Capítulo 13

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Pete acordou com o som de um celular tocando. Não podia pensar em alguém que estaria ligando durante a madrugada. O mais incomum era que o toque não parecia com o seu. Não lembrava de ter mudado, pelo menos. Sentia a cama se mover lentamente. Só percebeu que tinha alguém ao seu lado quando escutou o som do choro. Rapidamente se lembrou do rapaz que dormia perto dele.
Virou-se, encontrando-o sentado ao seu lado.
- Patrick, está tudo bem?
Era péssimo ver a situação em se encontrava. Todo seu corpo mexia quando chorava. Os soluços escapavam por mais que tentasse conter.
- Minha mãe ligou...
Foi incapaz de terminar, o choro veio com mais força. Queria falar, contudo, estava debilitado para isso. Sua mente se enchia de preocupações.
- Trick - sussurrou, abraçando-o.
Novamente, não era algo que gostava. Aquela visão dele sofrendo fazia com que seu coração se quebrasse em diversos pedaços.
- Aconteceu algo com ela?
- Não. É que meu pai... sofreu um ataque cardíaco.
Aquilo foi como um soco em seu estômago. Já tinha perdido seu pai. Não poderia perder alguém que considerou muito mais seu pai do que o outro. Sabia que não aguentaria isso. Mas precisava ser forte. Era o único que poderia manter o ruivo bem. Não poderia deixá-lo na mão.
- Como ele está?
- Eles estão indo para o hospital agora. Eu queria ir para lá, mas... não consigo dirigir.
Estava certo. Não poderia conduzir naquela situação. Porém, precisavam ir para lá. Era imprudente ficar ali apenas remoendo as informações.
- Podemos ligar para o Andy.
- É de madrugada. Não posso incomoda-los.
- Eles não vão ligar. São nossos amigos.
- Eu...
- Patrick - pegou seu rosto entre as mãos, fazendo com que encarasse seus olhos - Vai ficar tudo bem. Presta atenção em mim. Vai ficar tudo bem.
Aquilo ajudou um pouco. Mesmo assim, era difícil não se desesperar pensando em uma das pessoas que mais foi importante em sua vida a caminho de um hospital com um órgão vital totalmente disfuncional.
- Vou ligar para o Joe, ok? Fique calmo. Vai ficar tudo bem. Eles precisam de você. Precisam que fique calmo.
Assentiu, deitando e fechando os olhos em uma tentativa de parar o choro.
O moreno pegou seu celular e ligou para os amigos, que rapidamente atenderam com um tom preocupado e cansado.
- Pete, o que aconteceu? Por que está ligando?
- O pai do Patrick... - começou a chorar - teve um ataque cardíaco. Precisamos ir para o hospital e ele não consegue dirigir. Vocês poderiam nos levar, por favor?
Agora que estava sozinho, sentiu o direito de liberar suas emoções. Não podia sequer pensar na ideia de perder a única família que tinha. Por mais que não tivessem se visto há uma década, ainda eram importantes para ele. Foram os únicos que permaneceram ao seu lado quando sentia que tudo ao seu redor estava desmorando.
- Vamos nos trocar e ir para aí. Só... cuida do Patrick por favor. Ele precisa disso.
Desligou e apertou o aparelho contra seu peito. Precisava se acalmar. Tinha que manter o outro seguro. Essa era sua principal missão naquele dia. Apesar de estar sofrendo, aparentou estar só abalado. Tinha que ser a sustentação que o ruivo necessitava.
Voltou ao quarto, encontrando-o na mesma posição. Seu rosto pálido estava avermelhado e decorado com brilhantes lágrimas que pareciam pequenos diamantes.
- Eles estão vindo - falou suavemente.
- Estou me sentindo mal. Não queria que eles ficassem incomodados.
- Ei, somos amigos. Não ligam em fazer isso. Eles realmente gostam de você. E sentem sua falta.
- Também sinto a deles. Assim como eu sentia a sua.
Ficaram quietos. Apenas sentados na cama, fitando um ao outro. Pete tentava se manter forte por Patrick. Patrick tentava se manter forte por Pete. Porém, estavam totalmente quebrados por dentro. Aquela situação era mais do que conseguiam suportar sozinhos.
- Estou com medo - o mais baixo sussurrou, desviando o olhar.
- Sei como você está se sentindo. É um sentimento péssimo.
- Ficou assim com o seu pai?
Deu um sorriso triste e negou com a cabeça.
- Não. Quando ele morreu fiquei com raiva. Por ter me arrastado para o inferno com ele. Poderia ter tido o mesmo destino. Era culpa dele. Não poderia me sentir triste por alguém que arruinou minha vida. Mas... eu também estou com medo agora. David foi para mim o pai que nunca tive. Nunca conheci alguém que amasse tanto os filhos quanto ele ama vocês. Tinha verdadeiro orgulho de você. Lembro da época em que éramos namorados... ele realmente se importava comigo. Quando meu pai foi para a clínica e tive que ficar na sua casa, ele sempre me apoiava. Ainda lembro de quando me pegou saindo do seu quarto de madrugada e fez aquele discurso digno de sogro. Até me fez prometer que não faria aquilo de novo, mesmo que soubesse que com certeza faria - riu um pouco, pensando naquela situação.
- Ele tem orgulho de você.
- Não. Sou apenas um fracassado sem emprego e que não completou a faculdade.
- Ei, você tem um apartamento e um cachorro. Um cachorro! Ele iria adorar conhecer o Bowie...
- Ele vai conhecer! Vai ficar tudo bem, Trick. Nada vai acontecer com ele.
- Falando em Bowie, vai ficar aqui para tomar conta dele?
- Como assim?
- Não podemos deixá-lo sozinho por muito tempo e vou para o hospital. Estou perguntando se vai ficar por aqui.
- Podemos pedir para o Andy e o Joe ficarem com ele por um tempo. Tem certeza que iriam adorar.
- Sabe que vamos de carro, não quero te deixar mal.
Seu mundo estava caindo e ainda sim se preocupava com o moreno. Bem, era isso que os amigos fazem. Certo...?
- Você é importante hoje. Não pense em mim.
Colocou a mão em seu rosto. Aquele gesto foi totalmente inesperado para ambos. Não sabiam o que exatamente estava acontecendo, porém, era incapazes de se mover. Parecia errado. Um ato que não deveriam ter feito. Só que parecia certo, ao mesmo tempo. Tinham sido feitos para estar daquela maneira.
Seus olhares estavam conectados, cada qual imerso na imensidão de cores da íris do outro. Era impossível fazer outra coisa que não fosse admirar a perfeição na sua frente. Estavam mais próximos. Era como ímãs, inconscientemente atraídos.
O celular tocou, cortando o clima que havia se formado. O mais alto rapidamente se levantou e atendeu. Os amigos tinham chegado, então tiveram que pegar as coisas do cachorro rápido. Terem dormido com suas roupas normais facilitou para que pudessem chegar ao carro sem demorar tanto.
- Uh, oi - Joe falou com uma voz cansada.
- Oi... - Patrick sussurrou, inseguro de como agir perto deles.
- Isso é um cachorro?
- Ah, sim, precisamos que cuidem dele enquanto estamos no hospital. Pode ser?
- Claro - Andy pareceu subitamente animado.
Pete entregou o animal ao rapaz de cabelos cacheados, junto com a pequena cama e a ração.
Demorou mais do que gostaria para chegarem ao local. Os minutos pareciam se arrastar para ele. Estava desesperado. Não gostava de ficar em um carro. Quase explodia de preocupação. Seu corpo reagia a todas as sensações de uma maneira nada agradável. Não conseguia respirar, sua visão estava nublada e o único som que ouvia era de seu coração disparado. Tentou pensar em outras coisas, contudo, sua mente estava focada demais no movimento que o veículo fazia. Sabia que o amigo estava indo mais devagar que o normal por sua causa. Mesmo assim, os sentimentos ruins não passavam. As lembranças o invadiam antes que pudesse impedir. Cada pequeno detalhe trazia de volta aquele dia.
- Ei, se acalme, você vai ficar bem.
Virou-se na direção da voz suave do ruivo, que segurou carinhosamente sua mão.
- Já vai chegar. Só... respire fundo. Não vai acontecer nada.
Aquilo fez com que ficasse um pouco melhor. Era incrível como conseguia deixá-lo bem com um simples toque e algumas palavras. Era seu porto seguro. Desde anos atrás, sempre foram assim. Há coisas que o tempo não muda.
Joe dormia, com Bowie em seu colo, Andy estava focado demais na rua, Patrick observava o sol nascendo lentamente enquanto tentava não pensar no que estava acontecendo e Pete milagrosamente dormia, encostado no ombro do menor. Nem sequer sabia como havia conseguido aquilo. Talvez estivesse exausto demais e o medo fez com que a exaustão aumentasse, então quando começou a ficar tranquilo, simplesmente adormeceu profundamente. As vezes, se movia como se estivesse em um pesadelo, mas logo parava.
Aquilo dava tempo ao ruivo para que pensasse em como sua vida estava totalmente bagunçada. Morava com seu ex, seu pai estava quase morrendo, vivia exausto por causa do emprego e tinha um cachorro. Seus sentimentos estavam cada vez mais confusos. Havia arrastado Frank e Gerard para aquele furacão confuso. E agora Andy e Joe também estavam sendo sugados para isso. Tudo que conhecia estava sendo destruído. Estava sem ideias do que fazer. Sua mente havia cansado de tantos problemas.
Por estar tão imerso em seus pensamentos, não percebeu que o carro estava quase parando. Só notou quando o rapaz que estava dirigindo anunciou.
- Olha, muito obrigado, de verdade. Não sabem o quanto isso significa para mim. Desculpa por incomodar.
- Não foi nada. Somos amigos. É o que fazemos. Além disso, a gente ganhou um cachorro! Não fique surpreso se ele não quiser voltar para o apartamento de vocês.
Deu um sorriso triste e acordou Pete, que rapidamente se levantou, parecendo perceber onde estava. Após longas despedidas, saíram em direção a grande construção.
- Isso vai ser difícil. Está pronto?
Respirou fundo e assentiu. Não estava realmente pronto, entretanto, não podia escapar.
Felizmente não levou muito tempo para encontrar a mulher. A cena era um pouco dramática e mostrava claramente a dor que sentiam. Nunca haviam visto-a chorar tanto quanto naquele momento. Deu para perceber pela forma como abraçou o filho o quanto estava preocupada. Apertou seus braços ao redor dele com força e chorou encostada em seu ombro por minutos. Pete se sentia mal só de imaginar como ela estava se sentindo. Havia passado sua vida toda ao lado dele, amado-o cada dia, tido filhos com ele. E agora tudo estava acabado. Talvez nunca mais visse seu sorriso, nunca mais sentisse seu beijo, nunca mais escutasse sua voz. Era impossível até pensar em como ficaria se perdesse Patrick. Não que ele o amasse ou algo assim. Não gostaria de perder o amigo dele, apenas isso.
- Oh... Pete? - ela questionou após se recuperar um pouco.
Encarou-o com uma expressão confusa, dando tempo para que a observasse. Tinha mudado bastante, obviamente. Mesmo com as feições levemente envelhecidas, ainda era possível ver os resquícios da juventude em seus olhos avermelhados e inchados pelas lágrimas.
- Oi... - sussurrou, incerto de como agir.
- Você está de volta? Por que não me falaram?
Abraçou-o fortemente. Aquele momento era reconfortante. Parecia que estava finalmente no lugar certo. Apesar do tempo que passou, ela continuava a gostar dele. Bem, ainda não sabia que era um fracassado total. Quando soubesse, provavelmente iria começar a ignora-lo, como todos faziam.
- Vocês estão juntos de novo? - a leve animação em sua voz indixava que queria que a resposta fosse positiva.
- Ah, não. Somos só colegas de quarto. Nada mais que isso - o ruivo rapidamente falou.
- Oh, ok - respondeu um pouco desconfiada.
- Como o papai está?
- Estão fazendo uma cirurgia ou algo assim. Provavelmente vai acabar em pouco tempo. É algo simples. Se é que isso é possível quando se trata de mexer no coração.
- Vamos ter que esperar. Então é melhor sentar aqui e tentar ficar um pouco mais calmo.
O trio se sentou nas cadeiras que tinham ali perto. O moreno se sentia como um intruso em alguns momentos. Sentia que era um momento familiar muito importante e que estava interrompendo, mesmo que tivesse a certeza de que eles pensavam diferente.
- O que faz aqui em Chicago novamente? - perguntou ao rapaz.
Por mais que aquele parecesse não ser o momento certo, precisavam distrair a mente do que estava acontecendo.
- Tive que voltar por alguns problemas. Fiquei... desempregado por um tempo e tive que morar com o Andy e o Joe por não conseguir pagar o aluguel direito. Mas agora estou morando com o Patrick e nós temos um cachorro.
- Um cachorro...?
- Sim. O nome dele é Bowie - pegou o celular e mostrou uma foto dele.
Ela sorriu carinhosamente. Por mais que na sua frente estivessem dois homens adultos, só conseguia ver os mesmos garotos adolescentes. Eles continuavam com a mesma mania de negar os sentimentos. Parecia que se os únicos que não conseguiam perceber o que realmente estava acontecendo ali. A verdade era que ela sempre soube que eles tinham sido feitos um para o outro. Quando terminaram, algo parecia errado. Muito errado. Seu sentido de mãe nunca errava daquela maneira. Com o tempo, aceitou que não estava certa. Agora entendeu que errou durante todos esses anos. Não cabia a ela saber. Queria que ambos fossem felizes. Mesmo que soubesse que jamais conseguiriam se ficassem separados.
- Já conseguiu arrumar um emprego?
- Ainda não. Nenhum lugar contrata um fracassado como eu.
- Ei, não diga isso de si mesmo. As coisas podem parecer difíceis as vezes. Não desista, Pete. Eu acredito em você. Sei que vai conseguir.
