Assombrada.

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"Espíritos não são assombrações, são mortos mais sábios que os vivos."


Yong-Sun.


Desperto aos poucos com os raios de sol tocando em minha pele, me causando um certo desconforto. Tenho que me lembrar de fechar as cortinhas. Abro os olhos devagar, me levantando e observando a paisagem pela janela ao meu lado. Era o primeiro dia da primavera e as flores já começavam a dar sinal de vida com todas aquelas cores vivas.

Olhei no pequeno relógio e já eram 9:00 horas da manhã. Eu dormi muito noite passada e ainda estava decepcionada com Yoongi por não ter dado as caras. E aquele tédio veio com tudo...

Arrastei-me até o banheiro como sempre faço e entrei embaixo do chuveiro após jogar minha roupa em um canto qualquer. Minha casa já estava ficando uma bagunça e eu teria que dar um jeito nela logo. Talvez isso me ajude a não pensar besteiras. Soltei o ar pesado em meus pulmões ao pensar em faxinar praticamente a casa toda e o meu sedentarismo dar o ar da graça.

Saí do banho enrolada em uma das minhas toalhas e peguei meu celular que ainda continha 45% de bateria - o que era um milagre -, e disquei o número de Rose, a empregada americana da mamãe. Eu adora essa mulher, ela cuidou de mim durante anos mas teve que ir embora por conta de sua família. Eu a entendo... Ficar longe da família é muito... Ruim. Ainda mas àqueles mais importantes para você.

── Alô? ── Sua voz doce e alegre me fez sorrir.

── Tia Rose? ── Digo quase chorando, eu sentia falta dela. ── Eu preciso de você!

── Yong-Sun? ── Afirmo com voz de choro. ── Minha linda, quanto tempo. ── Ela diz exaltada. ── Sinto muito pelo que houve com seus pais... ── Ela suspira mas logo continua. ── Nem precise dizer, já vou arrumar as malas e pego o primeiro vôo.

── Sério? Muito obrigada. ── Uma lágrima desceu devagar pela minha bochecha.

Nós conversamos um pouquinho, mas logo tive que encerrar a ligação e coloquei o carregador na tomada, deixando meu celular de canto. Encarei meu guarda-roupas e acabei me vestindo com uma lingerie simples, um short jeans e uma blusa branca. Ao abrir a porta do quarto, senti um calafrio subir pela minha espinha. Era algo diferente nessa vez e eu tinha certeza que não era o Yoongi. Medo. Eu senti medo por justamente ter a certeza que não era o Yoongi. O que ou quem estava ali?

Andei pelo corredor apreensiva com aquela sensação estranha de estar sendo observada. A cada passo que eu dava, sentia meu corpo todo se arrepiar. Olhei para trás e as portas dos outros cômodos estavam todas fechadas descartando a possibilidade de ser meu tio me vigiando.

Estava descendo as escadas quando estranhamente senti mãos em minhas costas. Meu corpo foi lançado para frente, faltando apenas alguns degraus para chegar no piso de madeira. Fechei os olhos ao sentir contato do meu corpo com os degraus frios e duro. Caí muito feio, sentindo todo meu corpo doer. Algo quente escorria pela minha testa, coloquei a mão sob o machucado e estremeci ao sentir a dor e ver o vermelho do sangue manchando as minhas mãos.

Me sentei no chão olhando para o topo da escada mas não havia ninguém, nem mesmo passos atrás de mim. Estava tudo absurdamente calmo.

Meu corpo estava pesado e dolorido demais. Levantei me apoiando na escada ainda com a mão sob o pequeno corte, seguindo meu caminho até a cozinha. Aquela maldita sensação parecia me acompanhar a cada passo. Com cuidado peguei uma toalha de rosto limpa dentro do armário e coloquei sob o corte, pressionando para parar de sangrar.

── Mas o que foi que aconteceu? ── Pergunto a mim mesma me sentando no balcão.

A casa estava vazia e o silêncio era atormentador. O único som presente na cozinha era o do motor da geladeira e do vento brincando com as árvores lá fora. Tirei o pano da testa e observei o sangue manchando a toalha branca. Minha mente martelava a possibilidade de eu não ter caído sozinha, eu senti que alguém me empurrou... Ou eu realmente estou ficando maluca da cabeça e o Yoongi é apenas fruto da minha imaginação. Sei que sou desastrada mas as vezes... Eu senti algo me tocando antes de ir ao encontro com os degraus, tenho certeza. Abri a gaveta de remédios no armário e tomei o remédio para dor de garganta com uma estranha rapidez. Odeio tomar remédio.

Doce como açúcar I • YoongiWhere stories live. Discover now