─ Deixe de teimosia! ─ exclama senhor Montenegro. ─ Desde criança você é assim... Com essa teimosia! Quando coloca algo na cabeça não tira por nada.

─ Se o Senhor sabe como sou... não entendo por que veio até aqui.

─ Menina! ─ ele se altera. ─ Eu exijo que me respeite! Vim aqui porque sua mãe e eu que somos sua família e estamos preocupados com você longe de casa, e em outro bairro.

─ Exato estou somente em outro bairro mais nada ─ Carol para e reflete um pouco. ─ Papai pode dizer a mamãe que não vou voltar, estou bem aqui e pretendo continuar onde estou.

─ Se você prefere isso não vou mais interferir. Mas, lembre-se: não é fugindo que as coisas vão melhorar em sua vida, porque não vão.

Ele dá um beijo em sua testa, abre a porta e vai embora.

Carol se vê sozinha em frente a porta, paralisada. Por alguns segundos ela se recusa a pensar, mas é vencida pela persistência das lembranças...

É início de verão em São Paulo, Maria Carolina e Ana Natália estavam finalmente juntas aproveitando as férias após um ano bem turbulento. Quando foram convidadas para uma pequena festa na casa de alguns amigos de sua vizinhança, elas aceitam é claro precisavam disso de um momento só entre amigos, sem família, sem trabalhos ou relacionamentos.

Quando chegam tudo está bem animado, as pessoas conversam, riem e dançam. Nath diz:

Amiga vou encontrar com Lúcia ali fora e contar a novidade. Você vai ficar bem sozinha?

Fica tranquila, - fala Carol colocando suas mãos nos ombros de sua amiga. Tô bem, não sou tão antissocial assim elas riem juntas vai lá.

Após Nath sair, Maria Carolina anda pela sala, pega um copo de suco de laranja de modo bem tímido; ao contrário do que disse a sua amiga, ela é sim muito antissocial e retraída, por mais que tenha se esforçado por anos para mudar essa condição, a essência não muda.

Carol sobe as escadas. Estava se sentido sufocada, tudo aquilo a sufocava. Há dias ela perguntava a Deus em suas orações qual era o propósito real de sua vida, a tempos ela se sentia fraca mas mesmo assim persistia, ela confia na palavra de Tiago 1:2-4: "Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações, sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança; e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma."

Carol abre a porta do quarto e vai em direção a pequena varanda, ela precisa de ar. Quando Maria Carolina entra na varanda seus olhos não creem no que veem. De verdade posso ser extremamente honesta que no lugar dela também sentiria tremenda angústia, desgosto e nojo. Quem Maria Carolina viu naquela varanda? Nada além de seu noivo aos beijos com outra mulher. Ela corre, ele corre atrás. Mas, algumas feridas quando abertas não se fecham facilmente. Sim, as pessoas erram. Todos nós pecamos, erramos, desonramos..., mas, e as consequências desses erros até que ponto eles desfazem vidas?

Esse é o real motivo do total isolamento de Maria Carolina. Afinal, nem todo mundo é aquilo que diz ser, nem todo mundo segue aquilo que diz seguir.

Carol volta a realidade, os 2 segundos naquela mesma posição pareceram horas e horas. Ela percebe que Senhoras Castanhos não está por perto e claro nesse horário não há ninguém na pensão. Então ela pega o telefone e disca. Ele chama 1, 2, 3 vezes... Alguém atende:

─ Alô?

─ Alô, Nath é você?

─ Sim... Carol, você tá bem?

─ Sim, mas preciso te falar uma coisa... Ontem à noite deixaram uma carta para mim aqui na pensão.

─ Menina, que loucura! É sério isso?

─ Claro que sim! Vou ler aqui:

Querida sei lá quem,

Sexta de manhã te vi na padaria comprando sonhos. Se sou muito curioso? Acredito que sim, mas não se assuste, por favor. Até esse momento posso parecer um louco super observador, mas não sou, por Deus não pense assim. Mas acredito em amor à primeira vista e sim desde o primeiro momento me apaixonei por você, então te enviei está carta. Voltarei a enviar, mas se não quiser que te perturbes, fique tranquila é só não responder.

Um abraço, do seu mais novo admirador secreto.

─ Meu Pai!

─ Também tive essa reação, uma loucura né... ─ Carol escuta um barulho. ─ Amiga, espera um pouco fica na linha parece que tem alguém na porta da sala.

Ela anda em direção a porta. Então vê uma carta que foi jogada por debaixo da mesma; Maria Carolina abre a porta, mas a rua está vazia. Todas as casas estão fechadas, óbvio já era bem tarde. Ela pega a carta na mão, repara bem em cada detalhe: era uma simples carta do mesmo papel amarelado. Carol caminha em direção ao telefone e diz:

─ Oi...

─ E aí quem era? ─ pergunta Nath aflita.

─ Mais uma carta... ─ diz Carol ainda confusa.

─ Sem nome? ─ Nath exclama.

─ S...

─ Quê?

─ O nome que está na frente é 'S'.

Dois amores acima do tempo (CONCLUÍDO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora