Claro que consegue, acho ótimo que você vá vê-las!
-É, mas tem outra coisa... eu queria que fosse comigo... _Ele disse, a encarando e observando sua fisionomia surpresa.
-Nath, por que eu iria com você?
-Porque é minha fisioterapeuta, não posso ficar sem sessões por tanto tempo, e porque é minha única amiga, e eu odiaria viajar sozinho.
-É carnaval, estarei de folga espertinho, você não teria sessões independente de estar aqui ou em Curitiba.
Nathaniel bufou, esperava que ela aceitasse a desculpa que ele arranjara, mas obviamente não seria tão fácil, não com ela.
-Que seja! então vá para espairecer e conhecer novos lugares, vamos comigo!Lia ficou pensativa, sua razão lhe instruia a dizer não, sabia que seria impossível controlar seus sentimentos estando tão próxima dele e em outra cidade, mas seu coração gritava para que ela dissesse sim, e bom, ela nunca deu ouvido as suas razões, não era agora que isso aconteceria.
-Topa? _Ele perguntou, esperançoso.
-Tudo bem Nath, eu vou com você!
Nathaniel quase não acreditou, estava convicto de que ela negaria e começaria um discurso sobre ter que ser profissional e blá blá blá.
-Jura?
-Juro, mas já adianto que meu carro não vai aguentar a pressão de funcionar até chegarmos lá, como faremos?
-Você está louca se acha que eu ia até Curitiba dentro daquela antiguidade, eu já...
-Retire o que disse! _Ela falou, o interrompendo.
-Sobre o seu carro?
-Sim, ou retira o que disse ou vai sozinho até Curitiba!
-Okay! eu acho o seu carro completamente capacitado, no entanto, vamos alugar um carro, está melhor assim?
-Bem melhor! _Respondeu, com cara de satisfação. -Mas quando nós vamos?
-Na terça-feira e voltamos na sexta, tudo bem pra você?
-Ótimo... _Murmurou, olhando a hora no celular. -Agora eu preciso ir, combinamos melhor pelo celular depois, até semana que vem.

O Milagre de nós doisWhere stories live. Discover now