Todo aquele apoio parecia estranho. Durante os últimos anos, não teve uma pessoa sequer para fazer aquele tipo de discurso. Não se sentia mais tão sozinho. Cada vez estava mais certo de que aquele era seu lar verdadeiro.
Ela começou a bocejar, escutando atentamente ao que falava. Conforme o tempo passava, ficavam mais cansados e ansiosos. Ela felizmente conseguiu adormecer, abraçada ao moreno que não conseguia sequer piscar. Já Patrick permanecia mais acordado do que nunca, andando de um lado para o outro sem parar. Seu rosto transparecia preocupação. A cada segundo parecia ficar mais ansioso. Até que em um momento saiu rapidamente dali, sem dar explicações, o que obviamente deixou Pete preocupado. Apesar de não querer acordar a mulher, por saber que estava exausta e preocupada, começou a ficar aflito com a demora do rapaz. Seu celular estava ficando sem bateria e, não importava o quanto ligasse, ninguém atendia. Sentia a ansiedade percorrendo seu corpo. Em consequência disso, começou a se mover sem parar, acordando-a.
- Aconteceu algo, querido? - questionou com uma voz cansada.
- O Patrick.. saiu há um tempo e ainda não voltou.
- Oh... você... pode ir procurá-lo, por favor? Espero que nada tenha acontecido, não vou suportar se...
Ela foi incapaz de terminar a frase, começou a chorar, abraçando o garoto com força. Naquele instante, era tudo que lhe restava.
- Está tudo bem com ele. Sei disso. Vou trazê-lo de volta para ter certeza, ok? Mas sei que ele está são e salvo.
Ela respirou fundo e assentiu, deixando que saísse. Estava muito abalada. A última coisa que precisava era de seu filho longe. Não quis ligar para os outros dois porque achava que não tinha o direito de incomoda-los. Mas com seu caçula era diferente. Sabia que poderia contar com ele sempre. E naquele momento precisava muito dele.
Pete caminhou lentamente, ainda escutando os soluços dela. Era de cortar o coração. Isso apenas o motivou mais a seguir em frente. O hospital era gigante, o ruivo poderia estar em qualquer parte. Estatisticamente era quase impossível de encontrá-lo rapidamente. Decidiu ir ao primeiro local que veio na sua mente. A cafeteria. Talvez estivesse com um pouco de fome. Seu estômago concordava com isso, pelo som que fez ao sentir o cheiro da comida.
Felizmente, seus sentidos estavam certos. Patrick estava sentado em uma das mesas, com um copo de papel na mão e uma expressão exausta na face.
- O que está fazendo aqui? - perguntou ao se aproximar.
- Bebendo café.
Não, aquele odor em seu hálito definitivamente não era café. Parecia algo mais próximo de Whisky.
- Não minta para mim.
- Acha que estou mentindo? - agiu como uma criança mimada.
- Sei reconhecer álcool. Isso que está bebendo é alcoólico.
- Tá - revirou os olhos - o que vai fazer sobre isso?
- Não acredito que está... bebendo numa hora dessas.
Estava irritado, decepcionado, frustrado, sabe se lá mais o que. Nem podia descrever.
- Precisava distrair a minha mente. Não é fácil.
- Sei que não é! Mas recorrer a isso é uma péssima escolha.
- O que sabe sobre isso?
- Sei mais do que você. Do que qualquer um nessa sala. Ou se esqueceu do meu pai?!
Aquilo fez com que ficasse em silêncio. Não ousava encara-lo, estava envergonhado demais.
- Como conseguiu bebida nesse lugar?
- Não acreditaria no que pode fazer se disser que é médico - riu.
- Sua mãe ficou preocupada.
- Eu não queria...
- Não queria, mas fez. Tem que encarar as consequências disso - apontou para o copo.
- Eu...
- Trick - o apelido era suficiente para que o fizesse derreter - eles precisam de você. Sua mãe, seu pai, eu. Eu preciso de você. Só que não nessas condições. Precisamos de você sóbrio. Sei que não é fácil aguentar. Mas é necessário.
O outro suspirou, percebendo que estava certo. Só precisava de um jeito de não pensar em seu pai. Aquela foi a pior maneira de fazer aquilo, reconhecia. Ainda não tinha bebido o suficiente para perder seu raciocínio, sabia muito bem o que fizera.
Levantou-se e jogou o copo numa lixeira próxima, dando um pequeno sorriso para Pete.
- Obrigado - sussurrou.
- Só estou fazendo o melhor, Patrick.
Juntos caminharam de volta. O mundo ao redor parecia lento e embaçado. Era como se nada mais importasse além deles. Patrick estava atrás de algo que o deixasse longe dos problemas que aconteciam. A questão era que não percebeu que o que buscava estava ao seu lado o tempo todo.

Astronaut ●Peterick●Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang