Capítulo 7

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Diário pessoal de bordo (fragmento).

Comandante Yumi Musashino.

Não vejo necessidade de dizer que os primeiros momentos da tripulação, aprisionada naquele hangar, foram caóticos. Todos pediram esclarecimentos a mim, comandante, mas estava tão confusa quanto qualquer um ali.

Para piorar a situação, senti que aquela condição era culpa minha... Aquiles pensava que estava fazendo um bem a todos, e eu havia sido o gatilho daquela explosão de irracionalidade positrônica... Se eu não estivesse na ponte, ou se Loquaz não tivesse percebido...

A sorte foi que Benjamim estava lá, e explicou a situação a todos, em um momento em que minha cabeça girava tão velozmente que eu não conseguia acompanhar os próprios pensamentos.

*


— A situação, portanto, é esta — concluiu o tenente estrategista. — Os Borgs conseguiram convencer os dois capitães androides de que a coletividade é a melhor coisa que pode acontecer a um humano, e eles passaram para o lado do inimigo acreditando com isto que estão seguindo à risca a Primeira Lei da robótica!

Um silêncio consternado seguiu-se à explicação de Benjamim, e muitos se entreolharam em desalento. O engenheiro-chefe da Sala de Máquinas, Juan, inquieto por causa da situação, ergueu a voz e resmungou consigo mesmo:

— Deve haver um modo de desligar essas coisas! Não é possível que construam uma máquina sem uma chave de liga/desliga! Quem foi o engenheiro imbecil que fez esses androides? Onde é que vamos parar, desse jeito? Se eles não fossem tão fortes, eu mesmo desligaria eles!

Yumi olhou assustada para ele. Ficou arrepiada só de pensar que poderiam inutilizar Aquiles, e não gostou do tom que Juan usou para se referir ao capitão, como se fosse um simples computador.

Mas o tenente Benjamim, ao contrário, aproveitou a ideia para acender uma luz em sua mente estrategista.

— Talvez haja uma maneira — ele disse. — É verdade que os androides podem ser desligados, mas a chave energética de cada um deles, pelo menos dos AQLES, está bem guardada no Alto Comando da Frota...

— Por que ainda não usaram no Nemo? — indagou Juan, indignado.

Yumi explicou:

— Elas só funcionam a poucos metros do androide. Seria preciso entrar a bordo da Ulisses e ficar cara a cara com Nemo.

— Como faremos para usar essas chaves, agora? — perguntou-se Abdalias, coçando o cabelo ralo.

— É impossível nestas circunstâncias — explicou Benjamim. — Mas há outra maneira.

Yumi olhou para seu amigo, assustada. Sabia que para ele era normal ter ideias ousadas, e ficou apreensiva por desconhecer a profundidade da ousadia, que poderia, e costumava ser, fatal.

— Qual é, tenente? — quis saber o engenheiro.

— Estamos lidando com máquinas e circuitos... Todos nós sabemos que são coisas sensíveis a campos energéticos, sobretudo pulsos eletromagnéticos...

— Não! — Berrou Yumi, percebendo tarde demais que havia se excedido. Quando tinha quarenta pares de olhos apontados para ela, explicou: — Não podemos fazer isto com o nosso capitão. Seria o fim dele... Não concordo com uma insurreição dessas!

Sentindo pena, Benjamim encarou sua amiga e considerou melhor a desconfiança que tinha dela e de Aquiles. A relação entre eles era mais do que capitão e comandante, isto ele já havia notado, porém não imaginava até que ponto aquilo chegava.

STAR TREK: SÉRIE SPIRITUS - Ep. 3 - Choque de TitãsWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu