Capítulo 4

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Diário pessoal de bordo (fragmento).

Comandante Yumi Musashino.

Minha primeira impressão daquele Borg foi a pior possível. Senti repulsa, nojo, ódio... Tudo junto.

Os Borgs geralmente são como criaturas inexpressivas. Seus rostos não deixam ver o que estão pensando, se é que pensam por si mesmos. Parecem distantes, talvez concentrados em coisas acontecendo lá no Quadrante Delta...

Mas aquele que se comunicou conosco era muito diferente... Era cínico, falso, repugnante, irônico o seu olhar.

De imediato temi que Aquiles não percebesse o fato, e pressenti um acontecimento terrível.

*


O capitão Aquiles ignorou as palavras de Loquaz, e sentenciou:

— Não sei o que fez para convencer o capitão Nemo, porém quero adverti-lo de que semelhante atitude terá consequências drásticas para você e demais Borgs que habitam esse cubo... Liberte imediatamente a USS Ulisses de seu domínio e não resista ao que vai acontecer em seguida.

— Excelente, capitão! — respondeu o porta-voz. — Já está aprendendo a falar como um Borg!

— Não temos tempo para conversas infrutíferas. Vamos destruí-los com ou sem a ajuda da Ulisses.

— Espere, capitão! Não é nossa intenção roubar seu precioso tempo. Tudo o que desejamos é expor nosso ponto de vista...

O silêncio tomou conta da ponte de comando, o que irritou Yumi.

— O que vem a ser um ponto de vista Borg? — indagou Aquiles, por fim.

— Nossa visão a respeito do que vocês consideram sobre a assimilação... Para vocês, tornar-se um Borg é algo horrível, inadmissível. Porém, tudo o que nós da coletividade queremos é prolongar e aperfeiçoar a vida.

— Como? Matando seres vivos para transformá-los em autômatos?

— Autômatos?... Vejo que desconhece os princípios Borg. Somos seres vivos também. Parte de nossos corpos é composta de células viáveis daqueles que libertamos para a nossa existência. Os implantes aumentam o tempo de vida dessas células, indefinidamente. Logo, ao contrário de retirar a vida, a doamos em abundância, sem pedir nada em troca.

— O preço desse benefício bizarro — retrucou Aquiles —, é a perda da liberdade, da individualidade e da consciência!

— Não! Outro engano baseado em falsas premissas!... O correto seria dizer que nossa consciência coletiva torna os seres vivos mais eficientes. Assim comete-se menos erros... Em todos os níveis, a coletividade é perfeita. Não há guerras, não há assassinatos, não há doenças, não há mortes!

— Os Borgs levaram milhões de pessoas e centenas de mundos à completa destruição!

— Acusações injustas — disse Loquaz. — É muito fácil achar que o que fazemos é errado, mas poucos se dispuseram a analisar a questão a fundo e ver os fatos do nosso ponto de vista... Capitão Aquiles, já notou que muitos temem se tornar Borgs, no entanto, depois que se tornam, não querem voltar a ser o que eram antes?

— Eles não têm escolha! — respondeu o androide. — A coletividade retira do indivíduo a noção do "eu", e a substitui por um estado de aceitação incondicional. Para ilustrar o fenômeno, posso citar o exemplo do capitão Jean-Luc Picard, que foi assimilado e, posteriormente, salvo. Segundo seu relato, ele foi induzido a entrar em um estado irresistível de subjugação, algo como uma hipnose. Isto mostra que ele teve violada sua liberdade de escolha.

STAR TREK: SÉRIE SPIRITUS - Ep. 3 - Choque de TitãsWhere stories live. Discover now