Capítulo 14

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Ramon

Eu precisava ligar pra Vitória. Quando peguei meu celular vi que estava descarregado. Será que ela tinha tentado ligar pra mim? Já era 18h, bem provável que sim. Corri até o carro pra ver se eu havia deixado o carregador lá ou se o adaptador do carro estava lá e não estava. Voltei até o meu pai e disse:

- Precisamos voltar!

- Agora? – ele perguntou assustado.

- Sim, pai. Agora! Eu preciso falar com a Vitória.

- Certo. – meu pai respondeu – Mas eu vou dirigindo. Você está muito agitado.

- Tudo bem, pai. Eu só quero chegar logo.

E tudo que podia dar errado estava dando. Havia um engarrafamento na serra por causa de um caminhão que estava descendo a nossa frente. Meu pai tentou diversas vezes a ultrapassagem, mas estava impossível, já que também havia um engarrafamento subindo. Perdi as contas de quantas vezes respirei fundo tentando buscar por calma.

- Calma, Ramon. Se continuar desse jeito você vai passar mal – advertiu meu pai.

- Eu sei. É que eu quero chegar logo – lamentei.

- Eu também quero, acredite. Mas não tem nada que possamos fazer. Só nos resta esperar.

- Esse é o problema. Esperar.

- Meu celular ainda está sem sinal? – questionou meu pai.

- Sim. Já falei pra você mudar de operadora. Essa nunca pega quando a gente precisa – indaguei furioso.

- Eu vou providenciar – ele falou sorrindo.

Vitória

Já eram 22h. Nenhum sinal do Ramon. Meu coração estava apertado, imagindo que ele havia me abandonado. Mas ele não iria fazer isso, afinal tinhamos um acordo e eu não havia cumprido a minha parte ainda. Tentei mais uma vez ligar pra ele e nada.

Fiquei parada na janela com esperança de avistar o carro dele chegando, mas todos os carros passavam direto. Meu coração acelerou e ficou descompassado quando ouvi meu celular tocar. Corri afoita porque era o Ramon, eu tinha certeza. Mas me enganei, era mãe dele.

- Oi, Geovana. – atendi – Estou bem sim, e você? – esperei por sua resposta – O Marcelo aqui em casa? Não, ele não está. – aguardei novamente – Ele pode estar com o Ramon. – fui interrompida – Ah ele está te ligando? Tudo bem. Boa noite!

Será que o Ramon estava com o pai? Meu coração batia numa frequência desesperadora. Eu me sentia agitada demais. Eu só precisava ouvir a voz dele.

Sentei no sofá e liguei a tv pela milésima vez nos últimos 10 minutos. Precisava me distrair, porque dormir não era uma opção. Chorei pela enésima vez. Chorei de tristeza, de desespero, de aflição. Chorei de raiva, de impotência. Por que aquilo estava acontecendo?

Ouvi um barulho na porta. O tempo passou e eu nem percebi. Limpei meus olhos, não queria que ele me visse chorando, embora fosse improvavel que ele não percebesse. Levantei e me direcionei a porta de entrada, mas ele me encontrou quando passava pelo arco da sala. Me puxou para seus braços e disse:

- Me perdoa? – enquanto me abraçava apertado, como se tivesse anos que não nós vissemos e precisasse se lembrar de como era meu corpo.

- Eu que preciso pedir desculpas – disse ao mesmo tempo em que me afastava para olhar pra ele. Precisava ver o rosto dele, lembrar de seus traços, memorizá-los com mais clareza em minha mente, para que caso algo acontecesse eu tivesse como lembrar do homem que eu mais amei na vida.

- Não, não. – ele disse enquanto acariciava meus braços – Eu venho tentando controlar sua vida e isso está errado. Eu fiquei chateado e fiz disso uma tempestade. Eu não vou fazer isso de novo. Te prometo! – ele terminou de falar e me beijou.

Foi um beijo diferente. Ele parecia carregado de culpa, de ambas as partes, de uma dor que eu entendia como a causada pelo medo da perda. Eu não queria que aquele beijo acontecesse de novo, e se dependesse de mim jamais aconteceria.

- Está tudo bem. Vamos esquecer que isso aconteceu, certo? – perguntei.

- Sim, ele respondeu – enquanto me abraçava.


1 semana depois

- A Joana vai chegar hoje à tarde – comentei enquanto almoçávamos.

- E como você está se sentindo a respeito? – perguntou meu pai.

- Bem. Eu entendi o ponto de vista dela, pai.

- Que bom, meu filho. Não quero que vocês se desentendam e percam a sintonia que tem juntos.

Sorri. Meu pai estava certo. Os anos que passei longe da Vitória foram ruins. Eu fiz muita coisa boa sim, mas a presença dela me trazia uma sensação, um sentimento que eu não conseguia explicar. E perde-la estava fora de cogitação. Eu não ia deixar aquela mulher escapar com tanta facilidade.

- O meu medo, pai, é a Lívia. – falei olhando para ele.

- A Lívia? Por quê? – ele perguntou nitidamente confuso.

- Eu não sei, pai. Ela sempre me tratou tão mal, e de repente começou a agir como se nada tivesse acontecido. No princípio, eu fiquei feliz porque finalmente teríamos uma família feliz. Mas, as vezes, eu fico pensando se tudo isso não faz parte de algum plano dela.

Meu pai gargalhou. As pessoas a nossa volta olharam surpresas e eu fiz sinal para que ele se controlasse.

- Meu filho, essa foi a melhor coisa que eu ouvi em anos. – ele disse ainda se recuperando da crise de riso – Olha, que criatividade!

- Eu sei que essa história é meio doida, mas eu confio na minha intuição.

Meu pai me olhou sério, parecendo um pouco preocupado, talvez pensando que o único filho estava ficando maluco.

- Não se preocupe, filho. Ela não está bolando plano nenhum. Ela só deve ter ciúmes e um pouco de inveja da irmã.

- É! Pode ser – concordei.

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